A
explosão de violência no Equador, nosso vizinho de América do Sul, traz dois
recados para o Brasil. O primeiro é que combater a violência, o narcotráfico e
os grupos criminosos organizados é urgente. É preciso ter coragem para, com o
uso intensivo de inteligência policial e das melhores ferramentas tecnológicas,
exterminar as organizações criminosas que atuam com tráfico de drogas, roubo de
cargas, pirataria e, muitas vezes, atuam como verdadeiras máfias que
aterrorizam moradores e vendem proteção contra si mesmas. Além disso, um total
controle das fronteiras é essencial. Nossas fronteiras são como peneiras por
onde passam drogas, armas, contrabando e criminosos em busca de ambiente mais
favorável para suas fugas.
O
segundo recado tem a ver com a estabilidade econômica. O Equador, assim como a
Argentina, dolarizou sua economia. A aparência de estabilidade de uma economia
lastreada no dólar esconde a fragilidade dos controles financeiros que esse
movimento traz. O dólar permite transações internacionais com mais agilidade e
menor controle, facilitando a lavagem de dinheiro, tornando o país atrativo
para organizações criminosas transnacionais.
O
Equador era um país razoavelmente seguro, mesmo sendo vizinho da Colômbia e do
Peru, dois dos maiores produtores de drogas do planeta, especialmente a
cocaína. A Colômbia trava, há décadas, uma sangrenta guerra contra grupos
criminosos, responsáveis pelo tráfico de drogas, e terroristas, em muitos casos
financiados pelos próprios cartéis de drogas.
Ao
dolarizar sua economia, o Equador passou a ser atrativo para grupos criminosos
internacionais. Atualmente, estima-se que cerca de um terço da cocaína
colombiana saia da América do Sul rumo aos Estados Unidos por meio de portos
equatorianos. Dois dos maiores grupos criminosos do país, segundo autoridades
locais, recebem apoio financeiro e armas de cartéis de drogas mexicanos. Há,
ainda, no Equador outros grupos estrangeiros atuando, como dissidentes de
cartéis colombianos e até um grupo criminoso dos Balcãs chamado pela polícia do
Equador de "máfia albanesa".
A
dolarização econômica do Equador foi adotada em 2000, seis anos depois do Plano
Real, que estabilizou a economia brasileira. Ainda que o Brasil e o mundo
tenham mudado muito em 30 anos, a estabilidade econômica trazida pelo Plano
Real — uma das políticas públicas reconhecidas pelos brasileiros como uma das
mais importantes de nossa história, segundo pesquisa recente do Ipespe sob
encomenda da Federação Brasileira de Bancos(Febraban) —, nos deixa, por
enquanto, livres da tentação da dolarização de nossa economia. No entanto, não
somos imunes a situações que possam nos levar a um caos na segurança pública
como esse do Equador.
Temos
no Brasil facções criminosas — algumas, inclusive, já internacionalizando suas
operações— que precisam ser combatidas com muito mais rigor que hoje. É preciso
exterminar esses grupos criminosos, tirando do jogo seus líderes, asfixiando
financeiramente suas atividades lícitas e impedindo o funcionamento das
ilícitas.
Fortalecer
nossas forças policiais é urgente. Policiais precisam de equipamentos,
tecnologia e garantias legais para atuar no combate à criminalidade dentro dos
limites constitucionais, seja nas cidades, no campo ou nas fronteiras. Os
policiais precisam de salários dignos para deixarem suas famílias em casa e
irem às ruas enfrentar o jogo pesado da criminalidade. Uma revisão legislativa
para aumentar o rigor na execução das penas impostas pelo Judiciário também
precisa ser discutida.
Os
brasileiros não querem que nosso país se torne um local atrativo para a
criminalidade internacional. Precisamos de medidas efetivas, muito mais
agressivas que as atuais, para melhorar a segurança pública no Brasil.