Abro as redes sociais e vejo que, em
inglês, Janja xingou Elon Musk. “Fuck you!”, disse a senhora de quase 60 anos,
visivelmente embriagada de poder. Mas se tivesse sido apenas isso, vá lá.
Porque Janja disse mais. Ela confessou que Alexandre de Moraes é parceiro de
Lula naquilo que considero a implantação de um regime autoritário no Brasil. E,
mais grave do que tudo isso junto & misturado, Janja se referiu a um
infeliz suicida com o desdém típico de uma escrava da ideologia. Ela tratou uma
vida perdida como um mero "bestão que se matou com fogos de artifício”.
Futuro remoto: Sim, leitores de um
futuro remoto. Tudo isso disse a primeira-dama do Brasil neste ano da Graça de
2024, durante um evento que reuniu os presidentes das 20 nações mais ricas do
mundo. E às vésperas de Elon Musk, bilionário alvo de seu insulto mais
adolescente, assumir um cargo no governo dos Estados Unidos – governo esse que
Janja, como esquerdista bem-adestrada que é, trata como inimigo.
Onde não bate sol: Na hora, minha
reação foi semelhante à sua: uma confusão de maus sentimentos, acompanhada por
um surto de ideias para textos que jamais serão escritos. Um deles, inclusive,
trazia o mesmo insulto em inglês, mas mudava o vocativo para questionar se o
brasileiro, subtipo comum, ainda é livre para mandar um ministro do STF tomar
naquele lugar onde não bate sol. Não é. Podem tirar seus cavalinhos da chuva.
Piadinhas impublicáveis: Fiquei
ali, degustando a raiva, a indignação, a impotência e a vergonha de ser
governado por essa corja. Fiz de mim para minha mulher, umas piadinhas
impublicáveis. Maldisse o feminismo, o wokismo, o marxismo e, já que estava
maldizendo à toa mesmo, o alexandrismo. Não era ódio - por mais que
intelectuais como Felipe Neto digam o contrário. Estava mais para aquele nojo
que se sucede a uma, duas, três, dez, cem, mil injustiças. Todo santo dia.
Por quê?! Aí fiz pergunta fatídica
– por quê?! Não deu outra: fui tomado por uma enorme (e surpreendente)
necessidade de rezar por Janja e, já que estava ajoelhado, por todos os
poderosos que a cercam (inclusive Alexandre de Moraes e Lula) e os servos que a
bajulam. Porque, apesar das aparências, Rosângela Lula da Silva, a Janja, deve
ser hoje uma das pessoas mais infelizes do país.
Aquela deslumbrada? Infeliz,
aquela deslumbrada? Sim. Os sinais estão aí para quem quiser ver. A começar
pela incapacidade de reconhecer seu lugar no mundo. O que reflete uma ideia
desmensurada da própria importância. Janja sofre quando a criticam, pode ter
certeza disso; mas sofre mais quando a elogiam, quando esperam que ela aja de
acordo com a imagem que a própria Janja projeta no mundo. Algo que ela jamais
vai conseguir e é de partir o coração vê-la se esforçar assim para corresponder
ao reflexo que encontra no espelho. Sei disso porque já fui assim.
Somos: Mas não é só isso. Nunca é.
Janja evidentemente se esforçou para alcançar o mítico sucesso, e deve ter
feito acordos insondáveis consigo mesmo, cada qual justificando um erro que,
acreditava ela, desaguaria num bem maior. Para si e para o mundo. Porque é
dessa forma, sempre em termos grandiosos e em encruzilhadas simbólicas, que
negociamos nossa alma e nos transformamos em monstros grotescos incapazes de
assim se reconhecerem. Mas são. Somos.
Tão pouco... Assim como somos
incapazes de reconhecer a infelicidade inerente à alma que se deixa corromper
por tão pouco, ah, Janja, como queria que você soubesse que é muito pouco esse
luxo, essas mordomias, essas viagens, esses aplausos e esses gritos de “diva!”.
Somos. Estou falando da Janja, mas também de você e de mim, que nos deixamos
levar pela multidão e pelo orgulho ferido e neste exato momento estamos
xingando Janja de tudo e mais um pouco. Inclusive daquilo.
Asco: Por isso, depois de alguma
reflexão e outros tantos mergulhos na piscina (tô quase começando a gostar de
calor), achei melhor deixar de lado a tentação de apontar o dedo para a
infeliz, profundamente infeliz, infelicíssima Janja. Mais do que isso, decidi
me inspirar em São Francisco de Assis e dar um abraço na figura que, se me
causa tanto asco, é porque sei que bem poderia ser eu.
Sorry, ateus: Por fim, resolvi
ocupar este espaço hoje para pedir a você que crê (sorry, ateus): faça uma
prece por Janja. Não para que ela, por conta própria, perceba o que está
fazendo. Isso não vai acontecer. E sim para que Deus tenha misericórdia de mais
essa pessoa que parece ter perdido todo e qualquer contato com a verdadeira
caridade. Que parece ter perdido a sua humanidade – a ponto de chamar um
parceiro de naufrágio (ou você acha Tiü França e Janja são assim tão
diferentes?) de “bestão”.
Utopia tupiniquim: Essa pessoa que
está cega pelo sucesso (tantos estamos), que se deixa levar pelos elogios, os
sinceros e falsos, mas sobretudo os falsos; que está enamorada de si e que se
acredita uma divindade destinada a estabelecer as bases para uma utopia
tupiniquim. Essa pessoa que é calhou de neste texto ser Janja, mas que pode
muito bem ser você ou eu. E que, por isso, não consegue nem vislumbrar o que
ela sabe (no fundo, sabe; todos sabemos) ser a Verdade.