Não sou de acompanhar esportes olímpicos. Muitos menos
a ginástica. Aliás, até outro dia eu estava bem disposto a boicotar as
Olimpíadas de Paris. Não que meu boicote fosse mudar qualquer coisa, mas é
aquele gesto simbólico, de mim para mim, que na pior das hipóteses rende uma
boa discussão com meu amigo Marcio Antônio Campos. Só que no meio do caminho
entre mim e o boicote havia Rebeca Andrade. Ainda bem.
Não sou capaz de discutir aqui os evidentes méritos
esportivos de Rebeca Andrade. Nem me cabe. Mas sou capaz e me cabe exaltar a
postura da moça, que transborda uma alegria simples e genuína e tranquila,
mesmo em meio a um ambiente tão tóxico, com fãs e a imprensa estimulando uma
inimizade entre a brasileira e sua principal rival, a norte-americana Simone
Biles.
De tudo o que vi até aqui, Rebeca Andrade dá de ombros
para essas coisas. Para o que os outros esperam dela. No que faz muito bem,
clap!, clap!, clap! E não falo apenas dessa rivalidade que não é e nem precisa
ser assim uma coisa Ayrton versus Prost. Falo também da exigência para que
Rebeca Andrade se posicione politicamente num mundo viciado em política. Ela
simplesmente parece ignorar essas exigências, faz o seu melhor e, cristã que é,
agradece a Deus por suas conquistas. E pronto. E basta.
Para além do sucesso na ginástica, essa despretensão
sorridente é a maior contribuição que Rebeca Andrade poderia dar não apenas
para o mundo do esporte – um mundo corrompido por vitimismos e identitarismos
de toda sorte; é a maior contribuição que Rebeca Andrade poderia dar para o
Brasil de hoje – um país triste, viciado na disputa política, tomado por um
permanente sentimento de indignação e sobretudo paralisado por um medo
inconfessável, mas ainda assim medo.
É disso – de alegria, de gratidão, de talento e do
trabalho bem feito, sem exaltações ao próprio eu quando do sucesso e sem
justificativas vitimistas quando do fracasso – que o país mais precisa. Sei que
amanhã ou depois ninguém mais vai se lembrar da joie de vivre e desse
desprendimento virtuoso de Rebeca Andrade, mas tudo bem. Fiz questão de
registrar para dizer: obrigado, Rebeca Andrade.
Obrigado por nos lembrar de que a vida é mais simples
do que parece e do que interessa àqueles que lucram, financeira, política e
emocionalmente, com o interminável estímulo ao conflito. E desde já aproveito
para pedir desculpas. Porque essas lições a gente aprende e esquece rápido
demais. Você vai ver amanhã.