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Compra de votos e crime organizado: A fragilidade das eleições no Brasil

Compra de votos e crime organizado: A fragilidade das eleições no Brasil

Durante uma campanha política no Ceará, vivenciei de perto a prática da compra de votos. Naquela época, a eleição era vista por muitos como uma oportunidade de "ganhar uns trocados". As pessoas se aproximavam dos candidatos pedindo dinheiro em troca de seus votos, e o candidato que oferecesse mais, levava o apoio. A compra de votos é uma realidade frequente em diversas regiões do país, seja com dinheiro vivo ou em forma de bens como cestas básicas, óculos, promessa de emprego ou dentaduras. Mas, para que isso ocorra, é necessário um fluxo contínuo de dinheiro, o que leva à institucionalização do caixa dois.

O aumento do caixa dois, compra de votos e a infiltração de facções criminosas nas eleições geram uma preocupação crescente entre políticos de várias correntes ideológicas. De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, desta terça-feira (22/10), as eleições municipais de 2024 revelaram um crescimento sem precedentes dessas práticas, agravadas pelo uso descontrolado de recursos públicos — R$ 6,2 bilhões em verbas de campanhas e mais de R$ 50 bilhões em emendas parlamentares. O deputado José Nelto (União Brasil-GO) classificou a situação como um “show de horror”, com malas de dinheiro sendo distribuídas em todos os estados, e outros deputados, como Adriana Ventura (Novo-SP) e Jilmar Tatto (PT-SP), reforçaram as denúncias de corrupção generalizada.

Além disso, o envolvimento direto de facções criminosas, como apontado pelo senador Davi Alcolumbre (AP), mostra que essas organizações já estão infiltradas no sistema político. A Polícia Federal apreendeu mais de R$ 50 milhões em dinheiro vivo nas eleições de 2024, mas as tentativas de controle e fiscalização não foram suficientes para conter a onda de corrupção. Relatos de crimes eleitorais se repetem em diversas cidades do Brasil, evidenciando a fragilidade do sistema eleitoral e a necessidade urgente de reformas estruturais.

Para combater esse cenário alarmante, além das discussões sobre o retorno do financiamento empresarial, é fundamental investir na educação do eleitor. A conscientização sobre o valor do voto e o impacto das escolhas eleitorais pode reduzir a vulnerabilidade dos eleitores à compra de votos. É preciso promover campanhas de educação cívica, desde as escolas até as comunidades, para que o eleitorado entenda que o voto consciente é uma ferramenta essencial para a defesa da democracia e o combate à corrupção. Somente com eleitores mais informados e conscientes será possível construir um sistema eleitoral mais justo e protegido contra as influências corruptas.


João Ricardo Lopes - Jornalista




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