O candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal
(PRTB) é a grande surpresa das eleições municipais no colégio eleitoral mais
importante do país e deve movimentar, também, o pleito eleitoral em 2026. De
início polarizado entre Ricardo Nunes (MDB) - candidato apoiado por Jair
Bolsonaro (PL) - e Guilherme Boulos (Psol) - apoiado por Lula (PT) - o
tabuleiro eleitoral foi sacudido por Marçal em São Paulo, principalmente com o
voto do eleitorado conservador paulistano.
Especialistas acreditam que, além de influenciar nas
eleições de 2024, Marçal impactará nas disputas majoritárias daqui a dois anos,
principalmente ao rivalizar com o principal líder da direita, Jair Bolsonaro
(PL). “Estamos assistindo a uma eleição para prefeito de São Paulo que,
simultaneamente, vai organizar o campo conservador”, diz Leandro Consentino,
cientista político e professor do Insper.
“Pablo Marçal tenta se cacifar como representante
legítimo do polo mais à direita, inclusive contra Jair Bolsonaro e suas
indicações, o que claramente vai se refletir de alguma forma em 2026”,
complementa. Já o cientista político Antonio Lavareda utiliza a expressão
“primárias de 2026 e de 2028” para definir o que está ocorrendo no campo da
direita nessas eleições municipais em São Paulo. “É absolutamente natural que
os postulantes à sucessão do ex-presidente Jair Bolsonaro, caso ele se mantenha
inelegível, se lancem nessas eleições para testar o mercado para 2026”, afirma.
Pablo Marçal tenta se cacifar como representante
legítimo do polo mais à direita: (Leandro Consentino, cientista político e
professor do Insper)
Lavareda relaciona o que está ocorrendo na disputa à
prefeitura de São Paulo com o que ocorreu nas eleições presidenciais de 2018,
quando Lula estava inelegível e abriu-se uma competição para ver quem poderia
sucedê-lo naquelas eleições. “Tivemos a presença de Boulos, de Ciro Gomes (PDT)
e de Fernando Haddad, candidato do PT. Ali houve uma disputa para saber quem
passaria para o segundo turno como o representante da esquerda”, compara.
Postura de Bolsonaro sobre apoio a Pablo Marçal é
estratégia tanto para 2º turno quanto para 2026
Para Consentino, o fato de o ex-presidente Bolsonaro
ainda não ter se posicionado de forma veemente em relação a Pablo Marçal, tanto
nas críticas quanto nos elogios, é uma estratégia para que ele tenha margem de
manobra caso precise de eventuais apoios no segundo turno dessas eleições ou em
2026.
Citando Ulysses Guimarães e o conselho de que “em
política você nunca deve estar tão próximo que amanhã não possa ser adversário
ou inimigo, e nem tão distante que amanhã você fique em dificuldade por ter que
estar próximo”, Consentino afirma que “certamente Bolsonaro vai querer ter
algum contato com Marçal caso ele se mostre alguém importante no campo
político”.
Nesse sentido, o ex-presidente Jair Bolsonaro deu
algumas demonstrações de apreço a Marçal. Antes de a coligação da chapa de
Ricardo Nunes aceitar a indicação de Bolsonaro sobre o vice, coronel Ricardo
Mello Araújo, Bolsonaro deu a medalha de “imbrochável” a Pablo Marçal.
Posteriormente, fez elogios a ele em entrevista a uma emissora de rádio.
O analista político Aryell Calmon, coordenador de
estados e municípios da BMJ Consultores Associados, faz a mesma análise e
afirma que “quando Bolsonaro adota uma postura mais comedida, ele ganha tempo
para avaliar qual é a garupa de moto capaz de levá-lo mais adiante”. Na visão
de Leandro Consentino, nomes fortes politicamente na esfera paulista estão mais
incomodados com o crescimento de Pablo Marçal que o próprio ex-presidente Jair
Bolsonaro, pois eles teriam mais a perder localmente que no âmbito federal.
Este seria o caso do próprio candidato à reeleição,
Ricardo Nunes; do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos);
e, ainda, do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), todos críticos contumazes
ao candidato do PRTB. “Marçal sai dessa eleição maior do que entrou e
claramente pode atrapalhar alguns planos na sucessão estadual de Tarcísio, que
quer alguém de sua confiança, caso ele se candidate à presidência em 2026. Além
disso, Eduardo Bolsonaro está de olho em uma das vagas ao Senado e Marçal pode
cobiçar uma delas”, afirma Consentino.
Marçal sai vitorioso independentemente do resultado da
eleição, diz analista: Aryell Calmon afirma ainda que “Marçal já sai
vitorioso desse pleito independentemente do resultado das eleições”, uma vez
que “ele já tinha experiência de marketing digital e ganhou um protagonismo
muito bom nas redes socais para além do seu público”.
“Ele passa a ser mais conhecido e isso representa uma
possibilidade de sucesso eleitoral em 2026, não apenas para o cargo de
presidente, mas também de deputado federal ou de senador”, diz ele. Mesmo
repercussões como a que ocorreu no debate promovido pelo Grupo Flow na
segunda-feira (23), em que Marçal, faltando 10 segundos para o encerramento do
debate, infringiu as regras e foi expulso, seriam estrategicamente pensadas e
positivas para o candidato do PRTB.
“Embora no último debate Marçal tenha dito que mudaria
um pouco de postura, aparentemente esse comportamento é que traz resultados
mais benefícios para ele. No entendimento da campanha, isso resulta em
engajamento e, portanto, traz benefícios para a visibilidade dele”, complementa
Aryell.
Espetacularização da política tem vida curta, diz
consultor político: O consultor político Gaudêncio Torquato, por sua vez,
é cético a respeito da sustentabilidade da projeção de Pablo Marçal. “Acho
muito difícil ele tomar o lugar de Jair Bolsonaro na direita, pois é uma pessoa
sem credibilidade, que não passa confiança e é capaz de pular de um hemisfério
a outro sem convicção nenhuma”, diz.
Para ele, o eleitor começa a desconfiar do candidato
do PRTB. “Marçal tem vida curta na política, ele é um empresário bem sucedido e
preparado para engordar o bolso, mas não para permanecer no futuro. Ele deu uma
mexida no cenário eleitoral, mas quando o eleitor começa a perceber os dribles
que ele está fazendo para aparecer, começa a desconfiar da espetacularização da
política em que, quanto mais barulho, mais mídia ele tem”, afirma Torquato.
O eleitor começa a desconfiar da espetacularização da
política em que, quanto mais barulho, mais mídia se tem. (Gaudêncio
Torquato, consultor político)
Ainda que só o tempo e o resultado das urnas seja
capaz de comprovar a medida dessa nova força política chamada Pablo Marçal, uma
coisa é fato: ele já se mostrou capaz de atrair parte da base conservadora e
provou que Jair Bolsonaro é uma liderança menos resiliente que o seu opositor
da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva.
“Pablo Marçal mostrou que a imagem do Bolsonaro não é
tão forte quanto, por exemplo, a imagem de Lula”, diz Aryell. “Ele conseguiu
capturar as ideias do bolsonarismo sem Bolsonaro e isso é preocupante para o
clã bolsonarista, porque significa que qualquer outro nome com as mesmas ideias
pode crescer sem estar necessariamente vinculado ao Bolsonaro”, complementa.