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Saudade do Feitiço

Saudade do Feitiço. O último show no espaço ocorreu em 30 de dezembro passado. A cidade perde mais um local de encontro de grandes artistas locais e do restante do país, para tristeza dos frequentadores


O clima era de desolação ao final da apresentação do bandolinista Ian Coury, em 30 de dezembro último, no Feitiço das Artes. Aquele foi o último show, no mix de bar, restaurante e casa noturna, que, ao acolher artistas locais e de outras regiões do país, transformou-se em referência nacional.


Criado em 1989, pelo saudoso Jorge Ferreira, um professor e sociólogo amante da literatura e da música, originalmente como Feitiço Mineiro, o espaço, na 306 Norte, acolheu projetos e apresentações isoladas inesquecíveis. Foi lá, por exemplo, onde os acordes violonísticos do eterno mestre Baden Powell — parceiro de Vinicius de Moraes nos célebres afro-sambas — foram apreciados num recital memorável.


Por aquele palco passaram, por exemplo, Mônica Salmaso, Claudete Soares, Cláudia Telles, Maria Alcina, Mart'nalia, Teresa Cristina, Cláudio Nucci, Tunai, Papete, Paulinho Tapajós, Clodo Ferreira, Jaime Ernest Dias, Lúcia de Maria, Sandra Duailibe, Janette Dornellas, os grupos Friends, Let it Beatles, Geriatric Blues Band e Três no Brega.


Na primeira metade de década de 2000, a produtora artística Sônia Alves promoveu ali o Gente do Samba, projeto que trouxe à capital, praticamente, toda a velha guarda do samba, representada por Nelson Sargento, Elton Medeiros, Monarco, Nei Lopes, Wilson das Neves, Wilson Moreira Almir Guineto e Dona Ivone Lara e Tia Surica.


Em 2014, para celebrar os 25 anos do Feitiço, Jerson Alvim produziu uma série de shows com os sócios do Clube da Esquina. Os espectadores puderam aplaudir Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Wagner Tiso e Flávio Venturini. Tavinho Moura e Fernando Brant, juntos, foram os que mais se apresentaram naquele palquinho, com o recital Conspiração dos poetas, marcado pela informalidade. O único, entre os sócios do movimento que trouxe modernidade à MPB, no fim da década de 1970, foi Milton Nascimento, embora tenha recebido várias homenagens.


Por tudo o que aconteceu musicalmente, pela deliciosa culinária e pelos preciosos painéis de fotos nas áreas interna e externa — imagens de artistas que se apresentaram na casa —, o Feitiço deixará muita saudade. A lembrança das canções, que ecoaram por aquelas paredes e adjacências, porém, com certeza se manterão vivas na memória afetiva de muita gente.


Irlam Rocha Lima – Correio Braziliense




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