O
crime nos tira um pedaço do PIB. É o que nos avisa o FMI. Cálculo do Fundo
Monetário Internacional mostra que, se o Brasil tivesse índice de criminalidade
apenas igual à média mundial, avançaria no mínimo 0,6 pontos porcentuais no
Produto Interno Bruto, isto é, o equivalente a R$ 65 bilhões em bens e
serviços. Isso sem contar a perda de 40 mil vidas por ano e o medo
generalizado. Nosso número é de 19 homicídios por 100 mil habitantes. A média
mundial é de menos de 6 por 100 mil. Regiões antes de comércio movimentado nos
centros do Rio e de São Paulo estão abandonadas, de portas fechadas, por causa
de roubos e saques. A falta de segurança afasta investidores, como atestam os
últimos números. Ao contrário do Brasil, em El Salvador está sendo demonstrado
que segurança pública é um excelente investimento político.
O
presidente que foi implacável com o crime, encheu prisões e limpou as ruas foi
reeleito com estrondosa margem de 85%, além de ter como aliados 58 dos 60
congressistas. Na primeira entrevista, provavelmente perguntado com referência
ao Brasil e Lula, Nayib Bukele disse que El Salvador está resolvendo esse
problema por vontade política. “Isso se aplica ao Brasil e a qualquer parte do
mundo.” Perguntado se havia tratado sobre isso com o presidente Lula,
respondeu que conversou algumas vezes com ele, mas que Lula nunca tocou no
assunto segurança pública. “Imagino que ele terá sua forma de abordagem da
situação.” E repetiu que o problema tem solução se houver vontade política.
Admitiu que El Salvador e Brasil podem ter diferenças, mas, quando um país não
resolve o seu problema, é porque não há vontade de resolver.
Depois,
Bukele tocou num ponto: “Muitas vezes não resolvem porque são sócios dos
delinquentes. Se atacar o crime, perde um sócio de seu negócio. O exemplo de El
Salvador serve para qualquer país do mundo”. Aí a gente constata o que
aconteceu também com México, Colômbia e Equador, com o crime e a política
mancomunados. Hoje, no Brasil, há duas correntes: O ministro da Justiça e
Segurança afirmando que a origem do crime é a exclusão social e o
encarceramento, versus três governadores – Goiás, Minas e São Paulo – e o
presidente do Congresso trabalhando para eliminar as saidinhas, para
manter fora das ruas os agressores da sociedade, acreditando que ser criminoso
é uma questão de desvio de caráter. O objetivo é o projeto de lei aprovado na
Câmara por 311 votos, que se arrasta no Senado há um ano e meio. Parece que aí
falta a “vontade política” mencionada por Bukele.
Se
o encarceramento faz o criminoso, os presos do 8 de janeiro estariam sendo
transformados em criminosos nos presídios de Brasília? E se a exclusão social é
que faz o criminoso, por que tantos incluídos engravatados são os criminosos
descobertos na Lava Jato? É preconceituoso julgar que um excluído
socialmente, isto é, pobre, tenha de ser, por isso, criminoso. A pregação
oficial dos últimos dias é por não prender autores de pequenos furtos, como é
no Supremo a não criminalização de traficantes de pouca quantidade de droga.
Isso significa não interferir no aprendizado dos futuros grandes criminosos.
Começa-se por deixar furtar; depois, deixar roubar; por fim, deixar matar.