O
volume da produção de café no Distrito Federal cresceu 11% em 2022, rendendo
mais de mil toneladas do grão na região, segundo a Emater-DF (Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal). Ao CB.Agro —
parceria entre Correio e TV
Brasília — desta sexta-feira (27/10), a professora e produtora de
cafés especiais, Núcia Cenci, explicou que a produção do DF tem atingido níveis
de excelência em qualidade e já rivaliza com estados como Minas Gerais e
Espírito Santo — que têm tradição centenária na cafeicultura. Segundo
Núcia, a qualidade do café local se deve à aplicação de pesquisas e tecnologias
na produção, como estudo do solo e do clima, seleção de variedades produzidas e
seleção de grãos, que garantem, também, uma produção rentável, se aplicados
corretamente.
“Você
precisa escolher a terra, o local onde você vai plantar, com bastante cuidado,
(assim como) o próprio tipo de café, porque hoje em dia as tecnologias vêm para
agregar valor. Aquilo que é muito produtivo em Minas, pode não ser aqui. As
grandes empresas investem nisso, tudo isso tem que ser observado: que tipo de
grão você vai plantar, que tipo de café você vai cuidar e qual café você quer
ofertar. Isso é extremamente importante para que você, num futuro, tenha
produtividade", pontua.
A produtora ainda completa sobre o longo período em que o café precisa para ser colhido. "O café você não planta como a soja, que planta hoje e daqui 4 meses está produzindo, não. Você trabalha com ele (durante) três a quatro anos para que ele te dê um retorno. É um investimento alto, e esse investimento tem que dar um retorno. Já pensou, plantar uma variedade e ela não produzir? E daqui quatro anos você descobrir que ela não te dá rentabilidade, que não é adequada para o clima e solo do Distrito Federal? Então isso precisa ser estudado, e você tem empresas e pessoas capacitadas e gabaritadas que você precisa consultar”, explicou. (Vídeo ~~~)
“A
gente faz um controle rigoroso para saber tudo o que usa. (O café) é irrigado,
então a gente faz um controle hídrico, o controle de pragas é feito. Nós temos
o período de plantio, depois o de colheita, o de secagem, depois vai para um
processo de seleção dos grãos, que são várias etapas. Eu só trabalho com os
melhores grãos da minha safra, porque quando você colhe, você vai colher de
tudo, e aí as suas máquinas é que vão fazer essa separação dos melhores grãos,
no caso, especificamente para a minha marca. Então essas etapas têm que ser
obedecidas, têm que ser rigorosas para que a gente realmente chegue a uma
pontuação boa”, defendeu.
Apesar
de ter empresas privadas como os maiores contribuintes em tecnologias, Núcia
ressaltou o trabalho da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
no desenvolvimento de variedades de grãos específicas para o desenvolvimento no
Cerrado, buscando maior qualidade da produção.
“A
gente precisa bater palmas para a Embrapa, porque ela é precursora nessa
questão de busca de qualidade e de melhorias. Os estudos deles devem ser
extremamente valorizados. A Emater-DF dá aquela assistência técnica, mas
especificamente na parte do café, o nosso maior contribuinte são as empresas
privadas, que estão sempre trazendo tecnologias novas para auxiliar nessa
produtividade, investimentos em pesquisa, e aí a Embrapa tem esse papel
importante também”, afirmou.
Para
a produtora, as feiras e exposições agrícolas no DF são imprescindíveis para
aproximar a população da realidade agrícola da região, que afirmou ser muito
mais vasta e distribuída do que normalmente se imagina. Para ela, esses eventos
têm um importante papel de disseminação da cultura agrícola do DF e da produção
de café.
“Essas
feiras, a Agrobrasília, a Coffee Week, que vêm acontecendo, trazem produtores,
baristas, entre outros, mas dão visibilidade e mostram para a população de
Brasília que a cidade tem mais a oferecer do que só a parte administrativa. Ela
tem uma agricultura forte, uma cultura forte e tem mulheres por trás desse
trabalho”, ressaltou Núcia.
Representatividade
feminina: Apesar de ainda ser um ramo de predominância masculina, Núcia
contou que a agricultura, e mais especificamente a cafeicultura, tem despontado
na representatividade feminina.. Ela explicou que as mulheres têm conquistado maior
respeito e reconhecimento no meio por conta de resultados, os quais atribuiu ao
que chamou de “olhar clínico diferenciado” delas.
“Às
vezes eles (homens) têm um pouquinho de resistência em aceitar algumas
sugestões, acham que não vai dar certo, e de repente eles começam a perceber
que esse nosso olhar diferenciado pode surtir efeito. Você está sempre tentando
provar que é boa. A gente conquistou muita coisa, graças a Deus, mas é uma
conquista diária, sabe? Você precisa estar sempre provando que vai fazer bem
feito, e tanto é verdade que eu consegui alavancar a nossa marca e ela está
progredindo. Estamos participando de feiras, o nosso café está entrando no
mercado, as pessoas estão começando a conhecer e a gostar do café local”, disse
Núcia.