A
Petrobras acaba de entrar no seu oitavo presidente em oito anos. Um carrinho de
pipoca que estivesse no seu oitavo dono, nos mesmos oito anos, já teria ido à
falência. Mas a Petrobras é aquele tipo de praga que nenhum defensivo consegue
abater – é uma empresa estatal, e por isso os que mandam nela não precisam
obedecer a nenhuma das regras de negócio que valem para todos os outros.
Nos
dois governos anteriores de Lula, seguidos pelo conto de horror do período
Dilma Rousseff, a companhia só não foi destruída por uma razão: é salva o tempo
todo pelo saco sem fundo de dinheiro que o Estado brasileiro extorque dos
cidadãos na forma de impostos. Foi vítima, então, da pior corrupção serial da
história humana, provada por confissões dos corruptos e pela devolução de
dinheiro roubado. Agora, com Lula de novo no Planalto, o processo de destruição
foi retomado.
A
“indústria nacional” da qual Lula não para de falar tem tanta capacidade de
construir petroleiros de classe internacional quanto de fornecer foguetes
espaciais para a NASA.
Desde
o primeiro dia do novo governo, ficou claro que a Petrobras do Lula-3 estava se
organizando para entrar no procedimento padrão do PT e da esquerda para a
empresa: mergulhar de cabeça nos seus bilhões, como Tio Patinhas na sua
caixa-forte, para fazer tudo o que não interessa à boa gestão de uma petroleira
decente. Mas houve, claramente, um problema de timing, como se costuma dizer.
O
novo presidente da estatal não estava tocando as coisas com a rapidez que Lula
e o seu sistema queriam. Também não estava claro o seu grau de adesão à
ideologia lulista para a Petrobras. Foi levado, então, para o corredor da
morte, à espera da execução – e enfim fuzilado no gabinete de Lula, entre as
risadinhas vitoriosas dos seus carrascos. Querem agora, como eles próprios
dizem, “recuperar o tempo perdido”. Imagine-se o que vão fazer para tirar o
atraso.
A
estratégia suicida de Lula para a Petrobras é a mesma de sempre: dizer que a
companhia tem deveres com “o povo brasileiro”. Precisa atender a obrigações
“sociais”. Precisa gerar “empregos”. Precisa sair gastando o máximo possível de
seus recursos em negócios destinados ao “crescimento da economia”. O que existe
de realmente indiscutível nesses negócios é que todos eles dão errado para a
Petrobras. Têm uma espécie de “Certificado 9000” ao contrário: é garantido que
uma parte ganha e a outra perde, e a parte que ganha nunca é a estatal.
Lula,
e o arrastão que vem com ele, querem que a Petrobras use seu dinheiro para
fazer investimentos em navios petroleiros, sondas de exploração e
fertilizantes. Quer colocar dinheiro em produtos químicos, processamento de gás
e fabricação de lubrificantes. Quer montar “complexos” disso e mais daquilo.
Quer mais refinarias como as trágicas Pasadena e Abreu e Lima – e por aí afora.
Na prática, isso quer dizer contratos bilionários com empreiteiras de obras,
fornecedores e “campeões nacionais” que frequentam com regularidade a vara de
falências.
A
fixação principal de Lula é com a “indústria naval”. Está obcecado há mais de
20 anos com a miragem de construir navios de grande porte no Brasil, e volta
agora a insistir na mesma história – não muda de ideia e nem muda de assunto.
Suas tentativas anteriores foram uma calamidade. Quem se esqueceu do grande
símbolo de desastre que foi a “campeã nacional” Sete Brasil? Recebeu pagamento
por 28 navios-sonda, entregou quatro e foi à falência. Mas apesar desta óbvia
garantia de fracasso, o presidente está mandando começar tudo de novo.
Não
existe nenhuma possibilidade de se organizar uma indústria naval com chances
reais de ficar de pé se os navios que produz não são desejados no mercado
mundial de transportes marítimos. E quem neste mundo quer comprar um navio
fabricado no Brasil? Não tem o mínimo de qualidade exigida hoje pelos
armadores. Não tem preço – as chapas de aço para os estaleiros nacionais custam
20 vezes mais que o material estrangeiro. Não tem cliente – seu único cliente é
a Petrobras, e indústria com um cliente só não faz verão. Não tem tecnologia.
Não tem mão-de-obra especializada. Não pode dar certo.
A
“indústria nacional” da qual Lula não para de falar tem tanta capacidade de
construir petroleiros de classe internacional quanto de fornecer foguetes
espaciais para a NASA. É óbvio que se a Petrobras for obrigada a comprar seus
navios, suas sondas e seus equipamentos de exploração de empresas escolhidas
pelo governo, é ela que vai levar na cabeça. Ou melhor: quem paga o mico são
sempre os acionistas da empresa, o maior dos quais é o povo brasileiro.
Some-se
o uso da Petrobras para fazer demagogia com o preço dos combustíveis. Some-se a
decisão de investir num parque de refinarias obsoleto e que há muito já deveria
ter sido vendido para empresas privadas – liberando, assim, recursos para o
investimento na área de maior competência da companhia, a exploração de
petróleo em alto-mar. Some-se o resto. É a Petrobras posta de novo nos trilhos
do desastre.