Não
constitui surpresa o crescente descrédito dos políticos diante da opinião
pública. O desgaste tem razão de ser. Membros do Executivo e do Legislativo dão
mau exemplo. Praticam atos que deseducam as crianças e revoltam os adultos.
Longe de usar o mandato para servir ao povo, servem-se do mandato para servir a
si mesmos. A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) serve de exemplo.
Criada
pela Constituição de 1988, a CLDF veio ao encontro das expectativas dos
cidadãos. Os brasilienses teriam o direito que a condição de capital federal
lhes negava — escolher, democraticamente, o governador e os representantes
federais e distritais. Não só. Como começariam do zero, abria-se a oportunidade
de eleger um Legislativo moderno, em sintonia com as exigências da
contemporaneidade.
A decepção veio rápida. Em vez de Casa enxuta, voltada, de um
lado, para a fiscalização do Executivo e, de outro, para a melhoria da cidade e
da qualidade de vida dos moradores, o que se vê é a reprodução piorada das
gaiolas de ouro que se perpetuam pelas demais unidades da Federação. A mais
recente denúncia, divulgada ontem, apresenta mais uma razão para o desencanto e
a certeza da necessidade de mudança.
Trata-se do uso da verba indenizatória. Cada um dos 24
distritais dispõe de R$ 25.322,25 para despesas no exercício do mandato. São
valores independentes do salário. Destinam-se, entre outros, ao pagamento de
combustível, consultorias, imóveis, taxas, telefone, água, energia elétrica,
divulgação, aluguel de veículo de passeio ou de transporte coletivo.
Promotores da Defesa do Patrimônio Público e Social suspeitam
de irregularidade no uso do dinheiro público. Em 2014, os distritais gastaram,
só com combustível, em média R$ 1,5 mil por dia. É revoltante. Chegou a hora de
fazer o caminho de volta. A receita não apresenta mistérios. É aviada pelos
cidadãos sem dúvida ou contestação. Em vez do eu gasto, você paga, mude-se a
pessoa — eu gasto, eu pago.
Se o parlamentar não tem condições de arcar com a gasolina,
ande de ônibus. Se o gabinete de que dispõe na imponente Câmara Legislativa é
insuficiente, alugue salas com o próprio salário. Se o quadro de servidores da
CLDF — concursados e de confiança — não lhe atende à necessidade, tire do bolso
os meios para contratar profissionais disponíveis no mercado.
Além do
choque de realidade, a medida exibe qualidade adicional. Sem apoio artificial
ao mandato, que perpetua o deputado no poder, abrem-se as portas para a
necessária renovação dos representantes. Quem corresponder à confiança recebida
das urnas, será reeleito. Quem a trair, voltará para casa. Nada mais justo.
Nada mais democrático.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense