Começar
o ano cuidando do corpo é uma iniciativa mais que louvável diante de números
crescentes de obesidade no Brasil e no mundo. Mas a saúde mental também precisa
de atenção desde já. Não foi à toa que seus organizadores escolheram este mês
para iniciar a campanha Janeiro Branco.
A
data foi estrategicamente pensada porque o primeiro mês do ano costuma promover
nas pessoas maior abertura para reflexões, novas resoluções e metas para o ano
que se inicia. A cor branca representa as folhas ou telas em branco, em que uma
pessoa pode desenhar, escrever ou reescrever o que desejar para si e para o
mundo, simbolizando o horizonte aberto e criando o sentimento de potência
ilimitada que cada início de ano possibilita à humanidade.
Não
há como negar que a disseminação do coronavírus seja uma espécie de divisor de
águas, quando o assunto é saúde mental, ou melhor, doença mental. Foi a partir
de 2020 que as pessoas foram afetadas com a pandemia da covid-19, responsável
por provocar medos, incertezas e uma crise sem precedentes na saúde mental
de grande parte dos brasileiros. Em praticamente três anos de pandemia, as
pessoas deixaram de ser biopsicossociais para se isolarem em seus mundos,
deixando as portas abertas para a solidão, a intolerância, a introspecção e a
tantos outros sentimentos negativos.
Dados
da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que já são mais de 350 milhões de
pessoas, de todas as idades, que sofrem com a doença. O Brasil assumiu a
liderança do ranking da ansiedade, com 18,6 milhões de pessoas ansiosas e 11,7
milhões deprimidas. Isso demonstra o que muitos especialistas afirmam: o Brasil
está vivenciando a pandemia dos transtornos mentais.
Criada
em 2014, completando portanto 10 anos, a campanha Janeiro Branco, que já é Lei
Federal (Lei 14.556/23), foi elaborada pelo psicólogo Leonardo Abrahão,
presidente do Instituto Janeiro Branco, e relaciona a saúde mental às
interações humanas. O tema deste ano é "Saúde mental enquanto há tempo. O
que fazer agora?" e a ideia é chamar a atenção para a saúde mental como um
aspecto vital para melhorar a qualidade de vida das pessoas, promover relações
sociais mais saudáveis e transformações positivas nas instituições sociais no
mundo inteiro.
Prova
da amplitude do movimento é que países como Angola, Colômbia, Japão, Estados
Unidos, Portugal, Espanha e Cabo Verde abraçaram e adotaram os princípios da
campanha, superdimensionando seu impacto e promovendo durante todo o mês de
janeiro a conscientização sobre o tema em escala global.
Não
basta apenas mobilizar a sociedade em torno das doenças mentais, mas sim
sensibilizar as autoridades políticas a respeito da importância de políticas
públicas para a saúde da mente. "Cuidados individuais, atitudes
institucionais e políticas públicas", defendem os especialistas em saúde
mental.
Que
2024 seja mesmo o ano da colheita, do aprendizado, da evolução e da maturidade,
como dizem os astrólogos de plantão. E que possamos cuidar da saúde mental uns
dos outros.