Embora não admita de público, a vitória patente do presidente
republicano, Donald Trump, trará sim consequências que, direta e indiretamente,
irão afetar o atual governo brasileiro. Foi-se o tempo em que as eleições americanas
ocupavam o rodapé dos jornais por aqui. Mesmo a despeito da política externa do
Big Stick e da América Para os Americanos, não havia esse estreitamento e essas
interrelações capazes de influenciar o governo e até a força-lo a adotar
alterações nessas relações com o irmão do Norte.
O mundo, quer alguns desejem ou não, está num processo de formação
gigantesca global. Nesse processo, é preciso lembrar que, no caso do Brasil,
geografia é destino e até sina. Por mais que o atual governo busque um protagonismo
dentro do Bloco dos BRICS, é certo que esse clube de além mar possui suas
próprias estratégias e objetivos. E eles utilizam-se do Brasil e do resto do
continente Sul apenas para formar uma base de apoio e logística próxima aos
Estados Unidos, de onde pretendem alcançar a América do Norte.
Como uma espécie de boi de piranha, o Brasil é usado assim para as
manobras de China, Rússia, Irã e outras ditaduras para fustigar, de perto, os
americanos. Para as esquerdas do continente, que vão sendo cercadas pelo avanço
dos conservadores de direita, os BRICS representam uma tábua de salvação, onde
podem se aninhar para pressionar, por viés econômicos e outros planos, os EUA.
Caso tenha possibilidades de cumprir, ao menos, metade do que prometeu
em sua campanha rumo à Casa Branca, os BRICS irão enfrentar o seu maior revés
desde que foi criado. Internamente, para nosso país, a vitória de Trump trará
reflexos diretos para a área econômica, podendo servir de chamariz para atrair
os capitais estrangeiros que ainda insistiam em permanecer no Brasil. De cara,
essa vitória elevou o valor do dólar, empurrando, mais ainda, nossa moeda
ladeira abaixo.
A maioria obtida pelo Partido Republicano no Congresso americano,
juntamente com a Suprema Corte, dará um poder gigantesco ao presidente Trump,
que retorna com a experiência adquirida no mandato anterior e com vontade de
fazer o que não pode, quando sua reeleição foi obstada por uma vitória
discutível, como no último pleito que concorreu. Já se comenta que os governos
de esquerda não terão vida fácil com Trump na presidência e isso pode incluir o
Brasil, que, nos últimos anos, tem fustigado abertamente os americanos,
buscando comprar uma briga que, seguramente, não pode suportar nem meio round.
Depois da Argentina, que vai seguindo, aos poucos, pelo caminho da
racionalidade e da prudência, chega a vez dos Estados Unidos voltarem ao eixo e
ao leito normal do capitalismo liberal, donde podem alcançar a invejada posição
de maior economia e democracia do planeta. Com essa nova configuração no
governo americano, o menos pior que pode acontecer ao Brasil é ele ser ignorado
na política externa de Trump, o que também configuraria um imenso retrocesso
para nosso país.
A ilusão alimentada pelo pessoal de esquerda de que o Brasil pode, num
mundo globalizado, seguir adiante e sem problemas, separado dos EUA, é, além de
uma falácia política, a razão pelo qual estamos cada vez mais empurrados e
atolados nas areias movediças de um clube internacional de ditadores, cutucando
o leão com vara curta. A essa hora, Maduro está coçando o bigode e Lula, as
barbas. Melhor diante dessa nova realidade, colocar bigode e barba de molho.
Peso da opinião pública: Anderson Almeida, advogado criminalista, enviou-nos um artigo sobre o caso Diddy e o peso da opinião pública na responsabilização por crimes sexuais. Veja a íntegra a seguir. (Vídeo ~~~)
Formalmente, a opinião pública não é considerada para fins penais. Nada em nossa legislação confere peso ou legitimidade ao clamor popular. Materialmente, entretanto, a grita em torno de crimes midiáticos costuma influenciar ações penais.
Casos como o das acusações de crimes sexuais envolvendo o rapper Sean
John Combs, conhecido também como P. Diddy, mostram um lado da relação entre
Justiça e opinião pública que passa despercebido: a proteção da vítima.
O fundamento adotado para negar a fiança de US$ 50 milhões — algo em
torno de R$ 286 milhões — para que o rapper respondesse ao processo em
liberdade foi que ele poderia interferir nas investigações. É um argumento
válido, mas que só ganha tração graças à indignação popular.
Sob esse viés, a opinião pública tem sido a fiel da balança para
garantir que crimes sexuais cometidos por pessoas poderosas sejam efetivamente
punidos.
No Brasil temos casos em que a opinião pública foi tão ou mais
importante para a punição de agressores. Um dos casos recentes é o do
empresário Thiago Brennand, condenado a mais de 20 anos de prisão em processos
por violência contra mulher. Seus crimes só vieram à tona quando um caso de
agressão em uma academia foi noticiado pela imprensa. Só com a exposição
pública de seu algoz as vítimas decidiram romper o silêncio e procurar as
autoridades.
Caso semelhante ocorreu com o médium João de Deus. Só a exposição
pública — e a indignação da opinião pública — fez com que uma personalidade
cortejada por empresários, políticos e famosos antes tida como intocável fosse
alcançada pela lei.
Não estou pregando a violação dos direitos dos acusados de crimes
midiáticos. As garantias previstas em lei devem ser preservadas sempre para a
integridade da Justiça. Contudo, no que diz respeito a crimes sexuais, é
inegável a contribuição da mídia e da opinião pública para romper o ciclo de
silenciamento a que as vítimas costumam ser submetidas. (