Em
primeiro lugar, criam um factoide. Disseminam na base eleitoral o medo
infundado do comunismo ou do imperialismo. Depois, cooptam os militares,
oferecem postos do governo, despejam regalias e "compram" uma
fidelidade quase canina. Então, se municiam de muitas fake news, uma forma
tacanha de manter o controle dos apoiadores: a manipulação pelo medo. Dominam
as redes sociais com inverdades e tergiversações. Questionam, de modo
insistente, a lisura das eleições. Ou até mesmo sabotam o processo de registro
das candidaturas, permitindo que apenas seus correligionários ou adversários
políticos sem qualquer expressividade disputem o pleito. Também criticam de
maneira contumaz — ou mesmo proíbem — a participação de observadores
internacionais, sob a mascarada alegação de violação da soberania. Se não
conseguem o domínio absoluto dos demais Poderes da República, fazem malabarismo
para colocar a população contra o Legislativo e o Judiciário e criam a
narrativa da perseguição política. Esculhambam com a imprensa e a tratam como
inimiga, um subterfúgio para esconder seus malfeitos.
À
zero hora de ontem, venceu o prazo para o registro dos candidatos às eleições
presidenciais na Venezuela, uma clássica ditadura. O regime de Nicolás Maduro
impediu a inscrição da chapa encabeçada pela filósofa e professora Corina
Yoris, escolhida por María Corina Machado depois da inabilitação política da
ex-deputada, que era a candidata de consenso da oposição. Maduro seguiu à risca
parte das ações elencadas no parágrafo anterior do texto. Sem nenhum apego à
democracia, também silencia os opositores e reprime protestos nas ruas sem se
importar em derramar sangue. Tudo sob a desculpa de proteger a Venezuela das
garras do imperialismo e de impulsionar um pseudosocialismo criado por Hugo
Chávez. Enquanto isso, a população mingua de fome e de desesperança.
Pelo
que tudo indica, por pouco não conseguiram implementar um regime semelhante no
Brasil. Graças a trapalhadas, que incluíam ataques públicos às urnas, reuniões
abertamente golpistas nos palácios do Planalto e da Alvorada e retórica
ameaçadora contra o Supremo Tribunal Federal, o plano conspiratório nasceu
morto no Brasil. Principalmente porque o Exército não quis aventurar-se em uma
loucura inconsequente e imprevisível. Se na Venezuela o fantasma era o
imperialismo do Tio Sam, no Brasil o bicho-papão foi o comunismo — ainda que
tenha ruído com a cortina de ferro há décadas.
É
preciso que o Brasil e outras nações se preservem e afastem o risco de seguirem
a cartilha de Nicolás Maduro. Por muito pouco não estivemos com a democracia
ferida de morte. Que as instituições se mantenham sólidas e os poderes,
independentes e harmônicos. Que qualquer tentativa de atentado contra o Estado
Democrático de Direito seja punida nos mais rigorosos termos da lei. Devemos
isso aos torturados, aos desaparecidos e aos mortos durante a ditadura. Devemos
isso ao futuro do Brasil. E à nossa sanidade.