É sabido que a falta de
identidade, não só programática, mas, sobretudo, a moral e ética dos partidos
políticos em nosso país, tem sido um dos principais motivos não só para afastar
os cidadãos dessas legendas, mas, e principalmente, um fator a mais para
torná-los instituições que, fora dos períodos eleitorais, parecem subsistirem
distante, muitas léguas, da realidade nacional e mesmo mundial.
Para o eleitor comum, nem mesmo
os bilhões de reais, de origem pública, despejados nas mais de 30 legendas
existentes, quer sob a forma de fundos eleitoral e partidário, tiveram o condão
de trazê-los para junto da população. Existem, pois, legendas demais e pouco
engajamento cívico. A razão básica para esse verdadeiro divórcio existente
entre os partidos políticos e os eleitores pode ser debitada à característica
estrutural dessas legendas, que mais se parecem clubes ou empresas, devotados a
interesses dos filiados internamente.
O fato dessas legendas terem um
dono ou cacique, que, ao fim e ao cabo, é quem indica os candidatos que serão
apresentados ao eleitor, as descaracteriza como instituições abertas e de
relevância pública. Não bastasse a pouca conectividade com o dia a dia dos
eleitores, as agremiações, por questão de sobrevivência ou de interesse dos
caciques, resolveram se diluir, ainda mais, com chamadas federações de
partidos.
Com isso, a pouca identidade que
diferenciava uma legenda da outra perdeu totalmente as raízes e o sentido.
Amalgamadas num coletivo amorfo de partidos, elas conseguiram transformar o que
já era insípido, numa espécie de formigueiro, onde todos possuem a mesma
carantonha.
Um caso típico dessa união,
capaz de diluir, por completo, o que restava de identidade partidária, pode ser
conferido com a junção do Partido Verde (PV) ao Partido dos Trabalhadores (PT).
O Partido Verde surgiu formalmente na Austrália, em 1972, e encontra-se
estabelecido em mais de 120 países, sendo hoje a quarta maior bancada dentro do
Parlamento Europeu.
Num tempo em que as questões
ambientais ganharam maior atenção em todo o mundo, por causa das mudanças
climáticas e do risco iminente de extinção da espécie humana, o PV tem, sob seu
discurso e razão de existir, uma causa que é, talvez, a mais importante e
urgente de toda a nossa história.
Infelizmente, por razões
diversas, o programa político de salvação do planeta tem encontrado todo tipo
de revés pela frente. A começar pela pressão poderosa das grandes empresas e de
governos que enxergam na pauta verde um empecilho para o desenvolvimento do
tipo tradicional e predatório.
No Brasil, a descaracterização
do Partido Verde começou internamente com a cristalização, ou engessamento, da
estrutura partidária, reforçado pela não renovação de sua identidade
programática e pela ojeriza de seus dirigentes aos novos tempos e às novas tecnologias.
Com isso, muitas lideranças resolveram simplesmente abandonar a sigla,
desiludidos com o envelhecimento precoce do partido.
Até mesmo a agenda ambiental foi
perdendo espaço dentro do PV para temas marginais. A entrada do PV na
Federação, que tem o PT como partido timoneiro, só fez enfraquecer ainda mais a
legenda. Temas próprios da bandeira vermelha do Partido dos Trabalhadores se
sobrepuseram aos ideais de preservação do meio ambiente, fazendo o PV um
satélite sem importância e de pouca efetividade. Pior, o apoio às teses
extremistas defendidas pelo PT passou também a contar com a adesão dos verdes.
As recentes falas defendidas
pelo chefão petista, considerando Israel um ente genocida, que age com os
palestinos da mesma forma que os nazistas agiam contra os judeus, tiveram que
contar com o apoio constrangido do PV. Para algumas lideranças de ponta, como é
o caso da secretária de formação do PV, professora Emília Stenzel, a
encruzilhada ética em que a legenda se vê metida agora, tendo que apoiar teses
claramente antissemitas e antissionistas do PT, distantes, pois, da visão
ambientalista e humana do PV, contribuiu para sua decisão de sair do partido.
Perde a força o PV e a agenda ambiental, num país e num momento em que essa
questão pode definir se teremos ou não futuro pela frente.
Cante: Schola Cantorum com inscrições abertas e ensaios nas terças,
às 21h30, no anfiteatro 10 da UnB. Conduzido pelo maestro Felipe Ayala e o
brilhante Rafael Ribeiro ao piano. O grupo comemora o terceiro ano com um
repertório vasto e de bom gosto.