O
governador do Rio Grande do Sul, comentando a tragédia que devasta o seu estado
nestes dias, entendeu que deveria passar para a população e as autoridades uma
mensagem de harmonia. “Não é hora de procurar culpados”, disse ele. O
governador provavelmente falou com boas intenções. É possível, perfeitamente,
que tenha razão – não é com bate-boca e fazendo cara de bravo que a água vai
baixar.
Mas
para o cidadão que perdeu sua casa, seus bens e pessoas de suas famílias, fica
uma impressão bem amarga. Quando, então, vão encontrar os culpados? Ano após
ano os gaúchos, e muitos outros brasileiros, têm suas vidas arruinadas em
episódios equivalentes. Mas nunca é hora de identificar os culpados – e é óbvio
que alguém tem culpa.
Os
responsáveis são as pessoas com nome e CPF que mandam na máquina do Estado,
hoje, ontem e sempre. Não têm culpa pela chuva – mas têm culpa pela extensão
dos desastres que ela provoca. Calamidades naturais ocorrem no mundo inteiro,
com consequências dramaticamente diferentes. Onde o Estado tem responsabilidade
concreta perante o cidadão, como em geral é o caso no Primeiro Mundo, os
efeitos são suportáveis; a Holanda, por exemplo, está abaixo do nível do mar e
não tem inundações. Em lugares como o Brasil, a última coisa que passa pela
cabeça dos governantes é a vida real dos governados. Não é por acaso. Todos
eles sabem que jamais terão de sofrer as consequências das decisões que tomam.
A
devastação que as enchentes estão causando no Rio Grande do Sul é o resultado
de um século, ou mais, da inação, da inépcia e da indiferença do poder público,
em todos os níveis, para lidar com o fenômeno elementar da chuva. Não é
possível fazerem com que as chuvas obedeçam aos limites do meteorologicamente
correto, mas sabem com 100% de certeza que elas vão cair – e têm a obrigação,
com os impostos que cobram e que estão hoje entre os maiores do mundo, de
trabalhar para que seus efeitos sejam minimizados.
A
catástrofe do Rio Grande do Sul prova mais uma vez que esta obrigação continua
sendo ignorada. Ou não fazem as obras que deveriam fazer, ou fazem as obras
erradas – o que é tão ruim quanto. O fato é que o gaúcho de carne e osso sente,
no seu bolso, que paga muito mais imposto do que pagava – em compensação, sofre
muito mais com as enchentes.
Não
há perspectivas reais de que a coisa possa melhorar. As cheias do Guaíba, pelo
que indica a maioria dos registros, foram as piores desde 1941 quando o
presidente do Brasil ainda era Getúlio Vargas. Estamos agora com Lula e a nova
ideologia do “clima” – e não há hipótese de que possa vir algo de bom dessa
combinação. Havia, há mais de 80 anos, inundações do mesmo tamanho, ou quase. A
causa, na época, era a chuva. Hoje a militância diz que a causa é a “mudança”,
ou a “crise”, ou até a “emergência” climática.
Os
gatos gordos que estão nos governos acham uma maravilha quando ouvem esse tipo
de coisa. Sua conclusão unânime, certificada como verdadeira pela mídia, é: “A
culpa não é nossa”. A culpa, então, é do “homem”, do “estilo de vida”, do
“capitalismo” – enfim de réus que todos podem malhar, sem risco algum, como
Judas de Sábado de Aleluia.