Os primeiros movimentos da política
comercial de Donald Trump em relação aos seus parceiros internacionais, com a
aplicação de tarifas de 25% sobre as importações procedentes da China, do
México e do Canadá mexeram com os nervos dos analistas, e mais ainda dos
palpiteiros, curiosos e militantes em relações exteriores. Há duas reações
básicas em circulação. A primeira é que “o mundo multipolar” está ameaçado por
uma “polarização” imposta por Trump e suas tarifas, e isso seria um horror. A
segunda é a ressurreição do sentimento nacionalisteiro dos vira-latas que
povoam a maior parte do mundo conhecido.
Não se sabe ao certo, entre os
analistas, o que o Brasil tem ganhado na prática com o mundo “multipolar” em
que todos, teoricamente, têm a mesma estatura e “ninguém é mais que ninguém”.
Ao fim de toda essa conversa, das miragens das relações “Sul-Sul”, do “Sul
Global” e outras lendas do folclore diplomático, o Brasil continua sendo um
anão comercial. Apesar do espetacular sucesso do agronegócio, tudo o que
conseguimos foi um miserável 1% do comércio internacional. Salvo uma ou outra
exceção, não há rigorosamente nenhum produto brasileiro que o mundo queira
comprar – é só matéria-prima e produtos agropecuários. Não temos preço. Não
temos qualidade. Não temos tecnologia. Não conseguimos competir.
Não adianta nada ficar gritando da
arquibancada sem influir no resultado. O Brasil precisa mais dos Estados Unidos
do que os Estados Unidos precisam do Brasil. De um jeito ou de outro, vai ter
de tomar uma cervejinha com Trump e ir junto com as outras marias
A “política externa altiva” do
Itamaraty, em vigor desde 2023 com os resultados pedestres que se sabe, é
fervorosamente “multilateralista”, é claro – você sempre pode contar com a
diplomacia brasileira para escolher o caminho que mais prejudica os interesses
objetivos do Brasil. Ou seja: se o Itamaraty está ansioso com a “polarização”
de Trump, o cidadão pode mudar de canal, porque não vai sair nada de bom desses
chiliques patrioteiros contra os Estado Unidos e as novas tarifas. O Brasil é
um dos países mais hostis do mundo ao livre comércio; mantém tarifas de
importação exorbitantes (taxa de 25%, para a Receita Federal, é uma piada) e
exigências burocráticas mortais para os importadores. Vai reclamar do quê?
Donald Trump não está polarizando nada.
Está, com suas decisões sobre tarifas de importação, apenas protegendo os
interesses da economia do seu país – como toda nação do mundo tem direito de
fazer, e faz. O que o Brasil faria se um número cada vez maior de indústrias se
mudasse para a Argentina ou para o Paraguai e passasse a exportar para o
consumidor brasileiro, sem imposto nenhum, o que até a véspera produziam aqui?
De mais a mais, não adianta nada ficar
gritando da arquibancada sem influir no resultado. O Brasil precisa mais dos Estados
Unidos do que os Estados Unidos precisam do Brasil. De um jeito ou de outro,
vai ter de tomar uma cervejinha com Trump e ir junto com as outras marias - e
pagar as tarifas impostas.
A “política externa altiva” acha que o
Brasil tem de ficar parecido com a Etiópia, e não com os Estados Unidos. É
contra a entrada do Brasil na OCDE, que reúne os países mais bem-sucedidos do
mundo – e que adotam regras comuns de sanidade gerencial. Retira-se das
reuniões na ONU, junto com as piores ditaduras do planeta, para protestar
contra Israel. Acha que a China vai largar tudo para defender o governo Lula. É
a favor do Irã e de praticamente todas as tiranias que mais agridem os direitos
humanos básicos. É a favor da fraude eleitoral mais escandalosa que o mundo viu
nos últimos – a “eleição” de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela; Lula
fica murmurando que não apoia, mas manda a presidente do seu partido ir à posse
do ditador.
Anão diplomático é isso aí. Mas se
gosta de agir assim, tem de assumir as consequências da própria nulidade.