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Artigo: Gal, eterna

Artigo: Gal, eterna. Naquele certame, Gal, assumidamente bossanovista, numa mudança radical, atacou de roqueira ao soltar a voz de forma contundente e transgressora e cantar


Ao assistir Meu nome é Gal, o comovente filme sobre a trajetória de uma das mais reluzentes estrelas do universo da música popular brasileira, deparei-me com alguns acontecimentos e situações, ali retratados, que presenciei quando ocorridos e que ficaram guardados na minha memória afetiva.


Naquele certame, Gal, assumidamente bossanovista, numa mudança radical, atacou de roqueira ao soltar a voz de forma contundente e transgressora e cantar: "É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte". Não custa lembrar que, naquela época, o Brasil vivia sob o jugo da ditadura militar. Meses depois, foi decretado o famigerado Ato Institucional nº 5, que impunha limitações aos brasileiros no dia a dia.


Logo em seguida, a cantora baiana se transformaria na musa da Tropicália. Depois da partida de Caetano Veloso e Gilberto Gil para o exílio em Londres, imposto pelo general de plantão que ocupava a Presidência da República, ela ficou no Brasil como representante do movimento. Eu me recordo de quando, emocionado, ouvi no rádio, pela primeira vez, London London, de Caetano, cantada por ela.


Mas só em 1971 é que, finalmente, tive a oportunidade de assistir a um show da dona da voz mais cristalina da MPB. Não foi um show qualquer, e sim o mítico Fa-Tal, apresentado no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, no Rio de Janeiro.


Desde então, mantive-me atento à trajetória de Gal, ouvindo seus discos — o Fa-Tal (gravado ao vivo) sempre esteve entre os meus preferidos — e, claro, assistindo aos shows.


Em 1973, estava na primeira fila do Teatro da Escola Parque, para aplaudi-la na estreia em Brasília, ao cumprir turnê de lançamento do LP Índia.


Três anos depois, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia comemoraram uma década de carreira com o concerto Doces Bárbaros, no ginásio Nilson Nelson. O grande momento foi quando os quatro juntavam as vozes em Esotérico, composição de Gilberto Gil.


Em 1979, ela voltou à cidade com o Gal Tropical, que lotou a Piscina Coberta (hoje Ginásio Cláudio Coutinho).


O sorriso do gato de Alice foi outro show que Gal fez aqui na capital, mais precisamente na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, em outubro de 1994. Certamente quem estava na plateia vai se recordar de Brasil (Cazuza), que levou a estrela a exibir os seios ao interpretá-la. 


Um recital em homenagem a Tom Jobim foi outro espetáculo que "a mãe de todas as vozes", como a chamou Nando Reis, trouxe para o brasiliense. Isso ocorreu em 1999, no Expocenter do Parque da Cidade, no qual revisitou canções bossanovistas. Estratosférica, um dos último shows de Gal Costa no DF, teve como palco o auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Na celebração dos 50 anos de carreira, mas ainda em plena forma, ela deixou os fãs encantados ao exibir extensão vocal em Força estranha: "Por isso uma força, me leva a cantar/ Por isso essa força estranha no ar/ Por isso é que eu canto, não posso parar/ Por isso essa voz tamanha...". Deixava claro, definitivamente, que era detentora da mais bela voz da MPB.


Irlam Rocha Lima - Foto: NatallyAndressa/Divulgacao) – Correio Braziliense




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