Em entrevista ao programa Sem Rodeios e à coluna Entrelinhas, o deputado Ricardo Salles (Novo-SP) comentou sobre a conquista das 41 assinaturas necessárias para o andamento do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes no Senado. Ele criticou a postura de parlamentares que se dizem de oposição, mas votam com o governo, como Ciro Nogueira e Romário. Ele também afirmou que o próximo passo depende exclusivamente do presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre. Salles ainda detalhou os acordos recentes no Colégio de Líderes da Câmara e o apoio do Centrão à pauta da anistia.
Entrelinhas: Após a coleta das 41 assinaturas no Senado para o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, o senhor está otimista em relação aos próximos passos? Ricardo Salles: Foi difícil conseguir as 41 assinaturas. Tem muita gente no Senado que hesita porque não tem a liberdade para tomar decisões, às vezes tem processos no Supremo. Mas o Senado finalmente coletou as assinaturas. Alguns se recusaram a assinar, outros disseram que iam assinar e não assinaram. É importante até para a sociedade brasileira a gente ser coerente com aquilo que propaga — diferente daqueles que ficam só no discurso. A primeira fase de formalidade de assinaturas foi cumprida. Agora, cabe ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, dar o passo seguinte, que é a instalação da comissão que analisa a abertura de processos de impeachment.
Entrelinhas: O senhor já havia alertado sobre o posicionamento de Alcolumbre ainda na eleição para a presidência do Senado, certo? Ricardo Salles: No começo do ano, no início dessas legislaturas, tanto na Câmara quanto no Senado, nós discutíamos as candidaturas. Eu defendi que o Davi Alcolumbre não deveria ter o voto da direita. Era contra aquele argumento: “Ah, ficamos sem comissão, ficamos sem isso, ficamos sem aquilo”. Vom a eleição do Davi Alcolumbre, o PL ficou com a primeira vice-presidência, é verdade, mas com um senador que é governista, que vota com o governo, que ajuda o governo. Basta olhar as votações do Eduardo Gomes para perceber que ele é governo. Ele é PL só na etiqueta. E o Davi Alcolumbre, então, mais ainda. Então, como ele é governo, eu acho que essas 41 assinaturas vão ter muita dificuldade em se converter no passo seguinte, que depende exclusivamente do presidente do Senado.
Entrelinhas: O senador Ciro Nogueira, do PL, justificou não assinar o pedido de impeachment dizendo que não haveria os 54 votos finais. Como o senhor vê essa posição? Ricardo Salles: O Ciro é amigo do Alexandre de Moraes. Então, na medida em que ele é amigo, dificilmente você vai convencê-lo a assinar esse impeachment. No primeiro momento, ele disse: “Vou assinar por último, porque aí consigo obter a assinatura de outro senador”. Quando chegou a vez dele de assinar, ele falou: “Não, não vou assinar”.
Entrelinhas: E o caso do senador Romário, também do PL? Ricardo Salles: O Romário é do governo, 100%. A crítica que eu faço, fiz lá atrás, o pessoal brigou comigo, mas é verdade: o PL, se quiser ser o maior partido de direita do Brasil, tem que pegar os caras que não são de direita, são governo, votam com o PT, e expulsar. Como é que pode querer ser o maior partido de direita do Brasil com um monte de gente que vota no PT e é base do governo? Não tem cabimento.
Entrelinhas: E na Câmara? A pauta da anistia finalmente vai avançar? Ricardo Salles: O acordo foi entre os líderes dos partidos que agora passam a apoiar essas duas pautas: a pauta do fim do foro por prerrogativa de função e da anistia. Quais são os partidos que já votaram? Novo e PL. Quais os que passam a apoiar? PSD, União e PP. Esses cinco partidos juntos têm 261 votos, suficientes, portanto, para que, no Colégio de Líderes, esse assunto seja aprovado e pautado. Esse acordo parte do compromisso e da atitude que vem sendo tomada pelo Hugo Motta, desde o início da sua presidência na Câmara, de que, havendo maioria no Colégio de Líderes, ele acata a decisão por pautar os assuntos.
Entrelinhas: Por que não houve um acordo direto com o presidente da Câmara? Ricardo Salles: Porque o Motta estaria, de fato, reconhecendo que a ocupação da oposição na mesa diretora gerou resultou nesse acordo. Então, para não perder a sua autoridade, ele diz: “Olha, o acordo não é comigo”. O acordo é com os outros presidentes de partido, e ele vai respeitar a tradição, essa forma de conduzir a reunião de líderes, e, portanto, pautará.
Entrelinhas: Depois dessas manifestações, ficou um saldo positivo em relação aos parlamentares de centro? O Centrão agora está mais alinhado com a oposição? Ricardo Salles: O Centrão é muito fluido. O Centrão se pauta pelos seus próprios interesses. Isso é a tradição do Centrão, sempre foi assim. Então, ele se pauta pelas vantagens que pode colher, pela pressão da opinião pública e por pressões jurídicas. Na quarta-feira, as principais lideranças do Centrão na Câmara, não no Senado, se inclinaram mais para o nosso lado. E, como eu disse, essa turma flutua como horta no vento: para o lado que o vento soprar, ela vai.