Era um belo domingo
de sol em Brasília. Ou, como diria William Bonner, “até as nuvens ficaram mais
bonitas” naquele dia. Lula estava em Araraquara. Fux estava em Dubai e
Alexandre de Moraes se deliciava com o famoso sanduíche de mortadela do Mercado
Municipal de São Paulo, mêo. Em frente aos quarteis da capital, porém, um terrível
golpe de Estado estava sendo gestado. (Tá coroando! Tá coroando!).
— Seguinte. Vamos
avançar pela Praça dos Três Poderes — instruiu a líder do grupo, a perigosa
terrorista extremista direitista fascista bolsonarista Debora Rodrigues dos
Santos, também conhecida pelas alcunhas de Cabeleireira, Tesoura Ligeira e
L’Oreal. — Você, Carlos, comanda o ataque ao Planalto, ok?
Zea mays
everta: Girando maniacamente a manivela de sua pipoqueira Kalashnikov,
Carlos Antônio Eifler (alcunhas: Amidão, Popicor e Zea mays everta) fez que sim
com a cabeça, enquanto preparava mais uma baciada de munição. Em sua mente, ele
já tinha tudo planejado: granadas de pipoca bem salgadinha manteriam as defesas
mais jovens nutritivamente entretidas enquanto o golpe se desenrolava em volta
delas, como uma série da Netflix.
— E você, Otoniel... Otoniel! Tô
falando com você. Prestenção! Isso daqui é um golpe de Estado, não um domingo
no parque, não — disse Tesoura Ligeira para Otoniel Francisco da Cruz, mais
conhecido como Sorveteiro, Zero Kelvin e Ai Que Saudade do Cornetto de Rum com
Passas.
— Já sei. Eu fico responsável por tomar
o Congresso.
— Isso mesmo.
Bolinhas de gude e estilingues
— Mas não é justo. Eu tenho a Câmara e
o Senado pra ocupar. E, dependendo da temperatura, minha munição vai derreter
toda — reclamou ele. Como toda líder revolucionária, Débora pensou em punir a
ousadia do sorveteiro com o pelotão de fuzilamento. Mas aí pensou que deve ser
difícil fuzilar alguém com bolinhas de gude e estilingues, né? Melhor não.
— Não se preocupe com isso — disse ela.
— Você contará com a ajuda da nossa arma secreta.
— O Vendedor de Algodão Doce?
— Cala a boca, Zero Kelvin! Você não
sabe o que significa uma arma secreta?
Otoniel deu de ombros e se concentrou
em organizar os picolés dentro do carrinho. Seu plano era anular as defesas
legislativas usando bombas de brain freeze. Sabe quando você morde o sorvete ou
bebe um gole de cerveja bem gelada e sente aquela baita dor de cabeça? Então.
Arma de destruição em massa
— E você, dona L’Oreal? Como você
pretende tomar o STF? Hein? Hein? — perguntou alguém, não sei quem porque
estava distraído assistindo a um capítulo de “Vale Tudo”.
Débora não disse nada. Ela apenas
estendeu o braço, pegou sua bolsa, abriu ruidosamente o zíper e de dentro dela
— tchanananam! — tirou um batom. (Daqui de longe não dá para identificar a
marca, desculpe). Ao ver aquela arma de destruição em massa, não apenas Carlos
e Otoniel, mas os golpistas todos ficaram paralisados como nativos diante de
uma garrafa de Coca-cola (Ref.: “Os Deuses Devem Estar Loucos”).
— Oooooooooh! — disseram eles em
uníssono, como se fossem lêmures capazes de dizer “Oooooooooh!” em uníssono.
Débora guardou o batom na bolsa, levantou o braço como se estivesse num
daqueles comícios em Nuremberg, respirou fundo e... e... e... e... e... —
gostaram do suspense?
O resto é história
E incitou a direitada:
— Todos entendidos? Bora lá acabar com
a comunistada, cambada! Aiô, Silver! — gritou ela antes de tocar o berrante e
dar início ao golpe.
O resto é história, como se diz quando
se está com preguiça de dizer. Mas já adianto que, depois de muitos vidros quebrados
e até umas escatologias impróprias para o horário (qualquer horário), o golpe
foi frustrado com a chegada dele, o Defensor da Democracia Inabalada, o Senhor
das Instituições Incorruptíveis, o Rei da Caixa Alta e dos Pontos de
Exclamação, o Mascotinho da New Yorker.
Big Alex tirou um fiapo de mortadela do
dente, abriu seu sorriso mais sádico e disse.