Não é de hoje que parte da
imprensa e alguns operadores da Justiça têm chamado a atenção para o lento e
progressivo movimento do crime organizado em direção à máquina do Estado, não
só em instâncias como o legislativo municipal, estadual e federal, mas nas
esferas do Judiciário e no próprio Poder Executivo. Trata-se de um processo que
não começou agora, mas que vem ganhando intensidade à medida em que essas
organizações crescem em poderio e em eficiência como qualquer grande empresa.
A sofisticação e os métodos de
ação vão se aprimorando a cada mudança no comando desses grupos. As novas
gerações de criminosos, alguns com formação universitária, enxergam esses
negócios com olhos de empresários e sabem que o melhor a fazer, nesses tempos
de tecnologia avançada, é organizar-se com métodos e critérios, criando
ramificações no lado sadio da sociedade, sem que ninguém perceba.
Obviamente que, para essa
empreitada, o primeiro passo é qualificar seus integrantes, financiando seus
estudos, contratando gente especializada nos diversos ramos de atividade
empresarial e tudo mais. O passo seguinte é adentrar a máquina do Estado, instalando-se
no coração do poder. Para isso, financiam candidatos a diversos cargos
públicos. Em seguida, partem para cima da atividade política, financiando
candidatos comprometidos com essas atividades ilícitas ao mesmo tempo em que
impedem outros candidatos de concorrer na vasta área dominada pelo crime
organizado.
Como o próprio nome diz, o crime
organizado vai, a exemplo dos bicheiros, abandonando as antigas atividades
ilícitas e buscando novos negócios mais lucrativos e mais diversificados.
Noutra ponta, os criminosos partem diretamente para o suborno de autoridades e
mesmo de juízes, comprando a liberdade entre outros benefícios. Para os que não
aceitam suas ofertas, os criminosos ameaçam e matam.
Não são poucos os juízes do
nosso país que necessitam de segurança armada 24 horas por dia, dormindo cada
noite num local e vivendo uma vida de prisioneiro de fato. Também a imprensa
tem mostrado que não são poucos os casos de juízes apanhados vendendo sentenças.
A transformação do Brasil em corredor internacional do tráfico de drogas e
armas, facilitado pela imensidão de milhares de quilômetros de fronteiras secas
e pouco vigiadas, deu aos integrantes das diversas quadrilhas do crime
organizado, insumos fartos para suas atividades ilegais.
O crescimento e a lucratividade
desse tipo de negócio são facilitados e até insuflados pela leniência com que o
poder público lida com a questão. Leis de progressão de regime, saidinhas,
visitas íntimas, bolsas concedidas aos familiares de presos, liberalização das
drogas, advogados não revistados e muitas outras aberturas e facilidades são
postas à serviço da bandidagem, em nome de uma falsa humanização dos
condenados.
Mas é, na política nacional,
principalmente aquela parte que vive à base do toma lá, dá cá, dos orçamentos
secretos e dos escândalos rotineiros, que os neófitos oriundos do mundo do
crime, também chamados de colarinhos novos, encontrarão os adversários à altura
de suas ousadias.
Aí, nesse Olimpo, terão muito o
que aprender para chegar ao status de um autêntico colarinho branco, intocável,
impávido e impoluto. O problema com essa infiltração do crime organizado no
mundo da política é que, nesse novo ambiente, nem os maiores especialistas do
planeta em criminologia saberão quem é quem.