O
Conselho Nacional de Justiça, que faz levantamentos das ações do Judiciário no
Brasil, concluiu que apenas 4,2% dos condenados que se beneficiaram das
“saidinhas” em 2023 não voltaram. Mas sabem quanto dá esse “apenas” em números
absolutos? São 4.086 condenados que ficaram nas ruas, livres para continuar
seus crimes.
As
famílias não são impedidas de visitar os presos. O condenado não tem nada que
poder ir visitar a família, é a família que tem de visitar o preso. O sujeito
comete o crime por livre e espontânea vontade, e sabe que vai preso se for
pego. Se é preso e condenado, vai pagar. Será punido, numa tentativa de
corrigi-lo, porque, se ele não se corrigir, vai cumprir pena e depois vai
voltar. É assim que funciona nos países civilizados, que querem que a população
viva em paz, tranquila, sem ser importunada por pessoas antissociais que
circulam pelas ruas.
Envolvidos
em suposta espionagem já estão sendo tratados como culpados: Uma operação
da Polícia Federal nesta quinta-feira estava executando cinco mandados de
prisão de espiões da Abin, que foram presos por espionagem. Parece curioso, mas
o fundo é político: eles estariam a serviço de Alexandre Ramagem, que era da
Abin, e agora é candidato a prefeito do Rio; estariam também a serviço de
Carlos Bolsonaro. O caso teria acontecido lá atrás, e aí todo mundo divulga. Eu
até vejo agora o incômodo daqueles que caíam na Lava Jato. Quando a polícia
descobria, já se divulgava tudo. O sujeito já era punido. Depois, se a Justiça
decidisse que não houve crime, era tarde, a pessoa já tinha sido condenada na
opinião pública.
Uma
vez, recebi um carro com overboost, que eu nem conhecia; assim que fiz uma
ultrapassagem, logo em seguida a Polícia Federal me parou. O agente me
reconheceu e disse “não, o senhor nos ajuda muito”... Eu respondi que tinha
acabado de pegar o carro, não conhecia o veículo, e ele falando que não ia
multar. Mas eu exigi que me multasse, para aprender. Depois fiquei sabendo que
ele contava para todo mundo que tinha me multado. Quando encontrei com ele
outra vez, disse: “cada vez que você conta, você está me punindo”. É a mesma
coisa com esse inquérito. Todo mundo noticia e explora: Fulano fez isso, fez
aquilo, mas e depois? Se a Procuradoria-Geral da República achar que não era
crime, que não valia a pena denunciar, e mandar para o arquivo? Ou se o
Judiciário disser que não foi crime? Como é que fica?
Caso
real de Filipe Martins deixa a ficção de Kafka no chinelo : A operadora
TIM informou ao ministro Alexandre de Moraes que o geolocalizador do celular de
Filipe Martins só o mostra em Brasília, Curitiba e Ponta Grossa, de 30 de
dezembro até 9 de janeiro. Não estava no exterior como a Polícia Federal havia
dito, que ele tinha embarcado clandestinamente, que não passou pelo controle de
passaporte, que a imigração americana foi cúmplice, essas coisas. O que
informaram, lá dos Estados Unidos, é que Martins esteve por lá em setembro de
2022, e em Nova York, não na Flórida.
A
empresa aérea disse que Martins estava em voo doméstico. Há evidência de que
ele passou pelo aeroporto de Curitiba, de que estava em Ponta Grossa. Mas ele
segue preso há mais de cinco meses, nem ele sabe o motivo. Se contarmos isso
para um europeu ou um americano, eles vão dizer que é ficção, que Franz Kafka
resolveu morar no Brasil e escrever um novo O Processo.