Nunca
visitei o deserto, mas, quando cheguei em Brasília, me disseram que o clima
daqui, no meio do ano, é parecido com o de lá. Escassez de chuvas, altas
temperaturas ao longo do dia, um friozinho à noite e as queixas recorrentes à
aridez. Eu já não reclamo muito. Problemas sérios com a seca, nunca tive. Sinto
mais sede, a pele ressaca um pouco, algumas situações respiratórias surgem,
mas, particularmente, desconheço essa sensação comum de ter o nariz sangrando.
Aprecio
esta época do ano. Arrisco mencionar que até prefiro. Gosto de uma chuvinha e
comemoro quando aquele aroma peculiar começa a desabrochar, anunciando, com os
cantos das cigarras, as primeiras gotas que caem lá por setembro. A respiração
melhora, o calorão ameniza, o gramado vai voltando a ficar verdinho, mas o
período chuvoso que se arrasta ao longo dos meses me angustia. Prefiro, sim, a
seca que muitos condenam.
A
partir de maio, Brasília se torna mais aberta. Sem o cinza das precipitações,
mesmo com os efeitos adversos no corpo, as pessoas adotam cores mais alegres. A
estiagem traz, sim, revezes respiratórios e cutâneos e o aumento dos incêndios
florestais. Mas há que se valorizar o quanto se ganha vida.
É
por agora que se inicia o calendário dos grandes eventos que a chuva atrapalha.
Como o Taste Brasília, encontro de gastronomia que ocupou por dois fins de
semana o Pontão do Lago Sul; o Funn Festival, que está movimentando a Praça das
Fontes; e o Na Praia, que trará a atmosfera litorânea para a capital a partir
de junho. A temporada de festas juninas está aberta e há uma lista tão robusta
de atividades externas programadas que é impossível citar neste artigo.
Contudo,
não é preciso que haja um evento monumental para que o brasiliense usufrua a
vida ao ar livre. É neste período que percebemos o quanto a natureza
brasiliense é convidativa para deixarmos os iglus onde hibernamos quando chove.
Ontem, por exemplo, o sol estava de rachar mamona e os eixos, os parques e o
Lago Paranoá estavam em clima festivo. Famílias, grupos de amigos, casais
apaixonados e indivíduos em voo solo tomaram conta dos espaços sem paredes.
Seja para caminhadas, pedaladas, piqueniques ou mergulhos, é nesta fase de
trégua pluvial que Brasília crava sua marca de cenário propício à diversão a
céu aberto.
Não
reclame do clima de deserto. Pegue seu camelo, hidrate-se bem, use filtro solar
e vá em busca de um oásis. Visite um parque de manhã, refresque-se no lago à
tarde, contemple o pôr do sol na praça do Cruzeiro e, à noite, reúna-se com uma
galera para tomar um vinho no gramado de alguma quadra. Ocupe a cidade e não
perca a oportunidade de fotografar cada mudança de cor dos ipês. Vamos curtir o
que esta seca tem de melhor a oferecer, enquanto a chuva não volta, trazendo
todo seu frescor e umidade.