Milhares de pessoas vestidas de verde e
amarelo se reuniram nesta quarta-feira (7) para uma caminhada pró-anistia em
Brasília. Com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e de dezenas de parlamentares, a
oposição espera aumentar a pressão sobre o presidente da Câmara dos Deputados,
Hugo Motta (Republicanos-PB), para destravar a votação do projeto de lei da
anistia para os presos do 8 de janeiro.
Bolsonaro participou do evento, apesar
da orientação de seus médicos para evitar estar em meio a grandes públicos por
pelo menos três semanas. O ex-presidente recebeu alta no fim de semana, após
fazer uma cirurgia no intestino e ficar internado por 22 dias, devido a
complicações do atentado que sofreu em 2018.
Ao fazer um breve discurso para a
multidão, ele defendeu que a decisão sobre a anistia aos envolvidos nos atos de
8 de janeiro de 2023 é uma prerrogativa do Congresso e "ninguém tem que se
meter".
Além dele, discursaram no evento a
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG),
Gustavo Gayer (PL-GO), Luciano Zucco (PL-RS), Eros Biondini (PL-MG), Helio
Lopes (PL-RJ), Domingos Sávio (PL-MG); os senadores Marcos Pontes (PL-SP),
Marcio Bittar (União-AC), Magno Malta (PL-ES) e Eduardo Girão (Novo-CE), entre
outros parlamentares da oposição.
Do carro de som, Michelle lembrou uma
decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes que, ao
analisar um pedido da defesa de Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio de
Janeiro condenada em um desdobramento da Lava Jato, disse que a prisão de
mulheres grávidas ou com filhos sob os cuidados delas era absolutamente
preocupante e, por isso, argumentou por medidas alternativas à prisão.
"Débora [Rodrigues] pegou dois
anos de prisão, está em casa, pode voltar para a cadeia, tem dois filhos
pequenos. Por que a balança só pesa para um lado? Temos que exigir anistia já,
justiça para Débora, justiça para Vildete, de 74 anos com 40 quilos que está
tratando de um câncer e não pode estar em casa", disse Michelle, se
referindo a duas mulheres que foram presas pelos atos de 8 de janeiro.
A ex-primeira-dama e o pastor Malafaia
agradeceram ao ministro do STF, Luiz Fux, que votou por uma pena de um ano e
meio de reclusão para a cabeleireira Débora Rodrigues, que escreveu com batom a
frase "perdeu, mané" na estátua "A Justiça", que fica em
frente ao STF, durante os atos de 8 de janeiro.
"O ministro Fux acaba com a farsa
do golpe. O ministro Fux desmascarou [o ministro do STF] Alexandre de Moraes.
Ele disse: não tem prova de golpe de Estado, não tem prova de associação
armada, não tem prova de abolição violenta do Estado Democrático", disse o
pastor, salientando que a anistia é prerrogativa do Legislativo. "STF não
pode meter o bedelho", finalizou.
O deputado Nikolas Ferreira falou diretamente ao presidente da Câmara, Hugo Motta.: "Meu recado é específico para quem está sentando em cima. Ontem a gente votou, com meu voto contrário, o aumento de deputados aqui. Aumento de deputados não é prioridade para o nosso país. Sabe o que é prioridade? Anistia já. Deputado Hugo Motta, presidente dessa Casa, você foi eleito com os nossos votos, confiamos e o povo brasileiro está aqui andando, caminhando, pedindo para você: paute a anistia por honra, por dignidade, por fazer o que é certo, porque nosso país não pode ficar refém simplesmente de uma decisão de uma pessoa", disse Nikolas.
A deputada Caroline De Toni (PL-SC),
por sua vez, prometeu apoio à anistia "geral e irrestrita aos presos
políticos do 8 de janeiro". Ela também lembrou que a Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara, estava votando o pedido do PL para a suspensão
da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem, que também pode beneficiar
Bolsonaro – o pedido foi aprovado na mesma tarde.
Vestindo uma camiseta onde se lia
"2026 já começou", em referência às próximas eleições, o deputado
Gustavo Gayer (PL-GO) se emocionou ao enaltecer Bolsonaro e disse que "não
vamos abandonar aqueles que acreditam em nosso país". "Vamos voltar
para as ruas todas as vezes que nosso capitão nos chamar", completou
Gayer. Ao lado dele, o ex-presidente também chorou.
"Temos o maior desafio do momento,
que é a anistia aos presos políticos do dia 8 de janeiro, que não tiveram
absolutamente dupla jurisdição, não tiveram ampla defesa ou acesso e estão lá
numa situação deplorável. Esse não é um assunto de direita, é de esquerda, nem
contra governo nem a favor, é um assunto de humanidade", disse o senador
Girão, um dos primeiros parlamentares a falar durante a caminhada.
Além dos políticos, familiares de presos, influenciadores digitais e caravanas de pelo menos nove estados estiveram presentes na manifestação pró-anistia em Brasília. Participando da caminhada, Raquel, a esposa de um dos presos, contou à Gazeta do Povo que espera que a anistia possa beneficiar seu marido, condenado a 17 anos de prisão. "A gente está lutando para que a anistia seja aprovada, para que os nossos saiam dessa injustiça, que as famílias possam reviver", disse ela.
Malafaia, por sua vez, tem reforçado
que o ato foi registrado junto às autoridades locais e conta com esquema de
segurança para evitar infiltrações ou atos violentos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) não está em Brasília nesta quarta-feira, já que embarcou para a Rússia na
noite de terça-feira (7).
Motta, eleito com o apoio da oposição e
do governo, chegou a fazer acenos favoráveis ao PL da anistia no começo do ano,
mas depois passou a dizer que a proposta não era prioritária para o país. A
resistência fez com que a oposição iniciasse uma obstrução dos trabalhos na
Câmara, mas a estratégia ainda não foi capaz de dissuadir Motta, que sofre
pressão do STF e do governo federal, ambos contrários à anistia