Lygia Fagundes Telles é a maior escritora viva do Brasil. Sua indicação
ao Prêmio Nobel de Literatura foi iniciativa feliz, lúcida e justa da União
Brasileira de Escritores (UBE). Para o nosso país, a concessão do prêmio à
autora de obras-primas como Ciranda de pedra, As meninas e As horas nuas seria
imensa conquista, à altura da qualidade e importância de nossa literatura, uma
das mais ricas, diversificadas e belas do mundo, mas que jamais recebeu
reconhecimento de tamanha envergadura.
Por isso,
a candidatura é muito importante para o país, para a nossa população, nossa
literatura e nosso setor editorial. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) apoia a
indicação de Lygia, que, aos 92 anos, é expressão do que há de melhor no
Brasil. Independentemente da decisão da Academia Sueca de Letras, a presença de
nossa escritora entre os indicados é ótima oportunidade para os brasileiros
conhecerem melhor nossa grande autora e o mundo saber quem é Lygia Fagundes
Telles. Também constitui estímulo ao hábito da leitura e ao surgimento de
escritores.
É
importante entender como funciona o processo de indicação e escolha dos
candidatos e do vencedor. A Academia Real das Ciências da Suécia, que promove pesquisas
científicas, é responsável pelos prêmios de física, química e economia. O
Instituto Karolinska, grande universidade de Estocolmo, indica os ganhadores em
medicina. A Academia Sueca de Letras escolhe o vencedor em literatura. E o
Comitê Nobel Norueguês, formado por pessoas indicadas pelo parlamento da
Noruega, é o responsável pela eleição e entrega do prêmio da paz. Essas
instituições enviam formulários a cientistas, professores e intelectuais de
todo o mundo, solicitando a indicação de candidatos cujo currículo e trajetória
são examinados por comitês de especialistas. São eles que, em cada um dos
quatro órgãos, elegem os vencedores.
Antes de
Lygia, outros brasileiros poderiam ter ganhado o prêmio, como os físicos Mário
Schenberg (que explicou a perda de energia nas supernovas) e César Lattes (que
comprovou a existência da partícula subatômica méson pi); o médico Carlos
Chagas (descobridor da doença que leva o seu nome); os escritores Carlos
Drummond de Andrade e Jorge Amado; e o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns,
indicado ao Nobel da Paz em 1990, quando o vencedor foi o Dalai Lama; Celso
Furtado (estudos sobre desenvolvimento econômico); o bioquímico Maurício Rocha
e Silva (que descobriu a bradicinina, importante para a controle da pressão
arterial); e Otto Gottlieb (que inventou um índice para medir a biodiversidade
de ecossistemas).
Tomara
que, em outubro, quando costuma ocorrer o anúncio dos ganhadores, em Estocolmo,
na Suécia, o Brasil receba, pela primeira vez, um Prêmio Nobel. Vamos torcer.
Seria fantástico que a inusitada conquista se desse no universo dos livros e
por meio da genialidade de Lygia Fagundes Telles. Nossa menina autora ganhou
três vezes o Prêmio Jabuti (1966, 1974 e 2001), promovido pela Câmara
Brasileira do Livro, o primeiro que recebeu em sua brilhante trajetória de
escritora e o mais importante do setor editorial brasileiro. Agora, tem tudo
para conquistar o maior do mundo, o Nobel de Literatura.
Sempre
desbravadora, foi uma das primeiras mulheres a se formar na Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo. Integrante da Academia Paulista de
Letras, da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa,
pode, mais uma vez, ser pioneira, dando o primeiro Nobel ao Brasil. Saiba,
porém, querida Lygia, que, para todos nós, você já é a maior, independentemente
do resultado final. Cabe-nos agradecer tudo o que já fez e ainda fará pela
literatura e o livro do Brasil.
Por: Luís Antonio Torelli - Presidente da
Câmara Brasileira do Livro (CBL) – Fonte: Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google