Lizbel é professora da rede pública de ensino do DF e leciona em uma
escola da periferia para uma turma de crianças com 9 anos. Mesmo antes do
bombardeio das propagandas na televisão para vender chocolates, ela havia
olhado no calendário de Athos Bulcão e registrado, mentalmente, que estava
chegando a Páscoa. Resolveu passar em uma loja e comprar, com muita
antecipação, 40 ovinhos para os alunos.
No meio do caminho, lembrou-se da turma de cozinheiras, que prepara o
lanche com tanto carinho para a garotada da escola e acrescentou mais 10 ovos
de chocolate. Mas como esquecer o pessoal que trabalha na secretaria?, pensou
ela. De repente, ficava chato, eles saberiam que as cozinheiras receberam e
poderia ferir suscetibilidades. Ela bancou mais 10 ovinhos.
Os dois filhos, uma de 9 anos, e outro, de 5, a lembraram de que
precisavam dar chocolates para as suas respectivas professoras. E ela comprou
caixinhas para cada uma delas. Todavia, a história não parou por aí. A garota
estuda ginástica rítmica, e o garoto faz bateria. Além disso, os dois jogam
capoeira em um grupo em escolinha da Asa Norte. Foi preciso uma provisão extra
de chocolate para os mestres e para os colegas de turma.
Não entregaram os presentes de qualquer maneira. Tudo era marcado por
pequenos rituais de afeto. Lizbel colocou os alunos para fora da sala, avisou
que o coelhinho havia deixado lembranças para cada um deles, escondeu saquinhos
com guloseimas e os chamou de volta para procurar. Foi uma tremenda algazarra.
É preciso de pouco para as crianças fazerem uma festa.
Com esmero, os filhos confeccionaram caixinhas desenhadas e colagens do
coelhinho da Páscoa personalizadas. Os mimos provocaram sustos de felicidade em
todos os lugares. As cozinheiras da escola ficaram surpresas e lhe deram abraços
arrochados: “Só você mesmo para se lembrar de nós”. O professor de capoeira
ficou comovido e mandou um áudio: “Sensacional tudo, os chocolates, o capricho
da caixinha, os desenhos do cartão e a surpresa. Pensei que eu faria a festa,
mas foram vocês que fizeram. Muito obrigado mesmo!”
Lizbel ficou eletrizada com a reação de alegria dos agraciados.
Reconstituía cada detalhe, agradecimento, abraço, mensagem, olhar, palavra ou
falta de palavra. Ao fim, de acréscimo em acréscimo de chocolates, Lizbel fez
as contas e constatou que havia gasto mais de 10% do salário de professora com
ovos de Páscoa. E, apesar disso, não recebeu nenhum, nem um mísero ovinho de
presente.
Mas não se importou, estava tocada, radiante e energizada pelas reações dos que ela brindou com os mimos da Páscoa. Na verdade, não foi ruim, ponderou, pois estava fazendo dieta, não resistiria à tentação do chocolate e, nesta semana, perdeu dois quilos. Os instantes de felicidade que proporcionou não têm preço. Torrou parte do salário, doou e, no entanto, se sentiu a mais agraciada de todos.