test banner
test banner

“É mais fácil ali nos Correios”

“É mais fácil ali nos Correios” 

Graças às velhas, insistentes e corrosivas políticas de dilapidação das estatais, os Correios vêm a público anunciando que entraram, mais um vez, em estado de falência completa. Querer resultados diferentes usando os mesmos métodos dá nisso. Não é de hoje que tanto os Correios como outras estatais, submetidos às mesmas políticas de aparelhamento e razia, anunciam, uma após outra, que os prejuízos superam imensamente os lucros e não há reza forte que possa mudar o rumo dessa triste sina. Afinal, é para isso, justamente, que servem as estatais. Conhecendo o modus operante dos especialistas em vermelho, o balanço estranho seria se a estatal viesse a declarar algum lucro. Somente nesses dois anos de governo, mais de 550 agências franqueadas fecharam as portas por todo o país. Outras 38 foram fechadas pelo próprio governo. Para socorrer a estatal, o governo busca, com o aval do Tesouro, por bancos que possam emprestar R$ 20 bilhões de forma emergencial. Os bancos, obviamente, fogem desse tipo de negócio, pois sabem que a estatal prosseguirá submetida aos mesmos modelos de exploração tóxicos. 

Empresas públicas, a rigor, não entram na prática, em regime ou estado de falência e insolvência, pois contam com os recursos ilimitados dos pagadores de impostos. O governo sabe disso e, talvez, por essa razão, prossiga com sua política de controlar as estatais. O curioso é que os Correios e milhares de empregados ainda experimentam as consequências ruins advindas da quebra do fundo de pensão Postalis. A falência anunciada das estatais e o rombo dos Correios já eram dados com ceros, era só uma questão de tempo. 

No Brasil contemporâneo, a combinação de elevado poder estatal, modelos de gestão pouco transparentes e forte ingerência política tem se mostrado fatal para o desempenho de empresas públicas que deveriam servir ao interesse coletivo e abrigar especialistas em gestão. A crise dos Correios, cujos resultados do primeiro semestre de 2025 apontam para um rombo de cerca de R$ 4,3 ou 4,4 bilhões, acumulados entre janeiro e junho, é um dos casos mais emblemáticos desse declínio estrutural. Esse valor já supera o prejuízo total de 2024, ano em que a estatal registrou déficit de aproximadamente R$ 2,6 bilhões. No segundo trimestre de 2025, isoladamente, os Correios sofreram um prejuízo de cerca de R$ 2,64 bilhões, quase cinco vezes o valor negativo do mesmo período de 2024. Esse tipo de devastação financeira indica não apenas uma má fase conjuntural, mas problemas de fundo: modelo de negócio erodido, custos em aceleração, receitas em queda e, sobretudo, uma incapacidade de gestão. A receita líquida da estatal caiu de cerca de R$ 9,28 bilhões no primeiro semestre de 2024 para aproximadamente R$ 8,18 bilhões no mesmo período de 2025. As despesas gerais e administrativas saltaram de aproximadamente R$ 1,2 bilhões para R$ 3,4 bilhões. Além disso, houve crescimento expressivo de despesas financeiras e precatórios, que pesaram no resultado final. Do ponto de vista macro, o panorama das estatais federais como um todo é igualmente preocupante. Segundo o Banco Central do Brasil (BC), as empresas estatais federais acumularam déficit de cerca de R$ 5,52 bilhões no período janeiro-julho de 2025, um recorde para o conjunto da série histórica. Nos primeiros quatro meses de 2025, o mesmo conjunto já apresentava déficit de R$ 2,73 bilhões. 

Esses números geram duas reações automáticas e legítimas: a primeira é a constatação de que os recursos públicos estão sendo drenados, em vez de investidos em retorno para a sociedade. A segunda refere-se à pergunta: por que, apesar dos alertas e dos sucessivos resultados negativos, o ciclo não se interrompe? Por que tantas estatais continuam operando em regime de prejuízo persistente? A forte presença política e instrumentalização das estatais como ferramenta de poder: indicações políticas, larguíssimo quadro funcional, estratégias que privilegiam manutenção de rede ou de presença sobre eficiência econômica, além do fato de que muitas estatais têm na missão social o elemento central, o que exige equilíbrio difícil entre função pública e sustentabilidade financeira. A junção desses fatores acaba em “resultados diferentes com os mesmos métodos”, como já foi destacado em críticas públicas. 

No âmbito dos Correios, há ainda o agravante de que o governo federal tem buscado medidas de “socorro” para a empresa pública buscando valores emergenciais, que serão garantidos pelo Tesouro Nacional, por meio de buscas por linhas de crédito, o que evidencia que a estatal está, de fato, em “estado de falência” operacional, na medida em que depende de recursos públicos para manter funcionalidade. 

A frase que foi pronunciada: “Eu estou coletando assinaturas para a abertura de uma CPMI dos Correios” (Deputado Zé Trovão) 


Circe Cunha e Mamfil –  Coluna “Visto, lido e ouvido” - Ari Cunha - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil (12.mar.2018) - Deputado Zé Trovão. Foto: camara.leg - Correio Braziliense 

1 Comentários

Postagem Anterior Próxima Postagem