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(Morte do tenente-coronel) » Planejamento, frieza e mensagem na internet

Acusada de mandar executar o marido, Cristiana Cerqueira lamentou a morte do tenente-coronel nas redes sociais, horas depois de o militar ser encontrado morto. Familiares dizem que ela não aceitava a separação. 

Caso vai a júri popular
Doze horas depois de o tenente-coronel do Exército Sérgio Murillo Cerqueira Filho, 43 anos, ser assassinado com um tiro na têmpora, Cristiana Osório Cerqueira, 43, postou em uma rede social um lamento pela morte do marido. De luto, a dona de casa agradeceu o apoio de todos e pediu que o companheiro de 15 anos de casamento descansasse e fosse acolhido “pelos braços do Pai maior”. Menos de cinco horas depois da mensagem, ela e a irmã Cláudia Osório, 50, foram presas pela Polícia Civil sob a acusação de terem tramado a morte do oficial. Elas foram indiciadas por homicídio qualificado e apontadas como as mandantes do sequestro seguido de execução.

Local na 208 Norte onde os quatro acusados pegaram Sérgio e deixar Cristiana para trás, na madrugada da sábado

Segundo o inquérito, Cristiana e Sérgio Cerqueira estavam em processo de separação. Ela não aceitava a situação e temia perder o padrão de vida, segundo o relato de familiares e de policiais. A mulher teria contratado criminosos para assassinar o marido, com o objetivo de herdar uma pensão militar de aproximadamente R$ 10 mil. O processo foi distribuído ontem para o Tribunal do Júri de São Sebastião, cidade onde o corpo do oficial foi encontrado na madrugada de sábado. Cristiana, Cláudia e outras quatro pessoas, que teriam participado do assassinato do militar, responderão por crime contra a vida e serão julgadas em júri popular. Podem pegar uma pena de até 30 anos de prisão.


A família do tenente-coronel, que vive no Rio de Janeiro, ficou chocada com a suspeita sobre a mulher dele. Ao Correio, Marco Cerqueira, 38 anos, único irmão do oficial assasinado, disse que a relação entre ele e a mulher já não estava boa. Os irmãos se falaram pela última vez pouco depois da separação. “Perguntei se ele precisava de ajuda, inclusive financeira. Ele disse que não, que daria 20% do salário para a  mulher e ajudaria a filha”, contou. Ainda sobre a separação, o militar disse que Cristiana não estava disposta a procurar um emprego. “Perguntei se a Cris ia trabalhar. Ele contou que ela tinha dito, em tom de ironia, que achava que teria que roubar ou matar para sobreviver. Rimos no telefone, pois não imaginavámos que ela fosse capaz”, disse.

Nas redes sociais, imagens da carreira bem-sucedida do tenente-coronel e fotos de momentos felizes em viagens com a mulher e a filha - a última feita para os Estados Unidos, em dezembro
Durante o processo de separação, Cristiana perguntou aos familiares do marido como ficaria a situação financeira dela com o divórcio. Foi informada de que a filha teria direito a 20% do salário do militar, pois a pensão só valeria para a mulher se ela ficasse viúva.


A família do militar pretende lutar para que os envolvidos no homicídio permaneçam presos. Cunhada do tenente-coronel, Érica Tavares Cerqueira, 38 anos, disse que, desde o começo, os parentes da vítima não acreditavam na versão do sequestro. “Ficamos em comunicação com a polícia em Brasília. Quando descobrimos a verdade, ficamos todos chocados. Foi muito brutal. Queremos que a justiça seja feita”, afirmou ao Correio.


Frieza

A frieza de Cristiana e de Cláudia, depois do assassinato, espantou quem esteve com as irmãs. No apartamento em que Cristiana mora com a filha, de 13 anos, na 102 Norte, elas receberam apoio de amigos. A mulher do militar demonstrou ansiedade quando descobriu a prisão dos executores do crime, segundo o relato de uma pessoa que acompanhou o momento da notícia. “A filha chorava muito. Cristiana e a irmã se mostravam mais nervosas do que tristes”, contou a testemunha.

Até um mês atrás, quando o oficial iniciou processo de separação, o casal e a filha dividiam o apartamento na Asa Norte. Segundo pessoas ligadas à família, a adolescente era muito apegada ao pai. Os dois desciam juntos com frequência para passear com o cachorro da família. Na postagem que Cristiana fez lamentando a morte de Sérgio, a menina comentou. Pediu que o pai fosse para “um lugar bem melhor que esse país que nós vivemos”. Ainda pelas redes sociais, é possível perceber que o oficial oferecia uma vida confortável à família. Os três passaram o fim do ano passado na Disney. Cristiana publicou várias fotos ao lado da filha e do marido na viagem a Orlando, em dezembro. Meses antes, ela também postou uma foto ao lado do tenente-coronel. Desta vez, aparecem juntos, apenas os dois, em Gramado, no Rio Grande do Sul.

Na noite de sexta-feira, Cristiana pediu emprestado o carro de Cerqueira para levar a filha ao shopping. Deixou a menina de volta em casa e se encontrou com o oficial para que ele lhe desse uma carona. O veículo estava parado na 208 Norte, quando quatro pessoas abordaram o casal. Cristiana foi deixada no estacionamento e Cerqueira, obrigado a seguir com os bandidos. Imagens de um circuito interno de um dos prédios mostram a ação. Pouco tempo depois, o corpo do oficial foi encontrado em uma área rural de São Sebastião. O carro foi localizado com dois receptadores em uma casa na mesma região. Os quatro executores do assassinato, incluindo uma mulher, foram localizados em seguida pela Polícia Civil. A cunhada da vítima confessou a autoria do crime, depois de ser confrontada por policiais que encontraram, no telefone dos sequestradores, ligações para o celular dela, na noite do crime. 

O corpo do tenente-coronel foi liberado pelo Instituto de Medicina Legal (IML) de Brasília no sábado. Ele foi encaminhado para o Rio de Janeiro, onde o militar nasceu e tem família. Entre os envolvidos na execução do militar está Leandro Ceciliano, 27 anos. Ele já responde na Justiça por crimes. Em 2014, foi acusado pela mãe de violência doméstica. Também ganhou liberdade depois de ser preso por estelionato, há um mês. Responderão ainda por roubo do carro e homicídio Rodrigo Costa Sales da Paixão, 24, Lorena Karen Custodio Santana, 20, e Jorge Alencar da Silva, 21. Os envolvidos foram transferidos para o presídio da Papuda. As duas mulheres foram para a penitenciária feminina da Colmeia.

"Ele (Cerqueira) contou que ela (Cristiana) tinha dito, em tom de ironia, que achava que teria que roubar ou matar para sobreviver. Rimos no telefone, pois não imaginavámos que ela fosse capaz”
(Marco Cerqueira, irmão de Sérgio Murillo Cerqueira Filho)

"Ficamos em comunicação com a polícia em Brasília. Quando descobrimos a verdade, ficamos todos chocados. Foi muito brutal. Queremos que a justiça seja feita”
(Érica Cerqueira, cunhada de Sérgio Murillo Cerqueira Filho)

Sérgio Murillo de Almeida Cerqueira Filho: Paixão por hipismo
Apontado como gentil e boa-praça pelos amigos, Sérgio Murillo de Almeida Cerqueira Filho, 43 anos, era apaixonado por cavalos. Tenente-coronel do Exército Brasileiro, ele vivia em Brasília desde 2010, quando foi transferido com a mulher, Cristiana, e a filha, hoje com 13 anos. Carioca e mais velho de dois irmãos, pertencia a uma família de militares. O pai é coronel. Um dos tios, general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, foi presidente do Superior Tribunal Militar, entre março de 2013 e junho do ano passado, quando se aposentou ao completar 70 anos. Murillo, como era chamado pelos familiares, foi aluno da cavalaria no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Foi onde começou a carreira no hipismo. Estudava de manhã e treinava no período da tarde. Participou de provas, foi campeão e escolheu esse caminho como profissão. Fez prova para a Academia das Agulhas Negras (Aman) e se formou em 1993. Seguiu carreira na cavalaria do Exército. Era atleta de hipismo e adestramento. Pela experiência, recebia com frequência convites para atuar como juiz em provas em todo o país. Até um mês atrás, morava com a mulher e a filha em um apartamento na 102 Norte. Era conhecido por moradores e funcionários da quadra como um homem educado, simpático e muito atencioso. Cerqueira viajou para o Rio de Janeiro, onde mora a família, pela última vez em março. Atencioso com a filha, Juliana Maria, Sérgio Cerqueira era tido como um paizão. Mesmo separado da mulher, fazia questão de estar com a adolescente. Também cultivou muitos amigos. Pelas redes sociais, vários lamentaram a morte do oficial, lembrado como “gente boa”, “dedicado” e “amigo”. Durante o enterro dele, ontem, amigos de várias cidades se juntaram para prestar homenagem ao oficial. O corpo foi sepultado por volta das 15h, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

Cristiana Maria Pereira Osório Cerqueira: Família de militares
Carioca, Cristiana Maria Pereira Osório Cerqueira, 43, como o marido, pertence a uma família de militares. Cris, como é chamada pelos mais próximas, conheceu Sérgio no Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde estudaram na mesma época. O namoro começou tempos depois, quando o oficial terminou um outro relacionamento. Estava casada com ele há aproximadamente 15 anos. Não tinha profissão, segundo familiares da vítima, e vivia sob os cuidados do marido até um mês atrás, quando ele saiu de casa. Recentemente, começou a dar curso de scrapbooking — livros com recortes e montagens. Cristiana mantém um blog para divulgar o trabalho. Na página, além de postar fotos do material que produzia, fala um pouco sobre a vida pessoal. No perfil, escrito por ela, afirmou ser “casada com um grande companheiro e mãe de uma adolescente”. O relato diz que a decisão de ensinar a técnica foi tomada há cerca de dois anos, e justificou: “Precisava mudar minha vida. Minha filha já estava encaminhada e menos dependente e meu marido conquistando seus sonhos e realizações. Achei que a hora tinha chegado”.

Por: » Nathália Cardim - Kelly Almeida - Correio Braziliense 

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