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"Fundo Constitucional do DF é uma causa nacional", defende Sarney

Entrevista: José Sarney - Ex-presidente da República. Para o ex-chefe do Planalto, a vocação de Brasília é ser a capital. Por isso, o poder federal tem responsabilidade com investimentos e a manutenção do DF. (“Fundo Constitucional é uma causa nacional”)

 

Com a autoridade de ter exercido todos os principais cargos políticos brasileiros — presidente da República, presidente do Senado e do Congresso, deputado federal e senador — José Sarney enxerga os ataques ao Fundo Constitucional do DF como parte de uma “incompreensão do significado da capital”.

 

Em entrevista ao Correio, Sarney, que acaba de completar 93 anos, tendo passado mais da metade de sua vida em Brasília, diz que há uma “má-vontade” em relação ao Fundo Constitucional. Nesta semana, ao aprovar o arcabouço fiscal, a Câmara dos Deputados em maioria endossou o relatório do deputado Cláudio Cajado (PP-BA) que alterou a correção anual dos repasses federais para as áreas de saúde, segurança e educação.

 

A expectativa de técnicos é de que ao longo dos anos o Fundo Constitucional perca sua força de custeio e investimentos em serviços públicos fundamentais. Para Sarney, preservar Brasília deveria ser uma causa nacional. “Uma Brasília forte faz parte da unidade nacional”, acredita o ex-presidente. (Leia, a seguir, o ponto de vista de Sarney sobre a capital federal.)

 

Acredita que Brasília sofre um ataque orçamentário pela falta de compreensão de parte dos políticos a respeito de prerrogativas da cidade como capital do país? Brasília está tendo uma dose de má vontade nas áreas de decisão. Numa parte política existe mesmo uma incompreensão do significado da capital. A arquitetura extraordinária abafou a visão da importância do Distrito Federal e o que ele representa.

 

O 8 de janeiro criou no país um sentimento de que Brasília faz pouco pela segurança dos Poderes da República e recebe uma quantia elevada dos cofres públicos federais? Brasília se ressente de ausência de um plano antidistúrbios. Esse fato atinge a segurança. As sedes dos Poderes são indefesas. O 8 de janeiro mostrou isso. O objetivo político só se realizou pela certeza da vulnerabilidade.

 

Até hoje, 63 anos depois de sua inauguração, Brasília ainda sofre questionamentos por ser a capital. Acha que foi um erro instalar a capital no centro do país? Jamais. Essa mudança fazia parte dos ideais da independência, expressos claramente nas palavras de José Bonifácio, o Patriarca. Os resultados são claros. Brasília consolida a Federação e é o centro de expansão do desenvolvimento agrícola.

 

Como o senhor vê o futuro de Brasília? Um país da dimensão do Brasil tem que ter uma capital que represente não só a sua arquitetura extraordinária em beleza, como um centro de expansão nacional, uma grande cidade de um grande país destinado ao grupo de liderança mundial. Crescer, crescer, crescer é o seu destino.

 

Por que Brasília ainda não conseguiu desenvolver uma vocação fora do serviço público ou comércio e serviços para, aos poucos, conquistar a autonomia financeira? Porque seu objetivo não é de centro econômico, mas de comando político do país. Daí a responsabilidade federal e o investimento no Distrito Federal. Não desvincular Brasília de capital do país, Distrito Federal.

 

São mais de cinco décadas morando aqui. De onde vem esse sentimento de pertencimento em relação a Brasília? Fui o primeiro parlamentar a mudar-me do Rio para Brasília, para a nova Câmara, já que era deputado federal. Passei mais da metade de minha vida em Brasília. Gosto de Brasília. Amo Brasília. 40 anos de senador, cinco de deputado federal, cinco de presidente e vice-presidente da República.

 

Atacar o Fundo Constitucional é preconceito com a capital? Há uma má vontade formada contra o Fundo Constitucional. Deve ser desfeita e tornar-se uma causa nacional. Uma Brasília forte faz parte da unidade nacional.


Ana Maria Dubeux – Ana Maria Campos – Foto:  Marcelo Ferreira/CB – Correio Braziliense




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