Mudanças e quaisquer alterações
radicais, quando são feitas de modo brusco, apenas para atender situações
emergenciais, normalmente, não resultam num modelo que pode ser implantado de
modo definitivo. É o caso da educação a distância (EAD), implantada pelo país
afora em decorrência das situações de calamidade pública provocadas pela
pandemia da covid-19
Depois de mais de um ano sem
aulas, quando não se tinha ainda clareza sobre as estratégias sanitárias
adequadas a ser implementadas, muitas escolas, principalmente as particulares,
resolveram adotar o modelo de educação a distância. Era um modo de evitar que a
pandemia arruinasse esses empreendimentos. Acontece que essa prática de ensino,
por características próprias, era pouco conhecida entre as escolas públicas e
particulares para crianças e adolescentes, e ainda não se tinha todo um
conhecimento mais profundo sobre como aplicá-la e seus resultados. Os docentes
que se depararam com a obrigação de implementar a nova modalidade estavam
despreparados, e não foram capacitados para esse tipo de ensino.
Diante da situação emergencial,
as escolas públicas, principalmente as universidades, passaram a adotar também
esse novo sistema de educação. Não é preciso ser um gênio da raça para saber
que esse modelo falhou, num país onde, apesar do volume de recursos públicos à
disposição, a educação continua a não ser prioridade.
Passada a pandemia, muitos
estabelecimentos educacionais e mesmo algumas universidades, resolveram
continuar com a prática do ensino a distância, quer pela comodidade desse
modelo, quer pela economia que essa modalidade trazia para todos. Ocorre que a
educação, por sua metodologia didática e pedagógica, requer, em boa parte, que
as aulas sejam presenciais. O ensino a distância apresenta problemas que só
podem ser resolvidos com a interação direta e ao vivo do professor com o aluno.
Mesmo assim, com todos os entraves, o modelo de educação a distância logo
despertaria a atenção de muitos empresários do setor, começando, assim, a
multiplicação, por todo o país, de inúmeros cursos não presenciais.
Ocorre que o Ministério da
Educação, não tinha, até então, um setor voltado exclusivamente para fiscalizar
a qualidade e a seriedade desses cursos 100% remotos. O resultado dessa
ausência de fiscalização, somada à esperteza de muitos empresários do setor,
levou o modelo de ensino a distância a se distanciar do que se pode chamar,
minimamente, de educação. As distorções e os excessos passaram a ser a regra
nesse modelo. Diante de uma situação que só se agravava a cada dia, o
Ministério da Educação proibiu a criação de novos cursos remotos. Alguns cursos
que estavam em andamento, aproveitaram a medida para simplesmente encerrar as
aulas, deixando alunos no meio do caminho e sem que eles tivessem a quem
recorrer.
Medidas emergenciais foram
tomadas, como a adotada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), tornando
obrigatório que cursos de licenciatura em pedagogia tenham pelo menos 50% da
sua carga horária em regime presencial. Tal medida, segundo a Associação Brasileira
de Educação a Distância (Abed), poderá excluir milhões de alunos do ensino
superior. De acordo com essa entidade, atualmente 3,5 milhões de alunos estão
cursando o ensino de forma remota.
Para o MEC, esse problema pode
ser contornado por meio de uma fase de transição. O principal, segundo a pasta,
é colocar um freio de arrumação na educação a distância, acabando com a
proliferação de cursos sem lastro de qualidade. Avaliação feita agora pelo MEC
mostra que apenas 450 cursos de ensino superior a distância, ou 26%,
conseguiram obter notas satisfatórias dentro dos parâmetros estabelecidos pelo
Conceito Preliminar de Curso (CPC). Interessante notar que a educação a
distância, pela exigência da preparação específica e mesmo por sua complexidade
técnica, requer também a uma formação especial e própria dos professores e de
todo o corpo que participa direta ou indiretamente desse modelo. O fato é que
essa capacitação simplesmente não tem existido até agora.
A educação a distância entre nós
ainda é feita na base do improviso e de maneira pouco profissional. A avaliação
dos alunos que participam desse tipo de instrução é outro problema que ainda
aguarda solução satisfatória. A questão não é condenar a educação a distância,
tendo como parâmetro as falhas ocorridas a partir da eclosão da pandemia. É
preciso, sim, estabelecer todo um novo estatuto de leis e regramento para essa
nova modalidade, dotando a educação remota dos mesmos mecanismos de qualidade
verificados na educação tradicional. Num país em que nem a educação básica tem
atingido patamares mínimos de qualidade, levar essas virtudes para um novo
modelo, será um desafio e tanto.