Já se passou mais de uma semana desde que o escândalo
das fraudes bilionárias no INSS veio à tona e o presidente Lula permanece em
silêncio absoluto. Nenhuma palavra, nenhum gesto público, nenhuma menção aos
milhões de aposentados que tiveram seus benefícios saqueados por sindicatos e
associações fantasmas. Em vez disso, Lula optou por prestigiar os
representantes das mesmas estruturas que, em parte, protagonizaram o esquema:
nesta semana, realizou uma cerimônia no Palácio do Planalto com lideranças
sindicais, em antecipação ao primeiro de maio.
Enquanto o presidente se reúne com sindicalistas, os lesados seguem sem resposta. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos e teve um confronto acalorado com parlamentares. Deixou o plenário sem explicar como os valores desviados serão devolvidos. A incerteza permanece: quem vai devolver o dinheiro dos aposentados? Quando? De que forma?
"Se a Presidência da República não tem coragem de reconhecer o sofrimento dos aposentados, tampouco terá coragem de enfrentá-los com justiça. É preciso perguntar: até quando o Estado brasileiro vai tratar seus cidadãos honestos como a última linha da planilha de custos?"
Até agora, o que se sabe é que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o ressarcimento não sairá do orçamento federal. Na semana passada, o PSOL pediu abertura de um crédito extraordinário de R$ 6,3 bilhões para ressarcir os aposentados. Nada foi dito até agora sobre cobrar os sindicatos que cometeram a fraude.
Milhões de aposentados foram lesados entre 2019 e
2024. A CGU revelou que o INSS ignorou todos os sinais de alerta: aumentos
inexplicáveis na quantidade de “associados”, reclamações em massa, denúncias
reiteradas. Mesmo assim, o INSS continuou autorizando os descontos
compulsórios. Foram R$ 6,3 bilhões desviados, uma quantia que revela não apenas
um golpe, mas um sistema organizado de exploração institucionalizada.
A Controladoria também informou que carros de luxo, joias, imóveis e até armas foram apreendidos com os envolvidos. Mas o dinheiro? Esse ainda não voltou. E, ao que tudo indica, a conta será dividida entre todos nós. Ou então jamais será paga.
É dentro desse contexto que se torna simbólico e
profundamente ofensivo o silêncio do presidente da República. Lula, que se
apresenta como defensor dos pobres, não dedicou uma única frase de
solidariedade aos aposentados. Tampouco prometeu responsabilizar quem deve. Em
vez disso, preferiu sorrir ao lado de dirigentes sindicais, muitos dos quais
são próximos das mesmas estruturas que se beneficiaram dos esquemas agora
investigados.
A cada novo dia sem resposta, o recado do governo
parece mais claro: a prioridade não está nas vítimas. A cerimônia com os
sindicalistas mostra que a lealdade de Lula está onde sempre esteve, com os
dirigentes, não com os trabalhadores. Se a Presidência da República não tem
coragem de reconhecer o sofrimento dos aposentados do INSS, tampouco terá
coragem de enfrentá-los com justiça. É preciso perguntar: até quando o Estado
brasileiro vai tratar seus cidadãos honestos como a última linha da planilha de
custos?
O silêncio de Lula não é só incômodo, é revelador.