Neste 1º de Maio, o que mais se ouviu
por parte das lideranças sindicais, nos principais eventos de comemoração da
data, foram referências ao fim da escala 6×1. Ao que parece, as centrais
sindicais estão abraçando a proposta de redução da carga horária semanal de 44
para 36 horas. Essa proposta vem ganhando maior aderência dos sindicatos, pois
eles já se convenceram da impossibilidade de ganhos salariais reais em
decorrência à crise econômica que o país atravessa. O próprio governo não faz
alarde público dessa proposta, mas, nos bastidores, apoia essa medida, pois é a
única que pode oferecer aos trabalhadores neste momento.
Nos mesmos moldes da recomendação
feita recentemente pelo presidente ao dizer: “se está caro, então não compre”,
é oferecida a proposta: “se não há possibilidade de aumentar os ganhos
salariais da classe trabalhadora, então trabalhe menos.” Caso a PEC sobre o
assunto apresentada venha a ser aprovada, poderá provocar, num primeiro
momento, a perda de mais de 18 milhões de empregos, comprometendo até 16% do
PIB do país. Mas parece que isso não é levado a uma discussão aprofundada pelos
proponentes dessa medida.
Aproveitando a ocasião pelas comemorações
do Dia Internacional do Trabalho, o presidente Lula defendeu, na última
quarta-feira, a revisão da jornada de trabalho, afirmando que era chegada a
hora de colocar a proposta em discussão: “Vamos aprofundar o debate sobre a
redução da jornada de trabalho vigente no país, em que o trabalhador e a
trabalhadora passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso.”
Ainda, segundo o presidente, “é chegado o momento de o país dar esse passo.”
Do outro lado, pensam os economistas
que enxergam essa proposta apenas oportuna pelo tempo eleitoral. Parlamentares
da base também entraram nessa discussão e prometem avançar com essa pauta,
mesmo na contramão da realidade econômica e financeira do país. Se for contar
apenas com a bancada de apoio que possui dentro do Congresso, a discussão desse
assunto ainda vai longe e sem data para a conclusão.
Como o Brasil é o que é, existem
também algumas lideranças da oposição que se mostram simpáticas à redução da
jornada de trabalho. Afinal, as eleições de 2026 estão se aproximando e é
preciso ter o que oferecer nas campanhas. A turma dos economistas que usa a
cabeça para pensar saídas positivas para o país afirma que essas medidas, caso
aprovadas, irão causar sérios impactos nos custos empresariais, especialmente
para as pequenas empresas, e, com isso, afetar negativamente a produtividade. A
questão aqui é saber se a redução de jornada de trabalho, ao aumentar os custos
e comprometer a produtividade, afetando empresas que mais geram empregos, seria
viável sem uma redução também nos salários.
Para os que acreditam que sim, a
justificativa para essa disparidade é que existem hoje ganhos elevados no
empresariado. Àqueles que apostam nas novas tecnologias que trazem mudanças na
forma e no modelo atual de trabalho, existe possibilidade de redução da jornada
semanal. Olhando o Brasil do alto e sem as interferências políticas e
partidárias, o que se observa é que, neste momento, não há espaço para a
implementação dessa proposta. É o retorno do velho vaticínio proferido nos anos
cinquenta pelo antropólogo e etnólogo francês Lévi-Strauss (1908-2009), quando,
em visita a nosso país: “O Brasil vai sair da barbárie sem conhecer a
civilização.” A frase, detestada por muitos mostra a importância do
conhecimento, da educação e mesmo do preparo técnico para o trabalho na
transformação social, econômica e política do Brasil. Não é pelas mãos de
políticos que o Brasil vai ser conduzido ao pleno desenvolvimento, é pelas mãos
dos professores. A redução da jornada vem antes da livre produção de riquezas,
colocando e antecipando o bônus antes do ônus.