Deus, segundo a Bíblia, criou o
mundo e nele depositou a espécie humana ou homem, conforme à imagem e
semelhança do próprio Criador. Em Gênesis 1:26-28, está escrito: “Façamos o
homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do
mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a Terra e sobre
todos os pequenos animais que se movem rente ao chão. Multipliquem-se, disse
Deus. Encham e subjuguem a Terra.” E foi isso exatamente o que a espécie humana
fez, ao subjugar, para o bem e para o mal, todo o planeta e dele se servindo,
para sobreviver e se desenvolver como espécie. Nesse sentido, o homem tem em
Deus o seu Criador. Do mesmo modo, ao se desenvolver, o homem buscou imitar Deus,
criando a máquina. Nesse ponto, o homem torna-se também o deus criador da
máquina, utilizando-a para seu proveito.
Ao soprar em suas narinas, Deus
deu ânimo ou uma alma à sua criação. Também em Gênesis 2: 7-25 está escrito: “E
formou o Senhor Deus o homem do pó da Terra, e soprou em suas narinas o fôlego
da vida; e o homem foi feito alma vivente.”. Da mesma forma, o homem, para dar
“vida” ou uma “alma” à sua criação (máquina), desenvolveu primeiro o
combustível a vapor, depois o motor à explosão, a eletricidade e outros
catalizadores mais atuais. Tudo num gesto típico de imitação ao Deus Criador.
Da criação da máquina a vapor, durante a chamada Revolução Industrial, na
segunda metade do século XVIII, até a invenção e o desenvolvimento dos
primeiros computadores, entre os anos 1943 e 1946, com a denominada Eletronic
Numerical Integrator and Computer (ENIAC), foi um ”pulo”, em termos de tempo
histórico de evolução. Daí então, para o desenvolvimento dos robôs, da
computação quântica, até a tão propalada Inteligência Artificial (IA), deu-se
também num pulo rápido. Eis aí o ponto em que nos encontramos agora, com o
homem buscando tornar sua criação, conforme à sua imagem, conforme à semelhança
da espécie.
Ocorre que, na história e no
enredo do desenvolvimento humano, é preciso dar sentido à criação da IA, de
modo que ela não venha, no futuro, dispensar o próprio homem, descartando-os
como muitos ainda fazem hoje em dia em relação ao Deus Criador. É, nesse
momento que a expressão latina, de origem grega, Deus ex machina, ou o Deus
surgido da máquina, entra em cena, podendo dar um fim inesperado a toda a trama
humana, quiçá até em destruí-la. Não se trata aqui de ficção, mas de uma
realidade que preocupa, agora, diversas personalidades pelo mundo afora, todas
elas envolvidas, direta ou indiretamente, nos projetos de Inteligência
Artificial. Para tanto, esse grupo de visionistas, que inclui desde o
bilionário Elon Musk, dono da Tesla, o historiador Yuval Harari, autor de best
seller como “Sapiens, uma breve história da humanidade” ou o “Homo Deus”, além
de personalidades como Sam Altman, CEO da OpenAI Startup que criou o chatGPT e
outros, estão pedindo, agora, por meio do site ~~ ( “futureoflife.org” ),
que se faça uma moratória de, ao menos, seis meses, para que haja discussões
mais aprofundadas e mesmo regulamentações de segurança sobre o desenvolvimento
da IA, tendo em vista as múltiplas repercussões que essa tecnologia trará para
a humanidade.
Não se trata aqui de um alerta
sem propósito ou sensacionalista, mas de uma advertência com profundas e sérias
razões. Da mesma forma que os homens criaram e desenvolveram as armas de
destruição em massa, capaz de fazer explodir todo o planeta, também a IA, para
muitos pensadores e protagonistas dessa epopeia, vem alertando sobre os riscos
para a humanidade trazidos por esse tipo de avanço, tanto para a democracia,
como para o fim de muitas profissões, com riscos ainda para perda do controle
de toda a civilização.
Para esse grupo, a humanidade está
próxima de um ponto de inflexão a que chamam de “singularidade”, quando as
máquinas passam a adquirir e despertar consciência. É o nascer da consciência
das máquinas, sua autonomia e sua provável rebelião contra a espécie humana.
Anos atrás, o então físico Stephen Hawking já alertava para os perigos no
desenvolvimento de robôs e de da própria IA, dizendo que essa revolução
implicaria também um sério risco às sociedades humanas.
Em 2014, numa entrevista
concedida à BBC, Hawking, disse, com todas as letras, que o desenvolvimento da
Inteligência Artificial poderia significar o fim da raça humana. “Máquinas
pensantes ameaçam a existência humana”, disse ele, ao lembrar que os humanos,
limitados pela evolução biológica lenta, não conseguiriam competir com a IA e
seriam desbancados. O risco maior está naqueles países que não respeitam e
mesmo desprezam fatores como a ética científica e, portanto, irão se lançar no
desenvolvimento dessa tecnologia, para dominar, ainda mais, seus próprios
cidadãos e, posteriormente, dominar outras nações.
A singularidade desse momento,
não só no sentido do despertar da consciência das máquinas, mas também no que
toca à esse instante ímpar em que temos que decidir que rumo tomaremos pela
frente, pode significar desde um avanço, em direção à árvore da maçã proibida,
até a uma nova expulsão do paraíso e um retorno às cavernas. Ou nem isso.
Alceu Brito Corrêa,
Anabe Lopes da Silva, Ariosto Teixeira, Chico Pôrto, Elisa Carneiro, Ézio
Pires, Guido Heleno, Herbert Lago Castelo Branco, Hilan Bensusan, Jorge
Amâncio, José Edson dos Santos, José Roberto da Silva, Lourdes Teodoro, Luís
César Sousa, Maria Maia, Marcos Freitas, Mauro Moncks, Menezes y Morais, Nando
Potyguara, Nara Fontes, Nonato Freitas, Nonato Véras, Olivia Maria Maia, Paulo
José Cunha, Salomão Sousa, Reginaldo Gontijo, Roberta Almeida de Souza
Cruz, Samuel Barros Magalhães, Vanessa Teodoro Trajano, Varadero e
Wagner Srestras. BRASILIDADE tem fotografias de Edmilson Figueiredo.