De
tempos em tempos, alguém resgata a histórica (e controversa) entrevista
concedida em 1979 pelo presidente Lula à revista Playboy. E o motivo é sempre o
mesmo: sua admiração confessa por figuras nefastas como Hitler, Che Guevara,
Fidel Castro, Mao Tsé-Tung e o Aiatolá Khomeini.
A
conversa com o jornalista Josué Machado, que ocupou 13 páginas da edição de
julho da publicação mensal da editora Abril, poderia ter ficado para trás e se
tornado apenas um registro de outros tempos na vida do petista. Mas, 45 anos
depois, Lula segue apoiando ditadores, autocratas e outros líderes sanguinários
do mundo.
Essa
atração pelo lado errado marcou os seus dois primeiros mandatos na Presidência
da República e tem se acentuado no terceiro. Só em 2023, o ex-metalúrgico se
encontrou com chefes de Estado de 13 (número sugestivo, não?) países com
regimes questionáveis do ponto de vista da democracia ocidental.
A seguir, selecionamos os trechos da entrevista em que Lula fala desses “ídolos” perversos. E relembramos por que eles deixaram um legado de corrupção, pobreza e mortes.: Playboy – Há alguma figura de renome que tenha inspirado você? Alguém de agora ou do passado?
Lula
– Há algumas figuras que eu admiro muito, sem contar o nosso Tiradentes e
outros que fizeram muito pela independência do Brasil. (…) Um cara que me
emociona muito é o Gandhi. (…) Outro que eu admiro muito é o Che Guevara, que
se dedicou inteiramente à sua causa. Essa dedicação é que me faz admirar um
homem.
A
ação e a ideologia? Não está em jogo a ideologia, o que ele pensava, mas a
atitude, a dedicação. Se todo mundo desse um pouco de si como eles, as coisas
não andariam como andam no mundo.
Inimigo
da democracia e da imprensa livre, o argentino Ernesto Che Guevara (1928-1967)
tomou o poder em Cuba, ao lado de Fidel Castro, às custas de uma lista
infindável de crimes. Responsável por diversas execuções de adversários, ele
também fundou campos de trabalho forçado e chegou a assumir, em uma carta para
seu pai, que realmente gostava de matar.
Alguém
mais que você admira? O Mao Tsé-Tung também lutou por aquilo que achava
certo, lutou para transformar alguma coisa.
Autointitulado:
“O Grande Timoneiro”, Mao Tsé-Tung (1893-1976) fundou a República Popular da
China e a governou durante 27 anos (só deixou o poder ao morrer). Além de
confiscar bens, aprisionar opositores e tentar apagar todo o passado cultural e
religioso de uma nação, o ditador foi responsável por cerca de 70 milhões de
mortes – muitas delas causadas pela fome.
Diga
mais… Por exemplo… O Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num
homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer.
Quer
dizer que você admira o Adolfo? Não, não. O que eu admiro é a disposição,
a força, a dedicação. É diferente de admirar as ideias dele, a ideologia dele.
Estima-se
que o austríaco Adolf Hitler (hoje comparado por Lula ao Estado de Israel)
causou a morte de 12 milhões de pessoas na Europa durante a Segunda Guerra
Mundial. E não perseguiu, confinou e exterminou apenas judeus: seus alvos
também incluíam ciganos, homossexuais e indivíduos com deficiências físicas e
mentais.
E
entre os vivos? O Fidel Castro, que também se dedicou a uma causa e lutou
contra tudo.
Tirano
de Cuba entre 1959 e 2008 (quando deixou o poder em função de problemas de
saúde), Fidel Castro (1926-2016) é considerado o líder da ditadura mais letal
das Américas. De acordo com um estudo coordenado pelo cientista político
Rudolph Joseph Rummel (1932 - 2014) e publicado em 1987, o regime castrista
pode ter matado entre de 35 mil a 141 mil cidadãos cubanos até aquele ano.
Mais...Khomeini.
Eu não conheço muita coisa sobre o Irã, mas a força que o Khomeini mostrou, a
determinação de acabar com aquele regime do Xá foi um negócio sério.
No
novo Irã, já foram mortas centenas de pessoas. Isso não abala a sua admiração
pelo Khomeini? Ninguém pode ter a pretensão de governar sem oposição. E ninguém
tem o direito de matar ninguém. (…) É preciso fazer alguma coisa para ganhar
mais adeptos, não se preocupar com a minoria descontente, mas se importar com a
maioria dos contentes. (...) Acho que o importante é fazer a coisa de forma que
não sobre argumento para ninguém ser contra.
Em
1979, depois de destituir o xá pró-Ocidente Mohammed Reza Pahlavi, o aiatolá
Ruhollah Khomeini (1902-1989) fundou uma teocracia cujo legado ecoa em todo o
planeta até os dias de hoje – vide o papel central do Irã na atual crise do
Oriente Médio. Durante seus 11 anos de governo, o “líder supremo” da Revolução
Islâmica acumulou um amplo histórico de violações dos direitos humanos, que
incluíram prisões injustas, execuções, torturas e abuso sexual. Mais de 20 mil
iranianos, a maioria jovens, foram mortos nesse período.
Entrevista
de 1979 ainda traz declarações polêmicas sobre sexo, feminismo e
política: “Luiz Ignácio da Silva, o Lula, tornou-se mais conhecido no país
e no exterior do que muitos políticos ou artistas brasileiros. Essa fama,
porém, só começou há pouco mais de um ano, quando os metalúrgicos de São
Bernardo e Diadema, em São Paulo, entraram em greve liderados por ele”, diz o
texto de abertura da entrevista para a Playboy, que também conta com algumas
histórias e opiniões no mínimo curiosas reveladas pelo futuro presidente, então
com 34 anos.
Primeira
vez: “Me iniciei com mulher, claro! (...) Eu fui numa dessas casas
em São Paulo, levado por um amigo. Achei bom para cacete (...) Mas naquele
tempo a sacanagem era muito maior do que hoje. Um moleque naquele tempo, com
10, 12 anos, já tinha experiência sexual com animais. O mundo era mais livre.”
Feminismo: “Eu
respeito as mulheres que pretendem lutar por sua independência. Mas não sei que
tipo de independência elas querem. Se é sexual, se é no trabalho. (...) Não há
condições de uma dona de casa, mãe de três filhos, ser feminista [referindo-se
à mulher, Marisa Letícia].”
“Viuvinhas”: “Um
dia, não sei por quê, contei a um taxista que eu era viúvo. Então ele me contou
que tinha uma nora muito bonita, e que o filho tinha sido assassinado três
meses antes do casamento. (...) E eu pensava: ‘Qualquer dia eu vou papar a nora
desse velho’. (...) Nessa época a Marisa [Letícia, sua segunda mulher] apareceu
no sindicato. Ela foi procurar um atestado de dependência econômica para
internar o irmão. Eu tinha dito ao Luisinho, que trabalhava comigo no
sindicato, que me avisasse sempre que aparecesse uma viuvinha bonitinha. Quando
a Marisa apareceu, ele foi me chamar.”
Leitura: “Eu
leio os jornais e converso muito. Aprendendo com o dia a dia, em contato com os
problemas que a gente enfrenta. Eu ganho muitos livros, mas sou preguiçoso para
ler. Quando muito, leio o prefácio, deixo para depois e acabo não lendo.”
Caetano
e Gil: “Eu não gosto, não. Não é o tipo de música que me agrada. Mas acho
que a música que eles fazem ajudou a modificar alguma coisa. Mexe muito com o
pessoal mais jovem. Só que eu não perco tempo ouvindo.”
Um
novo partido: “A gente quer criar um partido para todos os que vivem de
salário, não só operários, mas para todos os que trabalham. (...) Tem uns
companheiros que estão fazendo contatos (...). Com o Fernando Henrique Cardoso,
o Chico de Oliveira, o Jarbas Vasconcelos... Senadores mais progressistas do
MDB, o pessoal de atitudes mais coerentes. Mas nada definido ainda. Temos de
conversar com várias pessoas para reunir um grupo disposto a organizar um
partido onde a classe trabalhadora predomine.”