As
paixões têm o poder de transformar chatices em shows apoteóticos; rabiscos em
obras de arte singulares; deslizes graves em falhas imperceptíveis. No futebol
é assim. Geralmente o enredo não tem muita importância diante do placar
favorável ao time do coração. Foi assim na final da Copa do Brasil, disputada
ontem entre São Paulo e Flamengo, e que acabou com a vitória do tricolor
paulista, uma vez que o time carregou para casa a vantagem e garantiu o título
com um empate em jogo morno. De brilhante, apenas o golaço de Rodrigo Nestor.
Mesmo assim, os registros pela televisão dos torcedores que acompanhavam a
partida nos diversos estados do país eram de vigor e alvoroço. As torcidas do
Flamengo em Macapá e do São Paulo em Teresina, e no próprio Morumbi, pareciam
estar diante de lances inenarráveis, de puro talento e beleza, a cada minuto.
Já nos acréscimos do segundo tempo os torcedores do tricolor não conseguiam
conter as lágrimas. Mérito de Dorival Júnior, que de certa forma vingou a
passagem conturbada pelo rubro-negro.
Os problemas e vexames na lista do time carioca, inclusive, se acumulam e
crescem como dívidas no cartão de crédito. Já não é possível contar nos dedos
de uma mão as polêmicas deste ano, incluindo casos graves de agressão, para os
quais a mera discussão administrativa se mostra insuficiente.
A crônica esportiva é um dos clássicos do gênero, e talvez seja o estilo que o
tenha ajudado a se consolidar pelo país. Desde os textos escritos e impressos
no papel, aos falados e ditados nas rádios e nas televisões em cadeia nacional.
Não é um perfil que eu domine, até porque meus conhecimentos sobre o esporte
passam longe de serem apurados e, ultimamente, acompanhar com assiduidade, até
mesmo as partidas do time do coração, se tornou uma tarefa difícil, quando não
monótona diante das peculiaridades do jogo. Em resumo: sou uma torcedora
fajuta.
Mas, diante da repercussão da disputa, achei que seria interessante fazer
singela homenagem aos mestres do gênero e resgatar o jeito menos técnico e
talvez mais apaixonado de falar de futebol. A frieza dos últimos parágrafos
contradiz essa versão, evidentemente. Vou guardar as paixões para os momentos
de mais emoção.
E lembro, para jogar um balde de água fria nos devotos de tantos times, que a
paixão pode ser má conselheira. Pensar com clareza em como ajustar os ponteiros
de uma equipe para fazer jus a uma nação de torcedores é o caminho para
tornar-se o real orgulho dela em todos os momentos, e não apenas nos mais
apaixonantes.