"Eu não sou de resistir, eu sou de reexistir. A conjuntura atual mudou. Então, você tem que passar a ver as coisas de outro ângulo. E num ângulo em que a minha idade e vivência de 80 anos me inspira. Tudo que está estocado é provocado".
Famosa nas redes sociais, a célebre frase de José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, sempre me fez refletir sobre a nossa existência, o que lutamos e como precisamos nos reinventar. Gênio do teatro, crítico arrojado e incentivador de tantos artistas, Zé Celso nos deixou ontem e entra para a história como um dos grandes nomes da cultura brasileira das últimas sete décadas.
Uma das grandes vantagens de trabalhar em uma redação é conseguir acompanhar de muito perto, inclusive com acesso a informações de bastidores, o trabalho de gênios como Zé Celso. Expoentes da sociedade sempre fazem parte das pautas e de conversas entre colegas do jornal. A arte e a luta em defesa da democracia marcaram gerações e graças às plataformas digitais, como o YouTube, continuarão vivas entre nós. Diversos espetáculos montados pelo Teatro Oficina estão disponíveis na íntegra no canal do grupo.
O Rei
da vela, um filme de 1982 dirigido ao lado de Noilton Nunes, foi uma das
primeiras obras do artista a que tive acesso. Lançado nos extertores da
ditadura militar, a obra mescla cenas da peça de Oswald de Andrade, filmada em
1971, com imagens de arquivo numa montagem intermidiática. Há pitadas de
documentário e também de ficção, que culminam em uma sátira contestadora da
sociedade. Entre os personagens interpretados por Renato Borghi, José Wilker,
Esther Góes, entre outros, há milionários decadentes e capitalistas corruptos e
implacáveis. Não deixa de ser um tema bem atual.
Relembrar
Zé Celso é reviver a cultura brasileira. Ao mesmo tempo, no entanto, fico
triste com a falta de conhecimento de expressiva parcela da população sobre o
dramaturgo. Boa parte dos comentários dos internautas nas postagens do Correio
nas redes sociais mostra como são necessários mais recursos e incentivos para
democratizar o acesso ao ambiente teatral. "Quem é ele?",
questionavam vários usuários nas publicações sobre o legado do artista.
Zé
Celso não era apenas um dos maiores nomes do teatro brasileiro, mas, sim,
mundial. Como bem lembrou uma colega de redação, ele conseguiu levar Os
Sertões para os palcos. Quem leu o livro de Euclides da Cunha sobre a
Guerra de Canudos sabe bem que parece ser uma tarefa praticamente impossível.
Evoé,
Zé Celso! Um grande artista brasileiro!