O
ministro Fernando Haddad, quando se faz direito as contas, não tem inimigos
fora do governo. Muita gente atira contra ele, e há muito tempo, mas o tiroteio
para valer não vem da oposição. Vem justamente de onde não deveria vir – dos
colegas do “Brasil Voltou”, os gatos gordos que se movem 24 horas por dia no
Palácio do Planalto, dão tapinhas nas suas costas e gostariam que ele caísse
morto o mais depressa possível. Faz sentido.
De um lado, Haddad não pode ser demitido pelo “bolsonarismo”, pelos
“terraplanistas” e por ninguém que não tenha crachá de petista graúdo. Ao
contrário: quem tem condições objetivas de acabar com ele é a chusma que roda
em volta de Lula, de Janja e de seu sistema. De outro lado, o ministro da
Fazenda dá de vez em quando a impressão de que está tentando acertar alguma
coisa – uma vela, aqui e ali, numa casa sem luz. Não há nada que deixe o mundo
de Lula e do PT tão transtornado quanto isso.
Entende-se
que Haddad não possa se defender em público do pelotão de fuzilamento que está
na sua cola. Mas parece bobo, francamente, ele ficar batendo boca com deputado
da oposição que pode falar um monte de coisas, mas não pode assinar a sua
exoneração. Ainda agora, Haddad se estressou num debate na Câmara dos Deputados
em que foi chamado de negacionista por negar alguns números negativos da
economia – pelo que deu a entender, a palavra só pode se referir a quem “é
contra a vacina” ou acha que “a terra é plana”.
Por
conta disso, acusou os críticos de inconformismo com os preceitos da ciência,
quando estavam falando apenas de números. Provavelmente na mesma hora, como
acontece nos dias pares e nos dias ímpares, alguém do próprio governo estava
armando mais alguma crocodilagem contra ele. É aí, e sobretudo nas realidades
do mundo material, que está o seu verdadeiro problema.
O ministro da Fazenda, desde o seu primeiro dia no cargo, vem tentando
fazer tudo o que consegue para levar adiante o único programa econômico do
governo Lula: gastar mais do que pode e socar imposto em cima da população para
não ficar em situação de bancarrota explícita. “Gasto é vida”, diz Lula. Não é
nada disso, como se sabe.
Gasto
é encher o bucho de uma máquina estatal que consome doze refeições por dia e
vive querendo mais; o “povo” e os “pobres” nunca veem, na verdade, um tostão
disso tudo, como nunca viram os últimos 50 anos de despesa, dívida e déficit.
Vale qualquer coisa. Imposto sobre tudo que se move. Imposto sobre tudo o que
está parado. Imposto sobre “grandes fortunas”. Imposto sobre pequenas compras.
Enfim: tudo serve.
O
problema é que nada é suficiente. O ministro tem de arrumar dinheiro para Lula.
Mas também tem de atender as exigências da sua demagogia. Haddad, para ficar só
num exemplo, inventou de taxar as compras de até 50 dólares na internet, que
estavam isentas de imposto. Contou, na ocasião, com o apoio até de Janja – a
quem convenceu da prodigiosa noção de que o imposto seria pago “pelas
empresas”, e não pelo consumidor.
É claro que quem tem de pagar é quem compra – mas é claro, ao mesmo
tempo, que isso é uma das piores ideias que alguém pode ter para agradar as
pessoas “em situação de pobreza”. Como se diz no turfe, “deu a lógica”. Quando
achou que isso pode lhe custar votos, Lula já saiu dizendo que o imposto é
ruim, porque só vai pegar “bugiganga”, segundo explicou, e prejudicar “as
meninas pobres”. Haddad, agora, que dê um jeito. O esquadrão que quer a sua
cabeça bate palmas, mais uma vez.