O ministro Luiz Fux lavou a alma do brasileiro uma vez mais em seu voto nesta terça, absolvendo todos do núcleo 4, ou "núcleo da desinformação". Como "desinformar" não é crime no Brasil, absolver todos era a única postura aceitável de um juiz. Fux disse certas verdades na cara de seus pares. Ainda que óbvias, em tempos sombrios dizer o óbvio é um ato de coragem.
Fux pediu também para sair da primeira turma. Deve ter cansado de conviver com colegas tão ativistas, dispostos a tudo para pegar Bolsonaro e seu entorno. Esperamos apenas que Fux não pegue um avião tão cedo...
Mas o que gostaria de destacar aqui é a resposta que Fux deu a Alexandre Moraes sobre as urnas eletrônicas. O ministro lembrou que, em 2014, o PSDB, partido do próprio Moraes, entrou com pedido no TSE para fazer uma auditoria nas urnas, e o tribunal, "sabiamente", concedeu. Os auditores, depois, alegaram que era impossível auditar as urnas.
"Moraes já alertou: 2026 vem aí e é melhor ninguém se "engraçar": fiquemos todos em absoluto silêncio diante da urna mágica. É compreensível Fux querer sair da primeira turma, não é mesmo?"
A lembrança de Fux derruba a narrativa tosca de Moraes sobre a "sacrossanta" urna. Segundo o Moraes de hoje, "atacar" a urna não é liberdade de expressão, mas sim crime. Ele só não aponta qual ou onde isso está definido, claro. Em qualquer democracia, afinal, questionar ou criticar o processo eleitoral é parte inerente do regime de liberdade.
No passado recente, vários "atacaram" as urnas, muitos pela esquerda. Lula, Ciro Gomes, Requião, Flávio Dino e tantos outros já criticaram nosso processo eleitoral opaco, que é uma jabuticaba: basicamente só o Brasil utiliza um modelo tão centralizador e sem voto impresso. Países bem mais desenvolvidos rejeitam tal modelo, e a Corte Suprema da Alemanha rechaça esse método por inviabilizar o escrutínio público do voto.
No Brasil alexandrino, porém, virou crime desconfiar das urnas e externar isso. O PL recebeu multa milionária, com o número de Bolsonaro (R$ 22 milhões) para dar requintes de sadismo, só por contestar o resultado e pedir auditoria. Somos obrigados a sentir orgulho nacional da caixinha "sacrossanta".