Em que pese o PL tenha se tornado o partido que mais
recebeu votos nessas eleições, e aumentado o número de prefeituras sob seu
comando, o bloco do Centrão irá comandar o maior número de prefeituras.
Quem é o Centrão? É um bloco de seis partidos: MDB,
PP, União, Republicanos, PSDB e PSD. Esse bloco já era considerado a
eminência parda no poder federal. Ou seja, nomeados por esses partidos ocupam
postos-chave no governo e cargos em diversas estatais, agências reguladoras e
outras. Entre eles, há influência de juízes e de direcionamento de gastos do
orçamento federal.
Alguns de seus parlamentares no poder federal fazem
parte da oposição. Mas são minoria, cerca de 15%. A maior parte é silente aos
acordos entre líderes, que definem a agenda legislativa a ser votada na semana
e consequentemente atropelam o poder legislativo. Diga-se de passagem, alguns
dos parlamentares do PL, o maior partido de oposição, fazem parte do bloco do
centrão, mas também são uma minoria, em torno de 15% de dissidentes.
Após os resultados das eleições municipais de 2024,
esses partidos do centrão se tornaram a maior força política nas prefeituras.
Juntos comandam mais de dois terços dos municípios brasileiros. O PL, por
comparação, terá menos de 10% das prefeituras. Essa vitória do grupo era
esperada, uma vez que seus partidos, junto com outros de centro e da esquerda
comandaram 85% do fundo eleitoral e tempo de televisão.
Parece que o sistema de compra de votos, da velha
política, ainda funciona, apesar dos avanços das redes sociais
Ciclo de perpetuação: O que isso significa? Os
prefeitos e vereadores são também cabos eleitorais dos representantes nas
outras esferas. Portanto, mais deputados estaduais, federais, senadores e
governadores serão eleitos por partidos do centrão que da oposição. É
matemático. Isso só muda se a opinião pública entender tais conexões e começar
a cobrar.
Cobrança: Por isso é importante para o eleitor
saber direcionar a cobrança corretamente, pois o centrão se tornou a maior
força política no Brasil. Reforma do judiciário? Centrão. Quer pautar
impeachment de ministro do STF? Cobra do centrão. Quer mais transparência e o
fim da corrupção? Cobra do centrão. Quer menos impostos, menos socialismo e
mais economia de mercado? Mais uma vez, centrão. Quer evitar que o país caia na
ditadura e se alinhe a países que promovem terrorismo e narcotráfico? Centrão!
Plantando sementes do totalitarismo: Em artigos
anteriores nesta coluna avisei dos perigos da reforma tributária e como ela vai
causar danos irreparáveis em todos os setores da economia, centralizar toda a
arrecadação e distribuição de recursos em Brasília. O centrão apoiou sem ter
sequer lido as propostas de reforma tributária em todas as fases de votação.
Mas agora há outros agravantes. Antes, quando um
governo aumentava demais os impostos ou regulamentava demais um setor da
economia, os pequenos e médios empresários optavam por operar na informalidade
antes de decidir fechar as portas de suas atividades. Agora a situação mudou.
Fim da privacidade: O STF acabou com o sigilo
bancário e o governo está normalizando a prática de confisco. Ou seja, não há
como escapar para economia informal se o “sistema” estiver monitorando suas
contas bancárias.
Então os empresários podem optar por operar suas
empresas na informalidade do dólar, euro ou bitcoin como na Argentina dos
últimos anos Kirchner, certo? Pode tentar, mas a complexidade se torna
exorbitante e para uma economia do tamanho da brasileira fica inviável, em
virtude dos limites de circulação de moeda estrangeira.
Mais uma: o DREX - Não bastasse esse impedimento
operacional, o governo federal, junto com o Banco Central, está elaborando o
DREX: a moeda digital do governo. Como se fosse a bitcoin oficial do Estado,
ele será usado para monitorar todo o histórico de trocas em que a moeda foi
usada. Em outras palavras, dará completa visibilidade ao governo de quem está
comprando o quê, de quem, por qual valor, onde, em que dia e hora exatos.
Por enquanto, o DREX será opcional, mas é óbvio que se
tornará obrigatório em um segundo momento, pelo poder de controle total que
essa moeda digital dará ao governo. Pode-se até imaginar a criminalização por
utilizar qualquer outra moeda.
Então, imagine todas essas medidas estruturais que a
esquerda está implementando: aumento de impostos, centralização de arrecadação
e distribuição de recursos através da reforma tributária, monitoramento de
todas as contas bancárias com o fim do sigilo bancário, confisco recorrente e
finalmente o DREX obrigatório. A falta de transparência e os desvios que já são
praticados por Brasília vão acontecer com efeito turbinado.
Esse conjunto de medidas tornam o cidadão refém do
grupo criminoso de Brasília, no comando de toda renda, poupança, bens e
serviços produzidos no Brasil
Mas além de todos esses danos ao cidadão, o que tais
medidas fazem é tornar toda prefeitura e todo governo de estado da federação
IRRELEVANTE perante o poder de Brasília. É compreensível que a esquerda não
esteja preocupada em vencer os pleitos eleitorais nas prefeituras, pois o golpe
de Estado da centralização e concentração de poder já foi dado e o centrão, por
omissão, ignorância ou cumplicidade, apoiou todas as medidas necessárias para
que o golpe fosse dado.
Em outras palavras, a direita e o centrão podem
comandar todas as prefeituras e governos de Estado, mas estarão sob a tutela
permanente do poder federal, aparelhado de corruptos e comunistas.
Ainda há tempo: Todas essas medidas estão em
pauta. Isso significa que estão em curso mas que ainda não estão implementadas
em sua plenitude. A oposição em sua integralidade tem agido para tentar debelar
todos esses planos, mas como vimos, a matemática das eleições não deu o poder
majoritário para os partidos da oposição (PL e NOVO). É por isso que o meu
apelo e dos parlamentares da oposição é sempre para opinião pública participar
e ajudar a cobrar o centrão.
Muitos eleitores não entendem o que relatei acima,
pois não compreendem a dinâmica interna de como o poder local afeta o poder
federal e como o Centrão domina o jogo político e comanda o orçamento. Porém,
estamos chegando lá; a consciência do eleitor está mais atiçada do que nunca e
isso sozinho é capaz de romper qualquer círculo vicioso.