Essa história do Hino Nacional cantado em “linguagem
neutra” num comício de Lula e de seu candidato à Prefeitura de São Paulo, com
direito a um “des filhes deste solo” particularmente idiota, é um exemplo claro
de como a esquerda está cada vez mais deslocada do brasileiro comum. Não passa
pela cabeça de nove entre dez pessoas normais achar que uma coisa dessas faça
nexo, e menos ainda cantar o Hino Nacional falando em “filhes” – mas a esquerda
imagina que a eliminação do masculino e do feminino na linguagem portuguesa é
uma conquista das “lutas populares”. É uma estupidez, não só por inventar uma
língua que o povo não fala, mas por dar prejuízo absolutamente inútil à posição
política e eleitoral do PT, de Lula e de todos os seus aliados.
Lula ouviu e, obviamente, não gostou. Mesmo em seu
deslumbramento atual com a bobagem em seu modo mais extremo, o presidente
percebe que um disparate como esse já é demais. Nem o seu candidato à
prefeitura de São Paulo, um extremista do Psol que fez sua carreira política
como líder de invasão de imóveis urbanos, achou que foi uma boa ideia. Mais
irritado ainda do que Lula, denunciou o hino cantado em seu próprio comício
como “um absurdo”. Tanto um como o outro, por terem um mínimo de percepção das
realidades, sabem que isso não lhes dá um único voto que já não tenham. É
apenas uma provocação grosseira ao senso comum, munição para a direita cair
matando nas redes sociais e mau uso das verbas de campanha – pagar para
cantarem “des filhes” num comício de campanha, e campanha que já está mais do
que difícil, é realmente um pé na jaca.
O presidente percebe que um disparate como esse já é
demais: Eis aí, exposta numa fotografia em alta resolução, a doença cada
vez mais invasiva que se espalhou pelo organismo político da esquerda: seus
programas oferecem coisas que o povo brasileiro não quer. Falam em luta pelos
“transgêneros”, por exemplo, em combate ao “racismo” e em esmolas com dinheiro
público. Falam na “liberação da Palestina”, em defesa da Petrobras e em imposto
sobre grandes fortunas. Falam em “educação sexual” para crianças de cinco anos
de idade, em tirar criminosos das penitenciárias e em recuperar a “indústria
naval” – e se esquecem que a maioria das pessoas tem muito pouco interesse
nisso tudo.
O brasileiro comum sabe muito bem que não pode botar o
pé num edifício da Petrobras, e que jamais recebeu um tostão furado da empresa
que, segundo Lula, o PT e o Psol, é “sua”. Não vai melhorar de vida com as
“políticas sociais”. Em matéria de grandes fortunas o que gostaria, mesmo, é de
ter uma. A esquerda, entretanto, não consegue falar de outras coisas – e
frequentemente, como no caso do Hino Nacional “neutro”, fala para dar tiro no
seu próprio joelho.