Em passado, não muito distante, dizia-se que as criações de fatos
inusitados, dentro da política, tinham como objetivo levar a opinião pública a
redirecionar sua atenção, não para o que acontecia no país, mas para assuntos
de menor importância, deixando assim, a realidade de lado. Políticos
descobriram que as multidões preferem dar ouvidos a assuntos que apontem sempre
para um futuro melhor, deixando de lado as cruezas do aqui e agora. Daí que,
quanto mais colorida forem as promessas de futuro feitas pelos políticos, maior
é a adesão dos eleitores.
As multidões não se apegam à realidade e não gostam de ouvir verdades,
ou sobre fatos incômodos. Preferem sempre a fantasia. Nesse caso, melhor
posição para os políticos de língua afiada, que sabem falar mal de seus
opositores e bem de si próprios. Prometem um país que não podem entregar, pois
sabem que se o fizessem, eles próprios estariam se prejudicando.
Fossem as promessas de campanha, transformadas em programa obrigatório
de governo, com direito a punir aqueles candidatos eleitos que não cumprissem o
prometido, poucos ou raros políticos teriam vida fácil neste país. Naquele
tempo, essa estratégia era conhecida como factóide. Depois da redemocratização,
com a volta dos políticos ao poder, muitos factóides foram sendo criados para
desviar a atenção do público para o que acontecia nos bastidores do poder.
Talvez venha daí que, em regra, os eleitores de nosso país têm eleito muito
mais animadores de auditórios do que homens públicos com vocação para servir a
nação.
Políticos sérios e devotados à causa pública, com ficha limpa e vontade
de trabalhar, têm tido vida curta no Brasil. A razão é que, para essa minoria,
não há espaço no conturbado e ilusório mundo político nacional. Chega-se a
pensar que os eleitores nacionais não apreciam muito os políticos arrumadinhos
e de vida limpa e monótona. Também não é por outra razão que, caso o eleitor
resolva fazer um levantamento da vida pregressa da maioria dos candidatos que
disputam cargos públicos em nosso país, chegará à conclusão de que boa parte
não possui curriculum vitae – como os que são apresentados nas disputas por
vagas de emprego -, mas sim uma enorme capivara contendo uma série de delitos e
crimes, que perfazem quase todo o Código Penal Brasileiro. De narrativa em
narrativa, vai se empurrando o Brasil rumo ao futuro. Todos nós, bons e maus,
estamos indo ao futuro, independente de nossa vontade. A diferença é que o
futuro prometido por aqueles que não possuem compromisso ético com o amanhã, é
como um castelo de areia construído a beira-mar.
Esse introito vem a propósito de algumas das mais recentes narrativas,
lançadas ao vento, pelas elites no poder e que servem apenas como cortina de
fumaça para esconder a realidade de escombros que vai sendo deixada para trás
ou varridas para debaixo dos novos e caros tapetes palacianos. Uma dessas
narrativas, repetidas por mais de duas décadas, diz que é preciso acabar com a
pobreza no país. Não tomando o caminho reto que é o de acabar com a corrupção
endêmica, que é uma das suas principais causas, mas acabar com a pobreza,
empurrando os ricos também para o patamar da pobreza por meio da taxação das
grandes fortunas.
Obviamente que não se fala aqui de taxar as grandes fortunas amealhadas
com a corrupção e fruto de assalto aos cofres públicos. A falsa narrativa aqui
é que são os ricos os responsáveis pela pobreza e não os políticos que
dilapidam as riquezas nacionais em conluio com os empresários amigos e, com
isso, impedem a superação da pobreza pela maioria da população.
Outro factoide moderno, recém saído do forno, diz que é preciso acabar
agora com a jornada de trabalho 6×1. Ocorre que esse é mais um factoide,
lançado ao vento, para destruir o que resta de capitalismo e livre inciativa em
nosso país, deixando os empresários sem condições alguma de produzir ou lucrar,
já que, nesse novo modelo, os salários permanecerão os mesmos, sem redução. É
claro aqui também que, nessa narrativa, não se apontam os impactos desse modelo
sobre a economia e nem apresentam estudos consistentes para implementá-lo.
Talvez a proposta para contrabalançar o prejuízo decorrente da pouca
frequência do trabalhador, seria atenuada pela redução de impostos
proporcionalmente. Reduz-se as horas trabalhadas, reduzindo também, na mesma
medida, a carga tributária sobre os empresários.