Ordem
e Progresso é o lema da bandeira, inspirado no Positivismo, para orientar a
nova forma de governo republicano em fins do século 19. Representa o
compromisso com a ciência para melhorar as condições de vida do povo. Dada a formação
histórica do Brasil, sua diversidade étnica, compreende-se a preocupação com o
avanço civilizatório e os ideais republicanos, que pareciam tão remotos e ainda
se afiguram para muitos inatingíveis. Essas aspirações pressupõem conhecimento,
educação, organização social e política. O Brasil tem logrado conquistas
indiscutíveis, mas devem ser estruturais e sistêmicas para que o binômio não
seja associado a algo efêmero e a visões imediatistas.
Se
a monarquia tivesse abolido a escravidão com a Independência, em 1822, como
defendia José Bonifácio, teria mudado os destinos do país. Quando a sociedade é
capaz de enfrentar e corrigir seus problemas, de compreender os desafios e
estudar sua solução, evita prejuízos incalculáveis. O mérito da cidadania e da
democracia reside no debate e no planejamento que contribui para a ordem e o
progresso, condições que legitimam a autoridade constituída. Dentre os governos
reconhecidos pela capacidade de planejar e promover o desenvolvimento,
destaca-se o do presidente Juscelino Kubistchek (1956-1961).
Além
da construção de Brasília, definiu no seu Plano de Metas 30 objetivos,
organizados em cinco setores (energia, transporte, indústria, educação e
alimentação) para melhorar a infraestrutura, a economia e as condições de vida.
No quinquênio, o PIB do Brasil cresceu 8,1%, em média anual, tornando-se uma
das economias com maior crescimento no mundo e um índice de investimento de 16%
(FBCF). A participação do setor industrial no PIB saltou de 24,1% para 32,5%,
enquanto a da agropecuária, apesar do aumento dap rodução, caiu de 24,3% para
17,8%. O Brasil começou a exportar bens industriais de alto valor agregado.
O
plano contribuiu para a integração territorial. As obras de infraestrutura
estimularam a expansão da produção do aço, veículos automotores, à
agroindústria. O Brasil passaria de importador a um dos maiores exportadores
mundiais de alimentos. Mas o mérito de Juscelino residia também em promover a
convergência política e obter apoio à então polêmica mudança da capital. Ao final
de cada ano, em rede nacional de televisão, prestava contas do andamento das
obras e do atingimento das metas.
Em
suas memórias, JK sugere que, na administração de um país grande e complexo
como o Brasil, não basta vontade política se não for acompanhada de
planejamento estratégico. Brasília não nasceu do improviso. Beneficiou-se de
programas de governos anteriores e do diagnóstico e aconselhamento de missões
econômicas que precederam a eleição de Juscelino. A ideia em si foi defendida
por José Bonifácio na Constituinte de 1823. Acabou incluída na Constituição da
República de 1891 e ganhou dispositivo mandatório na Constituição de 1946.
O
mundo de hoje é digital. A tecnologia acelerou o conhecimento e o
empreendedorismo. Vivemos numa era de transformações climáticas e desafios
planetários. É o tempo da realidade virtual, da inteligência artificial, da
automação e da rivalidade e competição entre grandes potências que ameaçam a
ordem internacional. A transição para uma economia de baixo carbono tornou-se imperativo
global e um desafio para o Brasil. Representa também oportunidade para a
reindustrialização com base em bens e serviços eficientes e com menos emissões.
Trata-se
de uma economia do conhecimento, que demanda investimentos em educação e
capacitação, em ciência e tecnologia, e diálogo com os países mais avançados no
domínio dessas técnicas. Por isso, é importante que o projeto nacional
considere o cenário internacional sob a ótica da oportunidade e da cooperação.
O Brasil deve renovar-se para elevar sua produtividade e competitividade,
criando as condições para o progresso que permitirá vida digna e segura aos
brasileiros e contribuirá para a sustentabilidade e a segurança no plano
global. Inspirado no legado de líderes como JK, não nos faltarão estímulos nem
parceiros nessa empreitada de construção das novas metas para o futuro do
Brasil e da humanidade. Mas é preciso visão e método para superar os
obstáculos, alcançar os ideais republicanos e honrar a divisa da bandeira.