Relações diplomáticas não são uma atividade
recomendada para o exercício da sinceridade, mas chama a atenção o exagero de
hipocrisia que se pratica hoje nas chancelarias da Europa em relação à
agricultura e à pecuária do Brasil. Ainda há pouco, o presidente da França
esteve por aqui fazendo sermões sobre a necessidade urgentíssima de salvar o
planeta da destruição que lhe está sendo imposta pelos produtores rurais
brasileiros. É a religião oficial da diplomacia, da política e da elite
europeias. O Brasil “não acompanha as exigências ambientais” que os
agricultores da Europa, do Canadá e de outros paraísos ecológicos são obrigados
a obedecer. Ou seja: o agro brasileiro faz “concorrência desleal”, destrói o
meio ambiente e envenena as pessoas.
O pensamento único dos governos, grandes empresas e
universidades da Europa aumenta, ano após ano, a bateria de restrições aos
produtos da atividade rural no Brasil. Para serem exportados, precisam de
certidões de inocência a respeito de tudo: não podem vir de áreas que foram
“desflorestadas”, ou perturbar a “cultura indígena”, ou envolver “trabalho
infantil”, afetar o cerrado ou estressar os bagres do Rio Xingu.
O Brasil é sistematicamente acusado de delinquência ecológica pelos países ricos. Não tem nada a ver com o meio ambiente. Tem tudo a ver com a guerra contra o agro brasileiro.
Nada disso tem impedido a produção do campo no Brasil,
cada vez mais, de aumentar, melhorar e tornar-se mais competitiva nos mercados
mundiais. Também não tem impedido, de outro lado, que a agricultura e a
pecuária da Europa continuem no seu longo processo de decadência. O fato, no
mundo das realidades, é que a crise do campo nos países europeus tem a ver com
a legislação cada vez mais destrutiva que os governos adotam contra os seus
produtores rurais – e não com o Brasil.
A verdade é que o Brasil tem uma ficha cada vez mais limpa em relação ao seu comportamento ambiental – enquanto as nações europeias, que destruíram o seu meio ambiente há séculos e praticamente eliminaram ali a vida natural, exigem que o agro brasileiro faça hoje mais do que elas jamais fizeram. Quem sabe, se a agropecuária brasileira se tornar tão cara quanto é na Europa, o setor rural europeu consiga equilibrar a competição?
Uma das demonstrações mais flagrantes da hipocrisia
ambiental da Comissão Europeia é a sua decisão de eliminar a exigência de que
os agricultores deixem 4% de sua terra reservadas à preservação. Nem 4%? Nem
isso. No Brasil, a área que os produtores rurais não podem tocar em suas
propriedades é cinco vezes maior, ou 20% da terra. Isso no mínimo: as
porcentagens vão subindo de acordo com as caraterísticas da área cultivada, e
chegam a 80% na Amazônia, essa mesma que eles dizem que estamos devastando.
É tudo um jogo sujo. O Código Florestal brasileiro, um exemplo mundial de legislação eficaz e inteligente para a preservação da natureza, faz que o Brasil continue, em pleno século XXI, a ter as maiores florestas nativas do mundo. Mas o Código não é reconhecido pela Europa, e o Brasil é sistematicamente acusado de delinquência ecológica pelos países ricos. Não tem nada a ver com o meio ambiente. Tem tudo a ver com a guerra contra o agro brasileiro.