Na década de sessenta, o cientista behaviorista e
etologista americano John B. Calhon (1917-1995) decidiu criar em laboratório
aquilo que seria sua visão de um mundo superpopuloso. Era a sua versão pessoal
do que seria um mini apocalipse, a partir do que acontece quando uma população
tem tudo o que necessita para viver. O experimento chamado de “Universo 25”.
Para tanto, ele criou um determinado espaço de 2,7 X 2,7 onde ratos e
camundongos, aqui denominado “Universos de camundongos”, viveriam num mundo ideal,
com comida e água à vontade, temperatura ideal, centena de ninhos e ausência de
predadores. Seria como uma “utopia de ratos”.
Formado inicialmente por quatro casais de camundongos,
a população passou a dobrar de tamanho a cada 2 meses. Quando o experimento
alcançou a marca de 620 ratos, os problemas surgiram de todos os lados. A
escassez de espaço acelerava o desmoronamento dessa sociedade. Incapazes de
encontrar seu lugar dentro dessa hierarquia, os ratos mais jovens logo se
tornaram desajustados. As fêmeas solteiras se isolavam, como ermitãs, nos
ninhos mais altos, evitando a todo o custo o acasalamento. Nessa sociedade superpopulosa,
os machos alfa se tornaram excessivamente agressivos, chegando ao canibalismo.
Outros machos passaram a exibir um comportamento de apatia profunda, comendo,
bebendo e se cuidando, alheios ao mundo em redor. Mesmo as mães, oprimidas pelo
estresse da superpopulação, pararam de cuidar das crias, abandonando-as ou
mesmo atacando cada uma delas. Com isso, a mortalidade infantil chegou a
atingir cifras de 96% em algumas áreas do experimento. Mesmo havendo espaço
para 3.840, camundongos a cidade utópica dos ratos ficou estagnada em 2.200
indivíduos.
A partir desse ponto (600 dias de experimento), a
comunidade de ratos entrou naquilo que o cientista chamou de ralo
comportamental, com os animais deixando de cuidar de si e de suas crias e
cessando por completo de interagir normalmente. De certa forma, esse
experimento já era previsível conforme o que dizia o economista inglês Thomas
Malthus (1766-1834) em “Um ensaio sobre o princípio da população”. Para Calhon,
o experimento serviu como uma advertência sobre a questão da superpopulação
terrena, mostrando que, mesmo satisfeitas todas as suas necessidades, haveria,
nesse caso, uma “morte do espírito”.
Na mesma década de sessenta, 30 cientistas visionários
de dez países, liderados por cientistas do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT), reuniram-se na Itália para debater e estudar o futuro da
humanidade e, mais precisamente, a questão do vertiginoso crescimento
populacional e suas consequências para o planeta. O grupo daria origem ao
famoso Clube de Roma, que passaria a buscar soluções socioambientais para o
fenômeno da superpopulação. A esse grupo, foram submetidos problemas como a
explosão demográfica e a pressão sobre os recursos naturais e serviços básicos;
a poluição, o desmatamento e a perda de biodiversidade; escassez de recursos
naturais como a água, energia e outros, e a disparidade entre ricos e pobres
que iria se ampliar muito, gerando conflitos de toda a ordem. De acordo com
eles, era preciso acionar um alarme mundial para chamar a atenção para a
necessidade urgente de mudança de modelo de desenvolvimento em âmbito global,
estimulando debates em busca de soluções sustentáveis.
Em 1972, o Clube de Roma iria publicar seu mais sério
relatório, que viria a se transformar em livro de grande sucesso: “Os limites
do Crescimento”. Tendo à frente o cientista Dennis Meadows e utilizando um
modelo computacional, foram feitas análises de interação entre a população,
recursos naturais, produção industrial e meio ambiente. Os resultados mostraram
que se a população continuasse no mesmo ritmo de crescimento, os recursos
naturais iriam se esgotar rapidamente, levando o mundo a uma crise sem precedentes.
Diante dessa ameaça, os cientistas alertaram para a
necessidade de mudança de paradigma, com a introdução global de novos modelos
de desenvolvimento e de políticas que visassem a diminuição da poluição. Em
1970, a população mundial era de 3 bilhões 695 milhões de habitantes. De lá
para cá, a população aumentou para 8 bilhões e 200 milhões de habitantes, duas
vezes e meia a mais. Naquela ocasião, não havia ainda o fator aquecimento
global e sua consequência à mudança climática, que entrou nessa equação de população
versus recursos naturais para complicar ainda mais o problema relativo à
sobrevivência da espécie humana. Toda essa situação se torna ainda mais bizarra
quando se prevê que, nas próximas décadas, a população global deverá atingir
10,3 bilhões de pessoas. Somente a partir de 2080, é que poderá haver uma
diminuição gradual da população global. Devemos torcer para que essa diminuição
populacional não seja provocada diretamente por ação do próprio planeta,
incomodado com a atuação desses carrapatos humanos sobre sua crosta.