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O paradoxo da moradia popular: direito conquistado, responsabilidade ignorada

 

O paradoxo da moradia popular: direito conquistado, responsabilidade ignorada 

A conquista da casa própria, seja fruto de políticas públicas ou não, é um marco na vida de muitas famílias brasileiras. Programas de habitação popular visam garantir um direito básico — o direito à moradia digna — e, ao entregar casas organizadas e com infraestrutura mínima, o Estado busca não apenas abrigar, mas também oferecer condições de vida com mais dignidade. 


No entanto, um caso específico ganhou destaque nos últimos dias e mostra uma particularidade que ocorreu em Diadema, São Paulo. Em uma foto de 2019, eram mostradas algumas casas entregues pela prefeitura a moradores locais na época: todas pintadas, coloridas, com cozinha integrada, lavanderia, dois quartos e um banheiro, murais artísticos, horta comunitária e uma calçada com jardim.

 

Porém, com o passar dos anos, tudo isso mudou. Pouco tempo depois, essas casas se transformaram em tijolo cru, gambiarras e caos, e o passeio que existia foi completamente tomado pelas obras de extensão, impossibilitando que a população tivesse segurança e, principalmente, que idosos e pessoas com deficiência tivessem acessibilidade. 


Fui um entre os vários que comentaram esse fato, destacando que isso não se trata de economia: trata-se de caráter, cultura e espírito. Enquanto não entendermos que a decadência começa dentro do homem — um espírito adoecido que repele ordem e beleza — seguiremos assim. Mas, claro, dependendo de quem exponha certos fatos, a esquerda se incomoda e passa a tentar levantar diversas narrativas. 


Transformaram um questionamento básico, que trata inclusive de algo que prejudica as minorias, em um debate sobre pobreza e inventaram uma série de desculpas para justificar o erro, inclusive com base nas leis brasileiras. 


Se a esquerda tanto gosta do frágil argumento de “lugar de fala”, neste caso nem podem contra-argumentar. Eu conheço bem a realidade das pessoas e das comunidades, já que nasci, cresci e continuo frequentando a favela onde vivi, inclusive onde fica a igreja em que congrego.

 

Enquanto os moradores daqui estavam presos em casa durante “a maior quarentena do mundo”, em Belo Horizonte, fui eu (não a esquerda) quem mostrou a realidade de quem não tinha condições de alimentar a família ou pagar as contas. 


A realidade de muitos que moram em comunidades é, sim, difícil. Porém, para nós, isso nunca foi — e não pode ser — motivo para fazer algo errado ou ilegal. Se um belorizontino constrói sua casa ou abre seu comércio, há uma série de normas a serem cumpridas, muitas delas rigorosas, principalmente no que se refere às calçadas, que devem ter espaço, sinalizações e estar livres de obstáculos.

 

Um veículo de esquerda tentou colocar alguns habitantes da comunidade de Diadema contra mim, mas, no fim, foi o próprio blog a ser duramente criticado por tentar transformar algo inaceitável em mais uma tentativa de ataque político. Uma das moradoras destacou a questão da quantidade de impostos pagos ao Estado e, nesse ponto, concordo totalmente. 


Exatamente por isso, temos que ter responsabilidade com aquilo que foi entregue por meio de impostos, que dispararam justamente no governo Lula, a quem os mesmos que tentaram me atacar defendem de forma cega, mesmo com os brasileiros sendo prejudicados pelo desgoverno de desequilíbrio fiscal e populismo eleitoral barato. 


É compreensível que, com o crescimento das famílias e novas necessidades, haja o desejo de ampliar o espaço da moradia. Mas é preciso responsabilidade. Quando uma casa financiada ou doada pelo Estado se transforma em um canteiro de obras improvisado, com fachadas inacabadas e calçadas invadidas, a qualidade de vida da vizinhança também é afetada. Mais do que uma questão estética, trata-se de respeito ao investimento público. 


"Que imagem estamos transmitindo ao transformar uma conquista coletiva em um espaço de desorganização?"

 

Até que ponto o exercício do direito à propriedade pode ignorar as regras de convivência urbana e os limites do espaço público?

 

Entendo que muitos agem por necessidade real, sem orientação técnica ou apoio continuado do Estado, mas é urgente repensar os programas habitacionais para incluir educação urbanística, acompanhamento técnico e uma cultura de valorização da moradia. 


O fato de eu ser oriundo da Cabana do Pai Tomás não me impediu de ver Roger Scruton destacando a importância do “belo”. Esse documentário moldou minha visão e certamente moldará a sua. A beleza importa! 



Nikolas Ferreira - Foto: Henry Milleo/Arquivo - Gazeta do Povo 


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