O Distrito Federal, principalmente o Plano Piloto, tem prédios que necessitam
de cuidados especiais, por conta de sua idade, muitos com 60 anos ou mais. O
Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF), junto ao Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-DF), apoia a Câmara Legislativa (CLDF)
na criação de uma lei que obrigue a inspeção periódica dessas construções.
Especialistas ouvidos pelo Correio, apontam que a principal causa de patologias
estruturais está ligada à falta de manutenção preventiva na estrutura dos
edifícios, tanto por parte do governo quanto dos síndicos e responsáveis, nos
casos dos residenciais.
Especialista em patologia de edificações, pavimentações e barragens pelo
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
(Coppe/UFRJ), Dickran Berberian afirma que prédios de locais como as asas Norte
e Sul, precisam ser tratados como uma pessoa. “As obras de Brasília não são
mais ‘crianças’ e nem ‘adolescentes’. São ‘senhoras’, de 50 anos, que
necessitam de manutenção para ter uma qualidade de vida boa”, avalia.
A grande maioria dos desabamentos, dos prejuízos e dos aborrecimentos que têm
acontecido, de acordo com Berberian, deve-se à falta de manutenção. “O Brasil,
apesar de ser um grande construtor e ter a engenharia tão boa e segura quanto a
do exterior, falha nesse quesito”, lamenta. “Tanto os governantes quanto os
construtores, não fazem um plano para isso”, aponta.
Inspeções: Em relação aos prédios da Asa Sul, o patologista
ressalta que eles têm boa estrutura. “O concreto é bom e não tenho encontrado,
nas minhas pesquisas, análises e inspeções, prédios com estrutura ruim. O que
ocorre, são falhas de manutenção”, reforça. Na Asa Norte, no entanto, ele
aponta que o lençol freático é a grande preocupação. “É preciso atravessá-lo
para fazer as fundações. A sondagens, às vezes, não alcançam a profundidade
necessária, por ter uma camada de rocha muito dura”, observa. “Isso dificulta o
trabalho e, por isso, precisa tomar um pouco mais de cuidado. Não é tão grave
e, tomando os cuidados, vai ficar tudo bem”, complementa.
O especialista faz uma observação sobre a situação dos prédios de Águas Claras.
“Lá, existem terrenos variados, um volume muito rápido de construção e,
portanto, alguns zelos foram deixados de lado”, alerta. “Por isso, tem
acontecido uma maior incidência de patologias, por falta de manutenção
preventiva”, acrescenta Berberian — em maio do ano passado, trincas em pilares
de dois andares usados como garagem, em um prédio da região, preocupou os
moradores.
Vida útil: Vice-presidente do Sinduscon-DF, Renato
Cortopassi ressalta que Brasília está ficando velha e a vida útil dos prédios,
principalmente no Plano Piloto, está chegando ao fim. “No concreto armado,
existe um ‘prazo de validade’, que é de cerca de 50 anos”, avalia. “Só que
existem vários fatores que diminuem a durabilidade e o que garante que ela seja
a máxima possível, é a manutenção periódica”, comenta.
O que preocupa o Sinduscon-DF, de acordo com o vice-presidente da entidade, são
os prédios mais antigos e altos. “Também existe a preocupação com os prédios
ilegais. Em Vicente Pires, recebi várias demandas de problemas estruturais, por
conta da forma de construção e da falta de manutenção”, lamenta. “Falta
fiscalização, para que as obras cumpram aquilo que as normas regulam”, aponta.
Cortopassi reforça que, em alguns municípios do Brasil, existe uma lei que
obriga a inspeção, conforme a idade do prédio. “Em Brasília, não existe essa
legislação específica, por isso, o Sinduscon-DF, junto ao Crea-DF, apoiou um
projeto de lei na Câmara Legislativa do DF, que está em fase de criação, para
que o mesmo ocorra nos prédios públicos e privados da capital”, revela.
Precauções: Dickram Berberian ressalta que, em uma
obra, o que faz desabar ou gera prejuízos, são as fissuras. “Se o problema é na
fundação, ela gera fissuras na estrutura e é fácil de examinar. As fissuras de
até 3 milímetros, geralmente, são inofensivas”, comenta. “Porém, precisam ser
supervisionadas, porque podem, com o tempo, crescer e passar para trincas,
rachaduras, até gerar o desabamento”, pondera.
Por isso, segundo o especialista, a dica para os síndicos, responsáveis e
proprietários, é que façam a manutenção frequente. “Assim que perceber qualquer
sintoma, não negligencie. Chame o especialista em patologia das construções”,
alerta. “Além disso, é preciso lembrar que a drenagem do prédio é de
fundamental importância. A água só é bem-vinda no concreto armado na hora de
fazer a mistura do cimento. Mesmo assim, se utilizada em excesso, gera um
concreto fraco, poroso e suscetível à corrosão”, ressalta.
Olhar atento: Wahby Khalil, 43 anos, é síndico de um
condomínio vertical em Águas Claras, há três anos. Ele conta que sempre se
preocupa com possíveis problemas estruturais que possam ocorrer. “Dentro do meu
escopo de trabalho, tenho um engenheiro contratado, que assina todos os laudos
técnicos necessários, para que haja uma boa reforma e não tenha nenhum problema
no futuro”, comenta.
Além disso, Khalil destaca que o especialista confere aquilo que está sendo
feito pela empresa que foi contratada para executar o serviço. “Todo dia tem
obra para ser executada, pois sempre tem moradores passando problemáticas. É
por isso que é importante ter esse engenheiro, justamente para fazer vistorias
periódicas, apontando aquilo que é necessário ser feito com certa urgência”,
avalia.
Para o síndico, a maior dificuldade é na hora aprovar a obra. “É difícil
conseguir juntar o número de proprietários ou pessoas que tenham a autorização
do proprietário para responder legalmente sobre a unidade”, ressalta.
Presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Patrícia Carvalho dos Santos
afirma que não enxerga nenhuma posição do GDF, em relação à manutenção dos
prédios públicos. “Falta manutenção. A gente não entende por que não tem um
plano de prevenção em algumas construções”, reclama. Em relação aos edifícios
residenciais, ela ressalta que existem manutenções constantes. “O conselho
orienta os síndicos e prefeitos para que eles estejam em dia com as questões
estruturais”, reforça Patrícia.
Monitoramento: Em nota, a Secretaria de Estado de
Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) disse que pode atuar em obras que
estejam em situação de risco de duas maneiras. “A primeira delas é notificando
a construtora com o pedido de laudo pericial, feito por engenheiro registrado,
para identificar problemas estruturais. Normalmente, se dá um prazo de até
cinco dias e, de posse desse documento, a DF Legal lavra nova notificação para
que os problemas apontados sejam sanados”, detalhou. “Nos casos de riscos
estruturais muito evidentes, a pasta pode interditar o local por risco. Em
ambos, a DF Legal também aciona a Defesa Civil, conforme determinado no Código
de Obras”, complementou a nota.
A Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), vinculada à Secretaria de
Segurança Pública (SSP-DF), informou que realiza o monitoramento das estruturas
dos edifícios, por meio de inspeções regulares. “Durante essas inspeções, são
feitas verificações detalhadas, com o objetivo de identificar quaisquer
patologias que possam representar riscos de colapso ou ameaçar a segurança de
terceiros”, ressaltou a Defesa Civil. A subsecretaria disse ainda que, após o
monitoramento, elabora relatórios que são encaminhados aos órgãos competentes.
"As obras de Brasília não são mais ‘crianças’ e nem
‘adolescentes’. São ‘senhoras’, de 50 anos, que necessitam de manutenção para
ter uma qualidade de vida boa” (Dickran Berberian, especialista
em patologia de edificações)