Em mensagem dirigida ao povo brasileiro, por
ocasião da 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), realizada entre 10 e 19 de abril último, os bispos católicos, citando
Mateus 23,8, que ressalta: “Vós sois todos irmãos e irmãs”, lembraram, logo de
saída, que as experiências adquiridas pelo nosso passado recente, nos ensinam a
buscar, no diálogo, as soluções para o Brasil atual.
Para os bispos reunidos na assembleia, foi graças
às articulações, entre agentes lúcidos e cidadãos, que superamos e deixamos
para trás aqueles problemas. Segundo apontam nessa mensagem, cabe às
instituições do país, no caso, aos três Poderes da República, resolverem os
problemas que se apresentam hoje à nossa democracia. Por isso mesmo,
conclamaram essas instituições e a sociedade civil a seguirem o que preconiza a
Constituição de 1988. Nesse sentido, lembraram os bispos, que as questões
relativas à independência e à harmonia entre os Poderes não são apenas opções
de momento, mas, sim, deveres permanentes e irrenunciáveis, que, aliás, estão
expressos na Carta de 1988. De acordo com esses prelados, lembrando o papa, “a
paz, por ação da força mansa e santa dos que creem, deve ser buscada como forma
de se opor ao ódio da guerra”.
Durante essa assembleia, foram mencionados os
gastos militares, que, no ano passado, cresceram e foram os mais altos desde a
Segunda Guerra Mundial, assim como a fome no mundo, que aumentou no mesmo
ritmo. Em nosso país, segundo os bispos, verifica-se também um crescimento sem
precedente do crime, das milícias, do narcotráfico, da violência nas cidades e
no campo, do bullying, do vandalismo, do racismo, do feminicídio, do tráfico
humano e da exploração sexual de crianças, adolescentes e vulneráveis.
Na avaliação desses religiosos, a realidade dos
migrantes, do povo em situação de rua e da população encarcerada continua sendo
um desafio, assim como a corrupção, o nepotismo e o tráfico de influência, que
continuam a violentar nossa nação. Diante de uma situação calamitosa como essa
apontada pelos bispos, a saída seria construir a paz, sobretudo aquela paz que
nasce da justiça, segundo está escrito em Isaías 32,17. “Entendemos que o
Brasil necessita de um novo marco legal que garanta a prioridade do trabalho,
do bem-estar humano e da geração de emprego e renda, principalmente para os
jovens Todos os segmentos da sociedade brasileira devem defender a vida na sua
integralidade e agir, solidariamente, em prol de um país economicamente
humanizado, politicamente democrático, socialmente justo e ecologicamente
sustentável”, diz a mensagem.
Com relação aos novos desafios trazidos pelos
problemas climáticos, os bispos assinalam a necessidade de uma transição rápida
para as energias limpas. Também com relação à Amazônia, os bispos destacam que
os povos que ali vivem não podem mais ser sacrificados por um modelo de
exploração que não permite o bem viver. Também lembraram de outros biomas, como
o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Pampa e o Pantanal, que estão
sofrendo pressões de todo o tipo, tornando a cada vez mais difícil a reversão dessa
destruição. Para os bispos, “toda a casa comum sofre com a destruição”.
Na mensagem ao povo brasileiro, os bispos, reunidos
na CNBB, destacaram a realização, em 2025, da Convenção das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém do Pará. Na oportunidade, serão
discutidas possíveis soluções para o aquecimento global, bem como alternativas
sustentáveis para a vida no planeta. No encontro, segundo eles, deverá existir
um sério compromisso dos governos com a obra da criação. Em relação aos povos
indígenas, os bispos ressaltaram que é preciso melhorar as políticas públicas
com ação concreta na defesa dos povos originários, bem como a proteção de suas
terras, especialmente no território Yanomami.
Durante a realização da 61ª assembleia, os bispos lembraram que passados 64 anos do início da ditadura militar, a nossa democracia ainda necessita de cuidados. Para tanto, destacaram que as próximas eleições municipais deste ano serão uma oportunidade para fortalecermos a nossa democracia, por meio do voto consciente. “A consciência cívica deverá estar a serviço dos mais profundos interesses do nosso povo, pois há exigências éticas para a realização do bem comum”, diz a mensagem.
Com esse intuito os bispos conclamam à união de
todos, sendo que ninguém deve abdicar da participação na política. Em relação
aos meios de comunicação, questão muito discutida hoje em dia em nosso país, os
bispos assinalam que é preciso o combate à desinformação, principalmente aquela
que usa a linguagem religiosa para justificar interesses políticos e econômicos
escusos. Lembrando mais uma vez o papa Francisco, os bispos destacaram que a
inteligência artificial corre o risco de ser rica em técnica e pobre em
humanidade. Para tanto, disseram: a liberdade de expressão não pode estar a
serviço da divisão social, pois o ódio, o fundamentalismo e o populismo
enfraquecem a democracia.