Inaugurada
em 21 de abril de1960 pelo presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira,
Brasília teve o desenho inicial do urbanista e arquiteto Lucio Costa. Pensou
ele que o centro abrigaria os poderes da República e seria "fechado"
no Plano Piloto e, melhor ainda, na Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três
Poderes. Mas a migração e a chegada de operários para a construção de prédios e
edifícios de apartamentos fez as autoridades abrir espaços novos nas assim
chamadas cidades-satélites, posteriormente definidas como regiões
administrativas (RAs) para efeito da governança distrital.
O
primeiro núcleo, fora do centro, foi Taguatinga, inaugurada em 1958, antes
mesmo do ato inaugural da capital federal. Para esse povoamento, foram
deslocados os operários e membros da administração federal de nível salarial
inferior aos dos altos escalões federais. Foram eles beneficiados com lotes
doados como prêmio de consolação. Isso deveria ser para compensar os
deslocamentos diários de cerca de hora e meia de viagem no estilo
centro-periferia - à época em estradas poeirentas de chão batido. Os
deslocamentos centro-periferia tinham a mesma conotação e semelhança das
maiores metrópoles brasileiras.
Taguatinga
ensejou outros povoamentos como Gama e Sobradinho, próprios para funcionários
federais e distritais, fato que resultou em ocupações por mim denominadas de
núcleos múltiplos ou estelares, espalhadas no território do Distrito Federal
(DF). A eles já haviam sido incorporadas as cidades pré-existentes, Planaltina,
que era município goiano, e Brazlândia, distrito de Luziânia, ambas
incorporadas ao DF como cidades-satélites após 1960.
A
essas localidades se juntaram outras, como a maior delas, Ceilândia, formada
por 82 mil habitantes de comunidades próximas ao Núcleo Bandeirante, como a
Vila Sara, Vila Tenório, Morro do Querosene etc. Tal como foi escrito em
Brasília, ideologia e realidade — Espaço urbano em questão, de 1985, onde se
poderá ler artigo meu A metrópole terciária. A capital do Brasil seguiu no rumo
da expansão, estando muito superior ao que foi imaginado em 1960.
Agregue-se
que essa obra é a primeira de muitas outras coletâneas que tratam
especificamente de Brasília em seus múltiplos aspectos, conotações e problemas,
todos com sugestões a respeito de soluções possíveis de serem implementadas. A
essa coletânea, que inicialmente foi editada no Projeto de São Paulo, em 1985,
e, posteriormente, incorporada à Coleção Brasília, da Editora da Universidade
de Brasília. Outras coletâneas se seguiram a essa com o mesmo escopo — a
evolução, estruturação e consolidação de Brasília.
Brasília
foi se tornando uma grande cidade, hoje com estimativa de quase 3,1 milhões
habitantes. Se agregarmos as cidades com limites do DF (Entorno), a população
chegaria a mais de 4 milhões de habitantes. Em razão de a estimativa poder se
aproximar da população existente, Brasília acaba sendo a terceira grande
metrópole brasileira, segundo o IBGE, apenas superada em volume populacional
por São Paulo e Rio de Janeiro, que são cidades seculares que foram se
agigantando ao longo dos séculos.
Voltando
ao tema do título, precisamos definir Brasília porque muitos pensam ser ela
apenas coincidente com o Plano Piloto de Brasília, ou seja, com o núcleo
histórico, idealizado para ser ele a capital do Brasil. Pergunta-se: o que
deveriam ser os demais centros, como Ceilândia, com estimados 350 mil
habitantes, ou Taguatinga, com mais de 200 mil moradores? Segundo as Empresa de
Correios e Telégrafos (ECT), essas localidades são bairros. Se assim fossem realmente
consideradas, se evitaria a dubiedade da denominação satélites. A centralização
das atividades federais e distritais no Plano Piloto deve levar a algumas
confusões, pois esses núcleos habitacionais possuem vida própria, tendo
comércio e algumas indústrias, que não caberiam no núcleo central. Essa
evolução demanda a esta altura uma necessária descentralização de atividades e
serviços.
Ademais,
a concentração dos postos de trabalho no centro obriga deslocamentos diários
(commuting) aos que exercem atividades remuneradas, procuram serviços ou
exercem algum tipo de trabalho no Plano Piloto. Isso mostra certa evolução de
cidade que já não corresponde ao que imaginado no fim da década de 1950. E
mais: Brasília precisa ser conceituada porque, com o passar dos anos, se
modificou, inicialmente pelas migrações e, atualmente, com o crescimento
vegetativo ou aumento populacional gerado internamente pelos habitantes. A meu
juízo, a capital do Brasil é constituída por todos os centros urbanos do DF ou,
dito de outra forma, Brasília é o somatório do núcleo central, o Plano Piloto
de Brasília, com os bairros geograficamente afastados, componentes do todo
urbano do DF.