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Homens no janeiro branco

Homens no janeiro branco.

A maioria das pessoas começa o ano vestindo branco. É como se estivessem diante de um portal entre ciclos que se fecham e que se abrem, e a cor simbolizasse estarem em paz, tendo apagado tudo de ruim, lavado e escorrido todas as mágoas, abrindo-se para o novo, dispostas a escreverem uma nova história, colorindo de esperanças e bons propósitos as páginas da vida. 


É nesse período que fazemos reflexões acerca do sentido de tudo o que vivemos, nossas relações, desejos, objetivos e expectativas, como que realizando um balanço da própria existência. O que para algumas pessoas pode ser uma oportunidade para planejamento, reconhecimento dos equívocos, percepção das inconstâncias e assunção de novos paradigmas de perfeição, para outras pode representar angústia, agonia e desespero. 


O fato é que a simples mudança de ano não elimina todo o histórico de estresse e cobranças pessoais, sendo comum, numa era da imediatidade e aparências, as pessoas desenvolverem quadros de ansiedade, depressão e pânico, isso sem falar da recorrência de traumas, abuso de substâncias, os transtornos de humor, esquizofrenia e bipolaridade, sendo certo que o sofrimento emocional, associado ou não a um transtorno mental, pode ser prevenido ou atenuado. 


Assim, janeiro é o mês de uma campanha que tem por objetivo chamar a atenção para as questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional.


Admitir as próprias fragilidades provavelmente seja uma das mais comuns dificuldades humanas, mas posso afirmar que para os homens talvez seja pior. Obviamente não quero aqui diminuir os sofrimentos femininos nem perpetuar estereótipos de gênero, mas tão somente destacar algumas questões masculinas pouco faladas, esclareça-se desde logo, antes que pedras voem. 


Pois bem, invariavelmente os homens são cobrados desde cedo a alcançarem sucesso acadêmico e profissional e se tornarem provedores da própria vida e da sua família. Talvez por isso, ao perderem o emprego ou até mesmo ao se aposentarem, muitos deles entram em crise da própria identidade, ante a profunda identificação que constroem com o papel que desempenham. 


Some-se isso às cobranças de perfeição, exigências de acerto constante, expectativas de desempenho sempre crescente e ultimatos de resolução solitária dos próprios problemas, o que acaba ocasionando uma sensação de estranheza e inadequação ao se sentirem incapazes de enfrentar as condições particulares que se apresentam. Poucos são os afortunados que possuem algum ombro em que se apoiar e podem ser ouvidos empaticamente, sendo compreendidos, sem julgamentos, sobre o que se passa nesse universo masculino pouco visitado. A maioria sofre sozinha mesmo. 


É sempre bom reafirmar que procurar ajuda especializada não é sinal de fraqueza, mas sim de coragem. Os diversos quadros emocionais e mentais possuem abordagens terapêuticas diferentes, sendo certo que todas as abordagens visam acolher, reconhecer, tratar e acompanhar o paciente.


Por outro lado, o autocuidado também é importante. É meio óbvio, mas de vez em quando é preciso lembrar que não temos o controle de tudo e que as coisas acontecem por fatores também imprevisíveis. Assim, ter cautela com as expectativas e criar metas planejadas, divididas em etapas e factíveis, com prazos razoáveis e flexibilidade nos ajustes ajudam a evitar frustrações e sofrimento emocional.


O exercício de auto-observação, realizado com generosidade e reconhecimento dos esforços também minimizam as cobranças por perfeição e infalibilidade, ajudando na percepção de que as prioridades mudam e as adversidades são comuns em quaisquer das opções.


É também importante fazer atividades que tragam satisfação. Momentos de lazer, prática de hobbies, esportes ou atividade física propiciam bem-estar psíquico são ótimas estratégias para lidar com o estresse, além de bons hábitos alimentares e melhoraria dos padrões de sono.


Enfim, é sempre bom identificar as emoções, reconhecer o fluxo de pensamentos que as acompanham, comunicar os sentimentos e necessidades, focar nas ações possíveis e procurar ajuda. 


Isso vale para todas as pessoas, mas principalmente para os homens. Tanto em janeiro quanto em todo o ano.


Danilo Fontenelle, juiz federal da 11 vara/Ce; doutor em Direito pela Puc/Sp.





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