O Brasil, em matéria de jogos de
azar, parece ter acertado no milhar, tamanha a quantidade de cassinos e de
sites de apostas pela internet que existem à disposição dos apostadores. Com a
recente regulamentação tanto das apostas esportivas como dos cassinos, o país
assiste a uma espécie de boom econômico nesse setor. A cada dia, multiplicam-se
os sites de apostas e de abertura de cassinos ao alcance do apertar de uma
tecla, sem sair de casa. É uma comodidade que, mais do que conforto, traz
preocupações das mais sérias. Apenas conhecendo a pouca eficácia e mesmo o
desdém de nossos órgãos de regulação e de fiscalização, já dá para imaginar
como estarão funcionando esses autênticos sorvedouros de dinheiro da população.
Dizer que esse novo setor tem obtido recordes sobre recordes de procura e de ganhos financeiros não é surpresa, não chega a ser novidade, já que empresários que exploram esses polêmicos nichos, tanto aqui no país como no exterior, estavam, há anos, pressionando, com toda a espécie de lobby, as autoridades brasileiras — quer dizer, do Congresso — por sua liberalização.
O que preocupa é que, com esse
crescimento exponencial, virão também coligados de todo o tipo de contravenção
e crime, sendo a lavagem de dinheiro de origem ilícita a mais praticada. O
setor tem comemorado essa abertura, investindo, cada vez mais, nesses novos
caça-níqueis online. Para se ter uma ideia desse novo “negócio da China”, basta
verificar que, nesta semana, foi realizado em São Paulo o Brazilian iGaming
SIGMA 2024, o maior e mais concorrido evento de apostas e jogos da
América Latina.
Nesse encontro que reuniu
milhares de pessoas, estavam presentes os principais players desse mercado, que
hoje investem não apenas em mais cassinos e sites de apostas, mas em emissoras
de rádios e de televisão e em outras mídias de importância, expandindo seus
leques de poder e influência. O mercado de apostas esportivas e de cassinos tem
crescido não só em importância econômica como em importância política,
espraiando-se por dentro do Estado, onde já conta com o apoio que necessita
para não ser incomodado pelos órgãos fiscalizadores. Aqui, nesse meio, não se
discutem problemas com o dependência crônica de jogos online, ciclos viciantes
ou da destruição da vida financeira de inúmeras famílias. Tudo nesse setor
brilha como ouro. A situação nessa área, onde quem ganha é sempre o dono do
negócio já pode ser considerada fora de controle. O Estado não sabe hoje
quantos cassinos estão operando e muito menos quantos sites de aposta online
estão no ar.
O nosso país, como esses
empresários e o mundo do crime internacional já sabiam, vai se transformando, a
passos largos, no paraíso da jogatina e da lavagem de dinheiro. Para um país
que há muito é conhecido como esconderijo paradisíaco de criminosos internacionais,
nenhuma surpresa.
Para se ter uma ideia do
crescimento desse gigante, nos últimos meses centenas de empresas de apostas
esportivas chegaram ao Brasil, de olho nessa mina de ouro a céu aberto. O
Brasil já é hoje um dos maiores mercados de aposta do planeta. E tudo isso aconteceu
em pouco tempo, desde o afrouxamento das leis a partir de 2018.
Em 2023 o atual presidente da
República deu mais um impulso ao setor de apostas, sancionando regulamentações
favoráveis a essas atividades, bastando aos interessados pagarem taxas
burocráticas para oferecerem esses serviços. Aqui também não se discutem assuntos
constrangedores como o mal que as apostas esportivas têm feito ao futebol e à
credibilidade das partidas.
Tudo no futebol mudou com a
liberação das apostas esportivas. Inclusive os resultados. Para o crime
organizado, que há anos age e se expande em nosso país, investindo desde
carreiras políticas até em empresas de ônibus urbanos, o investimento nos jogos
de azar veio a calhar e dar novo impulso e tranquilidade às finanças desses
bandos. Sem a criação de um super estrutura de controle e fiscalização sobre
esse setor, dentro da Polícia Federal e da própria Receita, dificilmente a
população irá enxergar qualquer benefício oriundo dessa atividade azarenta.