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À família Gentil, com carinho

À família Gentil, com carinho. Fica aqui minha homenagem às irmãs Gentil, a Sara e Antônio, pelo acolhimento proporcionado a tantos que sentaram em suas mesas nesses quase seis anos de história

Estava aqui pensando em um tema para este meu artigo quando me deparei com uma foto linda enviada pela minha amiga Cristine Gentil. Era um cliente do Gentil Café oferecendo uma rosa para dona Sara no último dia do Gentil Café de portas abertas. Ele agradecia a ela por fazer o “melhor bolo de laranja que ele já experimentou em todo mundo”. Mora em São Paulo, mas, sempre que vinha a Brasília, ia ao café e levava o bolo para sua mãe. Ao saber que aquele seria o último dia, foi armado da mais pura gentileza.

Pensei: quantas vezes agradecemos àqueles que nos servem bem? Na padaria da esquina, no café preferido, no comércio de quadra? Será que temos a dimensão de quanto esforço envolvido há no ato de manter um lugar de portas abertas? Acompanho o abrir e fechar de pequenos comércios em Brasília desde que pisei por aqui.

Sei que o Brasil é pródigo em fazer ruir a esperança dos pequenos empreendedores. Há números diversos, mas dados do IBGE já mostraram que 80% das micro e pequenas empresas não chegam a completar o primeiro ano, e 60% fecham antes dos cinco. Com uma taxa de mortalidade dessas, não é exagero falar que se trata de infanticídio. E são os pequenos que mais empregam no Brasil.

São pessoas que entregaram de bandeja seu sonho, suas economias e suas esperanças, que fermentam na ideia de que empreender é fácil — como se vê nas propagandas que mostram um único sujeito fazendo, embalando, divulgando, entregando seu produto. E não é assim que a banda toca. Recebem de volta o pouco acesso a financiamento, impostos exorbitantes, zero apoio, inclusive, machismo contra empresas comandadas por mulheres — pesquisas mostram que elas tiveram menos acesso a empréstimos bancários na pandemia. Fiquei triste ao saber que o Gentil Café fecharia as portas, porque acompanhei, como amiga, o passo a passo desse sonho.

Cristine me disse que faria a festa de despedida, algo que não é muito comum. Mas entendi que celebrar o fim de um ciclo é um ritual de passagem para guardar o bom e recomeçar. E fiquei feliz quando ela me disse o quanto foi importante para amenizar o luto de um sonho desfeito. Por quê? Porque muitos amigos, clientes, vizinhos de quadra, outros empreendedores foram lá para o abraço derradeiro, para agradecer à família por ter dado vida à quadra, pelas delícias que serviram, pela gentileza desde que abriram as portas.

Foi uma linda festa, que aqueceu o coração de uma família que teima em festejar cada momento da vida, até os dias difíceis. Registro aqui minha homenagem às irmãs Gentil, a Sara e Antônio, pelo acolhimento proporcionado a tantos que sentaram em suas mesas nesses quase seis anos de história.

Deixo também o meu convite a você: agradeça a cada cantinho que lhe serve com amor e dedicação. Por trás dele, há sonho, cansaço, mil dificuldades para girar uma economia que pouco reconhece o valor dos pequenos empreendedores.


Ana Dubeux – Foto:  Luís Tajes – Correio Braziliense




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